Origem: Revista O Cristão – Doações Cristãs
Dar no Caráter da Graça
“Dá a quem te pedir e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes” (Mt 5:42). Neste verso, temos um grande princípio para o Cristão. Chega ao final da exortação para resistir não ao mal, mas sim para sofrê-lo. Cristo é o padrão para o discípulo, e nenhuma exposição sólida pode explicar a Sua Palavra de forma a distorcê-la, por mais desagradável que seja à carne e ao sangue. A nova natureza segue lealmente como a perfeita lei da liberdade, e somente a mente carnal procura evitá-la.
O discípulo aprende com Deus que ele é um devedor da graça, não apenas nas misericórdias externas de todos os dias, que ele compartilha com toda a humanidade, mas naquele amor ainda mais profundo que o vivificou quando ele era um filho da ira por natureza. Quer judeu ou gentio – não fazia diferença – todos estavam sem esperança diante de Deus. Aqueles, então, a quem Cristo Se dirige já provaram que o Senhor é bom. Em breve eles seriam trazidos à plenitude quando Ele morresse, ressuscitasse, subisse ao alto e enviasse o Espírito Santo para guiá-los em toda a verdade. O Senhor, tendo diante d’Ele a plenitude de graça que receberíamos, espera por nossa apreciação disso por fé e pela ação do Espírito Santo em nossa alma. Como Ele disse em outro lugar: “de graça recebestes, de graça dai” (Mt 10:8). É a mente do céu reproduzida na Terra – uma Terra cheia de repugnante egoísmo. Ninguém era mais caracterizado pela cobiça do que os judeus, que, tendo por algum tempo perdido seu lugar como testemunhas de Deus, procuravam uma desculpa para sua energia em amontoar riquezas. Não admira que almas tão abençoadas pela graça devam ser chamadas para uma caminhada inteiramente nova e uma adoração igualmente nova, ininteligível para aqueles que não entram no chamado e na esperança Cristãos. No entanto, o apóstolo diz claramente que “somos feitura Sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras” (Ef 2:10).
O caráter de Deus
Mas Cristo veio para salvar não apenas da ira, mas da ruína, não apenas da pena, mas do pecado, e de formar um novo caráter naqueles que ouvem Sua voz e O seguem. Era e só poderia ser Seu próprio caráter. Qual era o caráter daqueles como Sócrates, Antonino Pio, Gautama Buda ou Confúcio? Apenas sombras de vaidade ou orgulho, em comparação com Aquele que nunca fez a Sua vontade. Ele veio a esse mundo de pecado para Se entregar como sacrifício, trazendo assim Deus à cena e tirando o pecado para fora dela.
Portanto, como parte do processo espiritual, Ele imprimiria nos Seus o caráter da graça. Alguma vez houve uma necessidade, um desejo, um sofrimento apresentado a Ele sem uma resposta da graça e poder divinos, e em toda a ternura humana? Aquele que estava prestes a Se entregar a Si mesmo a Deus por nós, que bem ele reteve? O dinheiro era pouco demais para ser dado, salvo como um imposto do templo. “toma-o [de um banco estranho] e dá-o por Mim e por ti” (Mt 17:27). Daí as palavras em Lucas 6:38: “Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando vos darão. porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo”. É literalmente “ser-vos-á dado”, mas Lucas frequentemente declara as verdades impessoalmente, como está realmente apontando para Deus. Assim, Sua graça produz o mesmo nos outros.
Reproduzindo Sua graça
Sabemos que, se nos esforçarmos para reproduzir tal doação, em breve estaremos cansados. Somente Cristo deu o exemplo e somente Ele dá o poder. Antes que possamos pensar em dar nossos meios, devemos ter chegado a Ele, como aqueles que eram os mais necessitados de todos, para receber da Sua plenitude. Só então, quando O possuirmos como nosso tesouro infalível, teremos a fé e o amor para fazermos a nós mesmos “amigos com as riquezas da injustiça” (Lc 16:9). Só então poderemos dar com um olhar bom e simples e coração liberal, pois “Deus ama ao que dá com alegria” (2 Co 9:7). Ele é capaz de fazer com que toda a graça abunde para conosco, de modo que, tendo em todos os sentidos sempre toda a suficiência, podemos abundar em toda boa obra.
The Bible Treasury, vol. 4
