Origem: Revista O Cristão – Dispensações

Dispensacionalismo

Muitos leitores de O Cristão já estão familiarizados com os termos “dispensações” e “dispensacionalismo”, mas talvez seja útil ver mais uma vez o que a palavra significa e por que ela é importante.

A palavra “dispensação” significa simplesmente uma “lei da casa” – um princípio que rege o funcionamento de uma casa. No sentido em que a Escritura usa o termo, refere-se a uma certa ordem ou administração das coisas neste mundo, por Deus, por um certo período de tempo. É uma maneira pela qual Deus lida com o homem em uma determinada era, e que é substituída, no seu fim, por uma administração diferente, de acordo com a soberania de Deus.

Essencial para entender a Bíblia 

A verdade dispensacional é essencial para um entendimento adequado da Bíblia. Um irmão idoso, agora com o Senhor, costumava dizer em tom forte: “Nunca conheci um homem que pudesse entender a Bíblia, a menos que visse nela os propósitos de Deus para a bênção da Igreja no céu e a bênção de Israel na Terra”. Isso é verdade, e a ideia popular hoje de fundir Israel com a Igreja só tem produzido confusão na mente de muitos Cristãos.

A pergunta pode muito bem surgir: Por que Deus agiu dessa maneira? Estaria Ele sendo inconsistente com Sua natureza e atributos ao agir de forma diferente com o homem em momentos diferentes? Por exemplo, teria sido inconsistente com Deus (falamos com reverência, odiando o próprio pensamento) que Ele dissesse a Israel para destruir seus inimigos com a espada, enquanto diz aos Cristãos agora para “amar seus inimigos”? Teria sido inconsistente com Deus encorajar um belo templo a ser construído por Israel no Velho Testamento, enquanto diz aos crentes no Novo Testamento que Deus “não habita em templos feitos por mãos de homens”? (At 17:24).

Não, Deus não é inconsistente. Mas, antes de tudo, devemos reconhecer que Deus “não dá contas de nenhum dos Seus feitos” (Jó 33:13). Deus tem a liberdade de agir como Lhe agrada e, como Suas criaturas, não podemos questioná-Lo ou criticá-Lo. Nosso lugar é reconhecer Seu poder e autoridade, e obedecer.

No entanto, a partir do tratamento de Deus com o homem nas várias dispensações, podemos ver que Suas variadas glórias são exibidas e que tudo isso também está conectado com a honra e glória de Seu amado Filho. Houve uma glória demonstrada na entrega da lei a Israel, mas outra glória, em Seu trato com o homem em graça, durante este tempo presente. Ainda outra glória será exibida quando o Senhor Jesus Cristo reinar em justiça em Seu reino, durante o Milênio.

Implicações para o nosso comportamento 

O reconhecimento das diferentes dispensações também tem sérias implicações para o nosso comportamento, pois, “conhecendo o tempo” (Rm 13:11) e agir de acordo com ele só é possível quando reconhecemos e entendemos a verdade dispensacional. A Palavra de Deus às vezes usa a palavra “perfeito”, não para descrever aqueles que são absolutamente sem culpa, mas sim aqueles que são maduros ou plenamente desenvolvidos. Eles entendem os caminhos de Deus com o homem no momento da sua vida, e adotam ações e um estilo de vida que está de acordo com os caminhos de Deus no momento. Por exemplo, Deus poderia dizer a Abraão: “Anda em Minha presença e sê perfeito” (Gn 17:1), e Paulo poderia dizer aos filipenses: “Pelo que todos quantos já somos perfeitos sintamos isto mesmo [tenhamos esse pensamento – JND] (Fp 3:15). Em ambos os casos, a palavra “perfeito” significa maturidade nas coisas divinas, mas a maturidade que Paulo esperava dos filipenses excedeu em muito a maturidade que Deus esperava de Abraão, pois eles viveram em dispensações completamente diferentes.

