Origem: Revista O Cristão – Dispensações
A Dispensação da Graça
Em outro artigo nesta edição de O Cristão, olhamos para as dispensações como sendo sete eras distintas no modo de administração e ordem de Deus neste mundo. Nessas distinções, incluímos o período da graça de Deus – o chamado período da Igreja, como uma dispensação. Isso completa a série de sete e se encaixa no caráter alternado das maneiras pelas quais Deus trabalha. No entanto, há aqueles que argumentam que, uma vez que as dispensações dizem respeito à Terra e uma vez que a Igreja é uma companhia celestial, este período da graça de Deus, quando a Igreja está sendo formada, não é propriamente uma dispensação. Isso requer alguma explicação, pois, em certo sentido, ambos os lados estão certos, e há coisas a serem aprendidas de ambos os pontos de vista.
O chamado celestial
Em primeiro lugar, devemos lembrar que quando a Igreja foi formada no dia de Pentecostes, era inteiramente Judaica, pois Deus estava dando aos Judeus mais uma chance de receber o testemunho de graça do Cristo ressuscitado em glória. Se eles, como nação, tivessem se arrependido e reconhecido Cristo como seu Messias, o reino teria sido estabelecido imediatamente. Pois, “Conhecidas são a Deus, desde o princípio do mundo, todas as suas obras” (At 15:18 – ACF). Sabendo que os judeus rejeitariam até mesmo essa oferta graciosa, Deus já havia proposto trazer para Sua Igreja aqueles de todas as nações, em grande parte gentios, para formar uma companhia celestial. Nesse sentido, o chamado celestial da Igreja não ficou claro até que Paulo recebeu o Mistério da Igreja do Cristo ressuscitado e, em seguida, pregou um evangelho muito mais completo do que o pregado pelos outros apóstolos anteriormente.
Paulo conhecia o Senhor apenas como um Homem ressuscitado na glória, e as revelações dadas a ele estavam todas relacionadas a um chamado celestial, bênçãos celestiais e uma esperança celestial. Como alguém observou: “O verdadeiro Cristianismo começa do outro lado da nuvem” (At 1:9). Nesse sentido, o período da Igreja é único entre todas as outras dispensações, mesmo aquelas no passado (consciência e promessa) em que as almas eram chamadas a andar separadas deste mundo, enquanto o mundo seguia seu próprio caminho.
A exibição completa da graça
No entanto, embora a Igreja seja uma companhia celestial, este período de tempo é a demonstração da graça de Deus para este mundo, e quer o homem aceite a oferta de misericórdia de Deus ou não, Deus é glorificado na demonstração daquilo que nunca foi visto antes da mesma forma – a glória de Deus em redenção. É claro que os indícios disso foram dados em todos os sacrifícios do Velho Testamento, mas a demonstração completa da graça e do amor de Deus não foi dada a conhecer até depois que a obra na cruz fosse consumada. Assim, Satanás não apenas cega os homens para o perdão de Deus; ele também cega os homens para “as boas novas da glória de Cristo” (2 Co 4:4 – JND), pois Deus é glorificado em Sua graça, mesmo que os homens a rejeitem. Assim, nesse sentido, o período da Igreja é uma dispensação e digno de ser incluído como tal.
O período da Igreja
Em outro sentido, no entanto, se quisermos entender a Escritura, devemos reconhecer, como já afirmamos, a posição única da Igreja. Por um lado, o período da Igreja nunca é reconhecido nem considerado no cálculo do tempo profético. É como se, quando o Senhor Jesus morreu, Deus “parasse o relógio do tempo profético” e não o recomeçará até depois da vinda do Senhor por nós, para nos chamar para casa. Uma vez que a profecia diz respeito a esta Terra e uma vez que a Igreja é uma companhia celestial, o tempo dela na Terra não faz parte da profecia. O fracasso em perceber isso causou uma confusão incalculável entre alguns na interpretação da profecia, pois procurar o cumprimento da profecia durante esse período da graça de Deus é um erro grave. Muitos continuam a fazê-lo e, em última análise, descobrem que as peças simplesmente não se encaixam. Às vezes, essa confusão resultante faz com que os Cristãos desacreditem completamente da verdade dispensacional.
Apressamo-nos a mencionar que temos o direito de ver “que se vai aproximando aquele Dia” (Hb 10:25), mas este é o dia do juízo, não o dia da vinda de nosso Senhor por nós. Deus pode preparar o palco, por assim dizer, para o que acontecerá depois que formos chamados para casa, e devemos ser inteligentes o suficiente para reconhecer isso. Sim, isso significa que a Sua vinda para nós está mais próxima, mas não é um sinal direto da Sua vinda para nós, nem é diretamente o cumprimento da profecia.
O Mistério de Cristo e a Igreja
Mas se a Igreja não é o assunto da profecia, o reconhecimento do chamado celestial da Igreja é absolutamente essencial para o entendimento da profecia. Quando Deus, por meio de Paulo, nos deu o entendimento do Mistério de Cristo e a Igreja – um Mistério (ou segredo) “que, desde os séculos, esteve oculto em Deus” (Ef 3:9) – a Palavra de Deus ficou completa. De acordo com Colossenses 1:25, Paulo disse: “estou feito ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir [completar – JND] a Palavra de Deus”. Paulo também pôde se referir ao “mistério de Deus; no qual estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (Cl 2:2-3 – JND). Como alguém disse apropriadamente: “Paulo nos dá a verdade da Igreja, na qual todos [os conselhos de Deus] são manifestados”. Assim, o entendimento de todos os propósitos de Deus está na revelação do Mistério de Cristo e a Igreja.
Se não entendermos o Mistério de Cristo e a Igreja, e do chamado celestial da Igreja, nada na profecia ou na maneira como Deus ordenou as dispensações fará sentido para nós. A Escritura será continuamente mal aplicada, e conclusões erradas serão tiradas dela.
Coisas que não são reveladas
Ao dizer tudo isso, podemos concluir que Deus não necessariamente respondeu a todas as nossas curiosas perguntas, nem nos deu os detalhes de tudo o que Ele irá fazer. Há algumas coisas que são claramente mostradas em Sua Palavra, mas os detalhes de como tudo acontecerá não são dados. Os homens (e queridos crentes também) pegaram essa falta de detalhes e a usaram para negar o que é claro e definido. Quando estamos tomando das coisas de Deus, devemos nos lembrar continuamente de não permitir que as coisas que não entendemos estraguem nosso gozo daquilo que entendemos. Devemos lembrar que “o espírito de profecia é o testemunho de Jesus” (Ap 19:10 – JND). Em Sua Palavra e por meio do conhecimento de Si mesmo e de “Jesus, nosso Senhor”, temos a certeza de ter “tudo o que diz respeito à vida e piedade” (2 Pe 1:2-3). Quanto ao mais, podemos ter certeza de que Deus operará Seus propósitos perfeitamente, em Seu próprio tempo e maneira, e que tudo o que Ele disse acontecerá.