Origem: Revista O Cristão – Discipulado
O Discipulado Cristão
Os discípulos podiam, em certa medida, seguir o Senhor em Seu ministério terrenal, mas quando se tratava de seguir o Senhor quando Ele abriu o caminho Cristão e as bênçãos celestiais, ninguém poderia ir com Ele, pois esse caminho era através da morte e ressurreição. “Para onde Eu vou não podes, agora, seguir-Me, mas, depois, Me seguirás” (Jo 13:36). Pedro pensou que podia e disse: “Por que não posso seguir-Te agora? Por Ti darei a minha vida” (Jo 13:37). Ele, o líder dos doze discípulos, enquanto procurava seguir o Senhor, O negou, deixando-nos uma lição de fracasso quanto ao discipulado. Mais tarde, o Senhor disse a Pedro: “quando já fores velho, estenderás as mãos, e outro te cingirá e te levará para onde tu não queiras” (Jo 21:18).
Quando outro voluntário se ofereceu para seguir o Senhor, Ele respondeu: “As raposas têm covis, e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9:58). Seguir o Senhor naquela época tinha se tornado um caminho de rejeição, e não poderia ser feito por voluntariado. Nem era um caminho adequado para aqueles que ainda estavam esperando para enterrar seus mortos (v. 59) ou para aqueles controlados pelas reivindicações do lar (v. 61); todas essas reivindicações precisavam ser abandonadas para seguir o Senhor (v. 61). No entanto, o poder de seguir o Senhor é mostrado a nós na Palavra de Deus, mas devemos ir além do que nos é mostrado nos quatro Evangelhos para o ver.
O poder para passar pela morte
Há uma imagem da incapacidade do homem de seguir o Senhor até a morte, na distância que seria mantida entre a arca de Jeová e os filhos de Israel quando eles desceram pelo rio Jordão e entraram na terra de Canaã. Eles não deveriam se aproximar da arca, mas manter cerca de 2.000 côvados (920 metros) de distância dela. O poder para descer a morte só é possível para aqueles que têm uma vida além dela. Só o Senhor poderia atravessar as águas da morte e ressuscitar do outro lado. Não podemos fazer isso, mas depois podemos seguir em associação a Ele. Essa verdade de ser identificado com Cristo em Sua morte nos é revelada nas epístolas, particularmente em Colossenses. “Sepultados com Ele no batismo, n’Ele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que O ressuscitou dos mortos” (Cl 2:12). “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus” (Cl 3:1). Somente quando percebemos nossa posição como mortos e ressuscitados com Cristo, podemos, pelo poder do Espírito em nós, seguir o Senhor. Assim as exortações seguem em Colossenses: “Mortificai, pois, os vossos membros que estão sobre a Terra… despojai-vos também de tudo: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência… Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade” (Cl 3:5-12).
Nossa morte com Ele
Não é suficiente saber que Cristo morreu para nós, nós também devemos perceber que nós morremos com Ele. Assim como os filhos de Israel devem atravessar o Mar Vermelho e o Rio Jordão antes de entrar em Canaã, devemos entender que Cristo morreu por nós (Mar Vermelho) e que nós morremos com Ele (Rio Jordão). Isso é necessário antes que possamos nos apegar às coisas celestiais. Quando o Senhor desceu à morte e ressuscitou, o crente também morreu e ressuscitou com Ele. A vida do crente está n’Ele em glória, e essa vida ressurreta é necessária para percorrer o caminho Cristão.
Novamente isso é retratado no tempo de Josué quando Ele disse a respeito da arca: “Não vos chegueis a ela, para que saibais o caminho pelo qual haveis de ir; porquanto por este caminho nunca passastes antes” (Js 3:4). Se Pedro tivesse entendido o ensino dessas palavras, ele não teria tentado seguir o Senhor com sua própria força. Só podemos seguir o Senhor ressuscitado no poder da vida de ressurreição que temos em Cristo. Até que o Senhor tivesse morrido e sido ressuscitado, não era possível para qualquer um perseguir esse caminho.
Foi ensinado a Pedro uma lição sobre isso no momento de sua restauração pelo Senhor ressuscitado. O Senhor disse a ele: “Amas-Me? E disse-lhe: Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes que eu Te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as Minhas ovelhas” (Jo 21:17). E o Senhor disse a ele que alimentar Suas ovelhas seria a prova do amor e discipulado de Pedro.
Para segui-Lo até a morte, Pedro precisava do Senhor em ressurreição. Antes da cruz, ele não podia seguir o Senhor até a morte, mas agora o Senhor lhe diz: “Na verdade, na verdade te digo que, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias: mas, quando já fores velho, estenderás as mãos, e outro te cingirá e te levará para onde tu não queiras. E disse isso significando com que morte havia ele de glorificar a Deus. E, dito isso, disse-lhe: Segue-Me” (vs. 18-19).
Então, no final do Evangelho, quando Pedro diz a Jesus: “Senhor, e deste que será? Disse-lhe Jesus: Se Eu quero que ele fique até que Eu venha, que te importa a ti? Segue-Me tu” (vs. 21-22). Não é próprio para um discípulo dar ordens aos outros ou estar ocupado com o que eles devem fazer. A ocupação com outros não nos motiva a sermos bons discípulos. Um discípulo deve seguir o Senhor!
O discipulado Cristão
O apóstolo Paulo foi o escolhido de Deus para nos mostrar o caminho do discipulado Cristão. Ele, o principal dos pecadores, deveria revelar a verdade do lugar celestial onde o Homem Jesus Cristo ascendeu, e de nosso chamado celestial. Isso ele fez não apenas pelo ensino doutrinário, mas também por praticamente vivê-lo. Ele escreveu: “Mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação [vocação do alto – JND] de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3:13-14). “Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a Sua graça para comigo não foi vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus, que está comigo” (1 Co 15:10). “Porque penso que em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos” (2 Co 11: 5). Ele excedeu os outros apóstolos. Ele seguiu o Senhor mais de perto do que os outros. Ele realmente se apossou da verdade revelada a ele, e isso permitiu que ele fosse um bom discípulo.
O segredo do discipulado
Este é o segredo do discipulado hoje. Que olhemos para o céu e conheçamos a Cristo como Ele está agora lá, para ver o caminho que Ele andou para chegar ali e então segui-Lo. Esse caminho envolve sentir a Sua rejeição na Terra, tendo a sentença de morte em nós mesmos para todas as outras reivindicações, e desejando se render a Ele.
Não há reino na Terra para nós, pois o nosso é celestial. Devemos esperar com paciência para que ele se manifeste quando Ele vier. Há misericórdias temporais necessárias ao longo do caminho, que Ele provê de acordo com a Seu perfeito entendimento de nossas necessidades, mas essas coisas terrenais não são nossa verdadeira porção. “Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem, neste mundo, aborrece a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna. Se alguém Me serve, siga-Me; e, onde Eu estiver, ali estará também o Meu servo. E, se alguém Me servir, Meu Pai o honrará” (Jo 12:25-26).
