Origem: Revista O Cristão – Nazireado

O Divino Caminho de Unidade

Deus está trabalhando em meio ao mal para produzir uma unidade da qual Ele é o centro e a fonte, e que reconhece, de forma dependente, Sua autoridade. Ele ainda não faz isso pela remoção judicial dos ímpios, mas Ele não pode unir-Se aos ímpios nem ter uma união que os beneficie. Como então pode ser essa união? Ele separa os que são chamados do mal para Si mesmo. “Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos e Eu vos receberei e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso” (2 Co 6:17-18). Como está escrito: “Neles habitarei e entre eles andarei” (2 Co 6:16). Aqui temos isso claramente exposto. Essa era a maneira de Deus reunir; Ele não poderia ter reunido verdadeira unidade ao Seu redor de outra forma. Uma vez que o mal existe (sim, ele é nossa condição natural), não pode haver união da qual o Deus santo é o centro e poder, a não ser pela separação do mal.

O grande princípio da energia do Espírito de Deus em nós, enquanto passamos pelo deserto, é trazido à tona no livro de Números. Em Números 6 temos a separação positiva para Deus na energia do Espírito Santo – “para o SENHOR” (v. 2). Assim, o Senhor Jesus, particularmente após Sua ascensão, pôde dizer: “e por eles Me santifico a Mim mesmo” (Jo 17:19), para que, pela energia do Espírito em nós, estejamos separados agora no deserto, andando de branco, mantendo nossas vestes sem manchas da carne. Novamente, o Senhor Se separou para que pudesse cuidar dos negócios de Seu Pai, e por isso Ele Se separou até mesmo dos “filhos de Sua mãe” (Sl 69:8), pois essa era a natureza – a carne, que pelo pecado estava sob o poder da morte. Ele ainda mantém o caráter nazireu, porque todos os Seus discípulos não estão ainda reunidos a Ele, e agora, em certo sentido, conosco também é separação do gozo – o “fruto da vide”; não devemos agradar ao nosso coração. Na glória será o grande espírito de descanso; não haverá necessidade de cingir o coração então. Agora, o efeito da energia do Espírito é cingir os lombos de nossa mente para que não sejamos contaminados, mas na glória deixaremos nossas vestes fluírem, porque não temeremos contaminação lá.

Separação do vinho – do gozo 

“De vinho… se apartará” (v. 3), isto é, do gozo. Pelo caráter de Sua vinda, o Senhor veio esperando encontrar gozo entre os homens, esperando encontrar uma resposta ao Seu amor no coração dos homens, mas não encontrou nenhuma, e assim foi um Nazireu desde o princípio. Ser nazireu é ser separado de toda afeição natural que pode ser tocada pela morte – ser separado para o Senhor. Nenhum mel poderia ser oferecido ao Senhor, e agora o Espírito é um novo poder que entra para nos desapegar de tudo o que é natural. O Senhor, cheio do Espírito para servir, disse à Sua mãe: “Mulher, que tenho Eu contigo?” Toda a natureza por causa do pecado passou a estar sob o poder da morte, por isso o nazireu “por seu pai, ou por sua mãe por eles se não contaminaráporquanto o nazireado do seu Deus está sobre a sua cabeça” (v. 7). Veja também Lucas 14:26. O vínculo natural do Senhor era com os Judeus como o Filho de Davi, mas Ele renunciou a tudo isso como natural, pois, “quando tira para fora as Suas ovelhas, vai adiante delas” (Jo 10:4). As afeições naturais vêm de Deus e, portanto, são boas em si mesmas, mas elas não conduzem a Deus, se ocupando com o objeto. João Batista era um nazireu desde o ventre. Paulo era um nazireu, e Jeremias também. Assim, somos nazireus, pois nosso próprio gozo pessoal está além da morte. Portanto, tudo o que eu renuncio aqui que tem cheiro de morte é apenas renunciar aquilo que impede a apreensão mais profunda do gozo e bênção daquela vida que está além do poder da morte. Na cruz, o Senhor quebrou o elo entre nós e o poder da morte. “Senhor, por estas coisas vivem os homens, E inteiramente nelas está a vida do meu espírito: Por isso restabelece-me Tu, e faze-me viver” (Is 38:16).

