Origem: Revista O Cristão – Discipulado
OVínculo do Discipulado
Quebrando vínculos
“Se alguém Me serve, siga-Me” (Jo 12:26). Serviço não é realizar um grande feito, mas sim seguir o Mestre, e o mundo e os Cristãos de coração dividido não gostam disso. Existe muitas coisas para se fazer no mundo, mas “se alguém Me serve, siga-Me”.
No final de Lucas 9 o Senhor mostra como os vínculos com este mundo devem ser quebrados. Um homem disse: “Senhor, seguir-Te-ei para onde quer que fores” (v. 57), mas Cristo o põe a prova. Você não pode seguir se não quer ter a mesma parte d’Aquele que não tinha onde reclinar Sua cabeça, pois mais cedo ou mais tarde, para ter um lar neste mundo, você irá atrás das aves do céu para conseguir um ninho, ou às raposas para encontrar uma toca, ao invés de ir ao Filho do Homem. Esse homem não deveria vir a Ele agora como Aquele que tinha as promessas, mas sim como Aquele cuja porção era de completa rejeição. Segui-Lo não poderia ser acompanhado com facilidade e conforto aqui. Ele deveria ser entregue nas mãos dos homens. Em Seu nascimento, vemos a mesma coisa. Todos encontraram lugar na estalagem, exceto Ele, mas qualquer um que quisesse encontrar Aquele a quem os anjos celebram deveria ir para a manjedoura!
Vínculos para a morte e a vida
Ele diz para outro: “Segue-Me” (v. 59). O primeiro queria algo com Cristo, mas quando Ele diz: “Segue-Me”, então imediatamente uma dificuldade aparece, e é quando Ele chama um homem que as dificuldades são sentidas. Não havia senso de dificuldades com aquele que disse: “Senhor, eu Te seguirei”, sem ser chamado. Mas esse homem que é chamado diz: Deixa-me primeiro “enterrar meu pai”. Ele estava indo imediatamente, mas havia um vínculo que é sentido. Jesus diz: “Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos”; você precisa deixá-los para Me seguir. Você pode estar pronto para dizer que as coisas da Terra não têm poder sobre você, mas apenas prove o que é tê-las, e você aprenderá a extensão de seu poder. Um homem pode ir até o seu limite, mas quando ele chega ao fim ele é provado. Um pai tem uma reivindicação primordial na natureza, e especialmente para um judeu, mas Cristo diz, Eu estou te chamando para fora no poder da vida, estou colocando Minha reivindicação pela vida que Eu te dou, e isso quebra todos os laços aqui. É uma questão de vida no meio da morte. A palavra “primeiro” (deixe-me primeiro “enterrar meu pai”) mostra algo colocado antes de Cristo, como se o homem dissesse: “Há algo que eu coloco antes do Teu chamado”. A morte havia chegado e este mesmo apelo dizia a Cristo que todos estavam sob a morte. Era uma coisa certa para o homem enterrar seu pai, mas se a vida chegou e a questão é de redenção, de estar perdido ou de ser salvo, você precisa se entregar a isso. Na luz divina que está na cruz, Ele viu todos os mortos e, portanto, Ele disse: “Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos”. A única coisa a ser feita agora é seguir a Cristo. A questão é: Morte no mundo ou vida em Cristo? Onde estão suas afeições?
Meio ligado a Cristo
“Disse também outro: Senhor, eu Te seguirei, mas deixa-me despedir primeiro dos que estão em minha casa” (v. 61). No caso anterior, foi exatamente isso: Quando minhas primeiras afeições forem resolvidas, então eu irei e seguirei a Ti. Não há nada de bom nisso; o Senhor diz: “Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos”. Mas este caso mostra que no coração aqueles de sua casa não foram deixados. Ele sentiu que tinha que romper com eles, e no entanto seu coração hesitou. “Ninguém que… olha para trás é apto para o Reino de Deus”. “Lembrai-vos da mulher de Ló”. “O homem de coração dobre é inconstante em todos os seus caminhos”. Se Cristo não for o primeiro e o último, Ele será sempre o último, pois a fé não está em exercício.
Os vínculos afetivos e a vontade
A questão é se estamos caminhando, percebendo o que a cruz nos diz. A cruz levanta o véu, mostrando o esqueleto do mundo, e quando vejo essa sentença sobre tudo o que há no mundo, sobre o eu, e o que está no seu exterior e nos nossos vínculos afetivos com ele, aprendo que tudo deve ser abandonado, mas há o próprio Cristo e o amor que está n’Ele para ir de encontro a isso. Ele irá e deve julgar a si mesmo, e isso também traz à tona a vontade, pois há muita vontade própria em todo esse desvio da cruz. As pessoas podem falar das reivindicações de afeição, mas não é realmente e somente afeição familiar, mas no final o que é sentido é aquilo que está conectado com o ego. A afeição natural deve existir – na verdade, é um dos sinais dos últimos dias maus, os homens não ter tais afeições, mas se você tiver poder para julgar a si mesmo, descobrirá que muitas desculpas que você apresenta têm esse segredo no final. Assim, na aflição e no luto, não é apenas a afeição que é tocada, mas a vontade. Há doçura no sofrimento, desde que percebamos Cristo nele, e somente a afeição é o que entristece. Mas se a vontade é tocada, há rebelião, resistência, luta e tudo isso o Senhor deve julgar, pois a carne e o ego nunca podem seguir a Cristo. Que detalhe maravilhoso tudo isso é! É Deus passando pelo nosso coração entrando em todos os cantos e fendas. Por quê? Por causa da constante e inabalável firmeza de Seu amor, e como um pai ama seu filho quando é desobediente, assim como quando é obediente, assim nosso Deus Se esforça cuidadosamente, por assim dizer, com todos nós, mesmo quando somos maus.
O efeito de tudo não é apenas nos tornar justos na prática, mas felizes – “imitadores de Deus, como filhos amados”. É bom, por um lado, julgar a nós mesmos e ver o que há ali em nós e, por outro lado, ver a plenitude de Sua graça em Cristo.
Que o Senhor nos faça sentir cada vez mais que “a amizade do mundo é inimizade contra Deus” e que a energia da carne não pode realizar a obra de Deus, para que possamos aprender a trabalhar com as forças de Deus, para Deus e com Deus.
Selecionado e adaptado de Collected Writings, vol. 25: págs. 103-105