Alguns argumentaram que, embora a palavra “dispensação” seja usada várias vezes na Escritura, em nenhum lugar as dispensações são listadas, nem são sempre descritas em detalhes. Além disso, existem diferentes maneiras de olhar para as várias épocas da história do homem, dependendo de termos uma perspectiva ampla ou detalhada. Mais do que isso, as dispensações geralmente não começam e terminam exatamente num determinado momento. Embora os princípios de uma dispensação particular sejam definidos, uma dispensação muitas vezes se propaga para a próxima, ao longo de um período de tempo. Por exemplo, Deus deu aos Judeus, que foram salvos nesta dispensação da graça, tempo para se ajustarem à liberdade do Cristianismo. Eles estavam acostumados com a sujeição às leis e achavam difícil abandonar isso. Deus foi gracioso com eles e lhes deu 40 anos, antes de permitir que o templo deles fosse destruído.

Sete dispensações 

Uma maneira comum de olhar para as várias dispensações é dividi-las em sete – inocência, consciência, governo, promessa, lei, graça e reino. Se usarmos esse método, descobriremos que as várias dispensações se alternam em seu caráter. Em algumas, Deus afirma Seus direitos e controle sobre este mundo, e Ele exerce esses direitos por meio de um indivíduo ou nação que Ele levanta. Assim, sob Adão (inocência), Noé (governo), Israel (lei) e Cristo (reino), Deus afirma Seus direitos sobre este mundo. Em outras ocasiões, Deus não exerce Seus direitos imediatos, e Ele deixa o mundo seguir seu próprio caminho, enquanto levanta aqueles que andam diante d’Ele como peregrinos e forasteiros neste mundo. Assim, Sete e sua família (consciência), Abraão e sua família (promessa) e a Igreja (graça) foram chamados (e quanto à Igreja, ainda são chamados) a andar diante de Deus, abrindo mão da vantagem presente em favor do ganho futuro. No entanto, mesmo ao não exercer Seus direitos imediatos e permitir que o mundo siga seu próprio caminho, Deus sempre trabalha providencialmente nos bastidores para cumprir Seus propósitos, apesar da aparência de Ele não interferir no mundo.

Um teste para o homem 

Pode surgir a pergunta: Haverá um dia em que não existirá dispensações? Acredito que a Escritura nos mostra que, finalmente, esse dia chegará, mas será na eternidade, não no tempo. As dispensações foram feitas para uma cena temporal e deixarão de existir quando o tempo não existir mais. No Velho Testamento, o homem estava sob teste, pois Deus estava provando o homem, para ver se havia algum bem no homem como uma criatura caída. Nesse sentido, quando o homem crucificou o Senhor Jesus, seu teste acabou. No entanto, em outro sentido, cada dispensação é um teste para o homem, para saber se ele aceitará os princípios e o modo de administração de Deus para aquele tempo e andará diante de Deus naquela maturidade de que falamos. Infelizmente, o homem falhou em todos os sentidos que Deus escolheu para trabalhar com ele, e ele continuará em seu fracasso. Já vimos o fracasso de todas as dispensações, incluindo a da graça, e sabemos pela profecia que o futuro reino milenar também terminará em fracasso e juízo. Mas Deus ficará frustrado com os Seus propósitos? Ele deve ter para sempre o fracasso e o julgamento diante d’Ele, por causa da obstinação do homem?

Não, pois a obra consumada de Cristo na cruz já forneceu os meios pelos quais o pecado será removido para sempre de todo este universo. Deus nunca terá que olhar para o pecado ou lidar com ele novamente. No chamado estado eterno, após o julgamento final no grande trono branco (Ap 20:11-15), Deus queimará esta velha Terra, e os céus também, e criará novos céus e uma nova Terra, “em que habita a justiça” (2 Pe 3:13). Não nos é dado muito detalhe sobre esse dia, mas parece que as nações como tais não existirão mais, e o pecado nunca mais levantará a cabeça. O reino de Deus será então universal, encabeçado por Cristo, e tudo estará perfeitamente de acordo com a mente de Deus.

Finalmente – o reino final,
Sendo ele sem limites, sem fim,
Quando o céu e a Terra –
Deus tudo em todos
Com as maiores bênçãos se encherão.

Todas as raízes do mal banidas,
Nenhum sopro de pecado para murchar,
Na Terra – no alto –
Nada mais além de gozo,
E abençoada paz para sempre!

G. Gilpin

W. J. Prost

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