Origem: Revista O Cristão – Dispensações

Dispensações – Homem Sob Julgamento

Uma dispensação pode ser definida como um período no tempo no qual Deus Se manifesta ao homem em algum relacionamento específico, com respeito a provar a raça humana em todas elas. Gostaria de dar um breve esboço das várias dispensações, como as vemos na Palavra de Deus.

Inocência 

O que é um estado de inocência? Não é uma condição de ignorância, porque Adão tinha conhecimento, e que conhecimento era! Ele foi capaz de nomear todas as criaturas de Deus: “e tudo o que Adão chamou a toda a alma vivente, isso foi o seu nome” (Gn 2:19). Às vezes ouvimos a pergunta impensada: Deus não poderia ter criado o homem incapaz de pecar? Se Ele tivesse feito isso, o homem teria sido um mero autômato, incapaz de responder à mente divina, incapaz de virtude; em uma palavra, ele não teria sido um ser moral, mas uma mera criatura desprovida de personalidade. A inocência, portanto, não é um estado de virtude, mas um estado de nunca ter caído. Ela não é uma meta a ser alcançada; em vez disso, virtude, pureza, justiça e santidade são os valores que o Cristão em sua vida prática procura exibir. “Não que já a tenha alcançado”, diz o apóstolo, “mas prossigo para o alvo” (Fp 3:12-14). Adão foi criado inocente, mas não santo. Na queda, o homem perde tudo o que lhe foi confiado. A inocência está perdida; esse estado se foi para sempre. O conhecimento do bem e do mal vem em seu lugar.

Consciência 

O homem provado sob a consciência é o assunto da próxima era, e isso traz responsabilidade. O senso de responsabilidade está associado ao conhecimento do bem e do mal que o homem adquiriu com a queda. A responsabilidade não é um modo de pensar, mas a própria base de toda a moralidade. A consciência do homem é seu controlador que o acusa ou o desculpa. Não temos nenhuma proibição agora, como na era anterior, mas sim um controlador vivo, a consciência, “acusando” ou “defendendo – [desculpando – JND], mas nunca absolvendo. Esta era continuou desde a queda do homem até o dilúvio de Noé – cerca de 1.650 anos.

Governo 

Adicionado à consciência, que sempre permanece, agora temos governo. A transição é marcada pelo estabelecimento do concerto de Deus com a criação: “O Meu arco tenho posto na nuvem; este será por sinal do concerto entre Mim e a Terra” (Gn 9:13).

O governo agora é introduzido, cujos princípios inflexíveis são estabelecidos em Êxodo 34:7. Que o homem ouça este pronunciamento divino: “JEOVÁ, o SENHOR que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniquidade, e a transgressão, e o pecado; que ao culpado não tem por inocente; que visita a iniquidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos até à terceira e quarta geração”. A espada da justiça, como um meio de restringir a humanidade caída, é colocada nas mãos de Noé. Esse princípio logo se desenvolve no que conhecemos como governo civil.

Adão dominava a criação inferior e Noé dominava sobre o homem, bem como sobre a criação animal. Gênesis 9:6 agora se torna o código penal para a punição da violência humana: “Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado” (Gn 9:6). Essa dispensação durou desde o dilúvio de Noé até o chamado de Abraão – cerca de 425 anos.

Chamado e promessa 

Os primeiros raios de uma nova luz, isto é, eleição soberana e graça incondicional, são as próximas revelações do coração de Deus para o homem. Deus começa outro caráter de provação da raça humana. Abraão vem diante de nós como o primeiro herdeiro da promessa. “Pela fé, Abraão, sendo chamado, obedeceu” (Hb 11:8). Mas logo depois vemos que essas bênçãos prometidas foram perdidas para os filhos de Abraão por mais de 400 anos, enquanto eles gemem sob os capatazes do Egito. Isso, no entanto, não anulou o concerto divino, embora no que diz respeito à prova, a era terminou quando o povo trocou a graça pela lei no Sinai (veja Êx 19:8). Uma dispensação tem a ver com provas; um concerto tem a ver com os propósitos imutáveis e eternos de Deus.

Essa dispensação, com essas revelações adicionais dos caminhos de Deus, se estende de Gênesis 12:1 a Êxodo 19:8, um período de 430 anos, mais ou menos. Nesse período, temos a história de Abraão, Isaque, Jacó e José, cujas histórias de vida nos fornecem muitas belas figuras.