Santo para Deus 

“Todos os dias do seu nazireado santo será ao Senhor” (v. 8). Este é o grande princípio no nazireu – santo para Deus, e por menor que seja a medida em que ele alcance esse caráter, em Cristo o nazireado é perfeito. Tudo isso é algo distinto da inocência. Adão era inocente, mas não separado para Deus. A separação para Deus pressupõe um conhecimento do bem e do mal e, ainda assim, a separação do mal. Adão adquiriu o conhecimento do bem e do mal pela queda; o Espírito Santo veio para nos livrar desse mal. O Espírito é um poder totalmente novo, separando-nos para Cristo em glória agora que o mal e a vontade própria entraram. É algo muito difícil para nós conhecer o bem e o mal, pois por natureza estamos no mal – amando o mal e aborrecendo o bem. O Espírito Santo está agora nos livrando do mal, e aqui está a dificuldade – Sua energia em nós está nos guardando do mal enquanto passamos por um mundo de pecado e morte. Não podemos ser inocentes agora que o pecado entrou, mas somos santos em Cristo.

Se um homem morrer subitamente – contaminação 

“E se alguém vier a morrer junto a ele por acaso, subitamente” (v. 9) – um pensamento descuidado, e a comunhão é perdida naquele instante.

A morte chegou em tudo na natureza como o sinal do ódio de Deus ao pecado. O espírito da verdadeira devoção a Deus sempre foi perfeito em Cristo, mas ele é falho em nós. Onde quer que o velho homem atue, há o princípio da morte. Portanto, entramos na morte pelo tempo em que o velho homem está agindo. A palavra para nós é: “E os que são de Cristo crucificaram a carne com as paixões e concupiscências” (Gl 5:24), e novamente: “já vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos vestistes do novo” (Cl 3:9-10). Tudo isso é solene. Não apenas temos paz, mas, enquanto passamos por essa cena de pecado, precisamos ser mantidos santos e devotados a Deus pela energia do Espírito Santo em nós.

O cabelo crescido – força 

“Todos os dias do voto do seu nazireado sobre a sua cabeça não passará navalha” (v. 5). Se eu recuar da devoção a Deus, é verdade que o cabelo pode crescer novamente, mas a cabeça deve ser raspada rente, e o tempo perdido. Nesse caso, não é uma questão de pecado, mas de perda quanto à energia da vida. Uma árvore que foi muito mutilada e quebrada crescerá novamente; ela não foi morta, mas apenas ferida, porém sua estatura não será a mesma de uma árvore ilesa. É permitir que Satanás estrague e impeça a obra do Espírito. Sansão deixou seu coração entrar na fraqueza da natureza, e, quando deixamos a natureza entrar, nossa força se vai. Sansão, como um nazireu, era uma figura da energia do Espírito de Deus; ele revelou o segredo de sua força, e ela o deixou, e ele se tornou fraco como os outros homens. É verdade que, no devido tempo, sua força voltou e, com poderosa energia, ele ergueu os alicerces do templo. Se não formos cuidadosos e vigilantes em manter o segredo de nossa força em comunhão com Deus e o mundanismo e o pecado entrarem, nós mesmos podemos não estar conscientes disso, mas a verdade aparecerá quando nos levantarmos para agir – pode ser no serviço – e nos encontrarmos fracos como os outros homens. E quando estivermos em nossa fraqueza, como Sansão, o diabo arrancará nossos olhos.

O verdadeiro nazireu 

O Senhor foi o verdadeiro Nazireu, e Ele nunca Se afastou, em todo o curso de Sua caminhada, de Seu nazireado. Não foi uma coisa leve para Ele trilhar o caminho do sofrimento, mas Ele orou. No jardim, “estando em agonia, orava mais intensamente” (ARA) antes que a tentação viesse, e então vemos que Ele não parou; Ele não podia. Portanto, devemos primeiro passar pela provação com Deus, e então Deus estará conosco na provação. Pedro dormiu e não orou, e, quando veio a prova, ele a enfrentou na carne e desembainhou sua espada. Jesus havia orado para que o cálice passasse d’Ele, mas, quando os principais dos sacerdotes e os soldados chegaram, embora Satanás estivesse envolvido em tudo, Ele viu a mão de Deus e pôde dizer: “o cálice que o Pai me deu”. Então não foi tentação alguma, mas um ato de obediência.

Os versículos 13-21 mostram as ofertas a serem oferecidas. Tudo o que estava em Cristo é apresentado a Deus (v. 20), então realmente chegamos a Deus no poder desses sacrifícios, mas até que a Igreja seja reunida, o Senhor mantém Seu caráter nazireu.

J. N. Darby (adaptado)

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