Lei 

No Sinai, Israel aceitou voluntariamente a lei e renunciou ao favor incondicional e à graça divina. Mas Deus não falha com Seu povo que falha; Ele sempre tem um recurso à mão. A lei não cancelou o concerto de Deus com Abraão e, portanto, Israel ainda é “amado por causa dos pais”. A lei entrou como uma medida disciplinar, até que a “Semente” viesse. Ela nos serviu de “aio” até Cristo. “Foi ordenada por causa das transgressões” (Gl 3:19). Essa dispensação abrange um período de aproximadamente 1.500 anos, estendendo-se de Êxodo 19 até o fim de Malaquias.

É um relato das relações de Deus com Seu povo Israel, os depositários de Seus conselhos naquela época. A prova em um novo relacionamento agora começa com uma nação especialmente favorecida em vista. Em Êxodo 19:5, temos o primeiro “se” no relacionamento de Deus com o Seu povo: “se diligentemente ouvirdes a Minha voz e guardardes o Meu concerto, então, sereis a Minha propriedade peculiar dentre todos os povos”. A pura graça, sem a mistura da lei, agora havia acabado. A consciência e o governo ainda continuam, mas com o homem sob uma responsabilidade acrescentada.

Chegando então à encarnação de Cristo, descobrimos que Deus encerra o longo período da “Lei” em julgamento. “Eis que a vossa casa vos ficará deserta desde agora, Me não vereis mais, até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor!” (Mt 23:38-39).

Graça 

O Novo Testamento começa com aquele mistério inescrutável, a Encarnação. “grande é o mistério da piedade: Deus Se manifestou em carne” (1 Tm 3:16 – ACF). “E o Verbo Se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1:14). O Filho de Deus, gerado no tempo, é um fato e uma verdade à parte, ou melhor dizendo, adicional ao Seu relacionamento eterno com o Pai, muito antes de qualquer obra da criação ser realizada. “Este é o Meu Filho amado” – o Filho eterno é reconhecido e selado também como Filho do Homem (veja Mateus 3:16-17).

O Novo Testamento, então, é a abertura desse período do qual falamos como a dispensação da graça de Deus. Na verdade, é mais do que isso, pois a história da responsabilidade do homem foi encerrada na cruz, e agora entramos no terreno da graça soberana. Deus permitiu que as eras passassem (nas quais o homem foi posto à prova e nas quais teve tempo de mostrar o que é) sem ainda realizar Sua obra da graça.

Esta prova do homem serviu para mostrar que ele é mau por natureza e por vontade. A multiplicação dos meios de teste de Deus apenas tornou mais evidente que ele era essencialmente mau de coração, pois ele não se valeu de nenhum desses meios para se aproximar de Deus. Pelo contrário, sua inimizade contra Deus foi totalmente manifestada.

Esta dispensação começou com o dia de Pentecostes, em consequência da ressurreição e ascensão do Senhor Jesus, e terminará com a Sua vinda para os Seus santos. Já foi mais longa do que qualquer outra dispensação – uma demonstração real do amor e da graça de Deus.

Reino 

Ao começar o Milênio, ele substitui os quatro domínios gentios, que começaram com Babilônia e Nabucodonosor. É a era do reino, quando a justiça reina. “E todos os do teu povo serão justos” (Is 60:21). Sem dúvida, o núcleo de pessoas com o qual este período começa, em razão do Espírito derramado, será caracterizado por uma genuína conversão (Is 4:3; Ez 36:24-27).

A criação “será libertada da servidão [cativeiro – ARA] da corrupção” (Rm 8:21). Será o repouso que resta para o povo de Deus (Hb 4:9), cuja plenitude será desfrutada na eternidade. O Salmo 72 prevê esse tempo de paz, durante o qual Satanás está preso no abismo.

Um Rei, o Filho de Davi e Senhor de Davi, reina sobre a cena em justiça. O reino nunca será movido nem dado a outro povo, mas durará enquanto existirem reinos.

O Milênio é a última dispensação. É a prova final do homem em responsabilidade, sob o domínio da justiça perfeita, pois então “reinará um Rei com justiça” (Is 32:1).

R. B. Wallace (adaptado)

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