Origem: Revista O Cristão – Doações Cristãs

Doação Cristã

Meu querido irmão: Já que você pergunta como o assunto da doação Cristã é apresentado na Escritura, eu tentarei dar algo de como a questão foi trazida à minha mente na leitura das Escrituras. Muitos do povo de Deus têm pouco apreço pelo tema das doações Cristãs, embora ocupe um grande lugar na Palavra de Deus.

Embora muitos pareçam ter pouco ou nenhum exercício sobre dar, é reconfortante saber que há não poucos fiéis doadores abnegados que são abençoados por Deus em sua própria alma e que são uma bênção para os outros. Estes, na sua medida, são imitadores de Deus, o grande Doador, que não poupou o Seu próprio Filho, mas O entregou por todos nós e com Quem podemos contar, com Ele, também para nos dar livremente todas as coisas (Rm 8:32). É sabido por aqueles que observaram estas coisas que estes doadores liberais, em regra, são enriquecidos em sua própria alma, provando a verdade de Provérbios 11:25: “A alma generosa engordará [prosperará – ARA], e o que regar também será regado”. E é igualmente digno de nota que um Cristão que não dá está seco em suas afeições espirituais e, embora possa ter abundância de tesouros terrenais, sofre do que a Escritura chama de “magreza de alma” ou “definhar a sua alma”.

Israel e o Cristianismo 

É bom notar a diferença na ordem de bênção conhecida por Israel e aquela conhecida no Cristianismo no Novo Testamento. O Cristianismo se conecta com a rejeição, morte, ressurreição e ascensão ao céu do Messias. Enquanto nosso fiel Deus e Pai supre Seu povo agora com misericórdias à criatura, é em uma cena da qual Seu Filho foi expulso e onde Ele não permite que nos acomodemos com o pensamento de encontrar nossa bênção onde Seu Filho encontrou apenas uma cruz e um túmulo. Nossas bênçãos agora estão em Cristo e onde Ele está. Elas são espirituais e celestiais. De acordo com isso e tendo em vista Sua própria rejeição em Israel e no mundo, o Senhor disse a Seus discípulos: “Vendei o que tendes, e dai esmolas, e fazei para vós bolsas que não se envelheçam, tesouro nos céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão, e a traça não rói. Porque onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração” (Lc 12:33-34).

Quão abençoadamente isto foi realizado no início de Atos, quando todos os corações ainda estavam no frescor do amor de Cristo! “Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam suas propriedades e fazendas e repartiam com todos, segundo cada um tinha necessidade”. “Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido e o depositavam aos pés dos apóstolos. E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha” (At 2:44-45; 4:34-35).

Nenhuma exigência legal 

Não havia obrigação nisso. Não foi uma imposição legalista. Foi a oferta voluntária de corações tocados pelo amor de Cristo e energizados pelo poder do Espírito Santo. Com Ananias não foi assim, mas a ambição, talvez, de não estar por trás dos outros, e é em conexão com o seu caso que somos distintamente informados de que não havia obrigação. “Guardando-a, não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder?” (At 5:4).

Sem dúvida, houve um chamado especial naquele momento, por causa dos muitos milhares de pessoas detidas em Jerusalém pela maravilhosa obra de Deus. Mas por que não devemos manter todas as nossas posses como sujeitas à disposição do Senhor e ser usadas para Ele como Ele nos guiar? Nós mesmos somos do Senhor, comprados por um preço, e tudo o que temos é d’Ele, mantido por nós como despenseiros, para sermos usados para Ele e para Sua glória.

Cuidar dos servos do Senhor 

1 Coríntios 9:14 nos diz que “ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho”. Este é o mesmo princípio pelo qual os dízimos eram dados aos levitas. De fato, o contexto se refere a isso. O apóstolo não utilizou este direito para si mesmo, embora ele tenha recebido de algumas assembleias, mas ele o apresenta, como regra geral, como o que o Senhor ordenou. E, claro, isso coloca sobre os santos em geral a responsabilidade de cuidar daqueles devotados ao evangelho. Não há nenhuma questão de salário ou contratação, mas há a questão de cuidar de tais. O servo que se dedica ao serviço do evangelho ou serve nas coisas espirituais se coloca a si mesmo nas mãos do Senhor por seu apoio, espera n’Ele e conta com Ele. Mas o Senhor colocou sobre os santos a responsabilidade de pensar neles e a ministrar a eles seus bens, como o Senhor capacita e conduz. “E o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui” (Gl 6:6). “E não vos esqueçais da beneficência e comunicação, porque, com tais sacrifícios, Deus Se agrada” (Hb 13:16).

Quanto à responsabilidade geral da doação Cristã, sua importância pode ser vista no fato de que dois capítulos inteiros em 2 Coríntios são dedicados a ela – capítulos 8 e 9 – para não falar de muitas outras passagens sobre o assunto.

Uma mente disposta 

Quando examinamos essas Escrituras do Novo Testamento, apesar de vermos a mesma responsabilidade geral de dar, vemos também uma diferença marcante de muitas daquelas no Velho Testamento. Lá estava a lei – exigência legal – todos obrigados a dar de acordo com uma regra fixa. Aqui é a graça: “Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, por amor de vós Se fez pobre, para que, pela Sua pobreza, enriquecêsseis”. E assim, ao escrever aos coríntios, o apóstolo diz: “Portanto, assim como em tudo sois abundantes na fé, e na palavra, e na ciência, e em toda diligência, e em vossa caridade para conosco, assim também abundeis nessa graça”. Ele chama isso de “graça” porque é o fruto da graça no coração. E sendo graça, conecta-se com “uma mente disposta”. “Porque, se há prontidão de vontade, será aceita segundo o que qualquer tem e não segundo o que não tem”. Não é aqui uma cobrança legal de dez por cento, como nos termos da lei, que ele deve pagar, mas de acordo com sua disposição e capacidade. Há uma ponderação deliberada do assunto. O que posso dedicar ao Senhor? Quanto posso gastar? Quanto devo dar para esse propósito ou aquele? “Cada um contribua segundo propôs no seu coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria”.

De acordo com a lei, os dízimos eram cobrados independentemente se um homem estava disposto ou não a dá-lo; ele poderia dar de bom grado ou de má vontade. Mas aqui Deus conta com os corações que Ele tocou com Sua graça e espera que eles deem de bom grado e alegremente, deixando para o amor que Ele colocou nestes corações para dizer quanto será dado. Nada além disso irá satisfazer a Ele. Ele ama um doador alegre, e a menos que nós demos assim, Ele não quer a nossa doação.

Semeando generosamente 

Mas vamos aqui tomar cuidado, pois o engano de nossa carne miserável está sempre pronto para tirar proveito de Sua graça. Se quisermos gozar de abundantes bênçãos em nossas ofertas, devemos semear muita semente, pois está escrito: “Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância em abundância também ceifará”. Quantos estão secando em sua alma, porque semeiam pouco! O próprio Deus fornece a semente, e Ele Se deleita em nos ter semeando abundantemente, e também é capaz de dar “pão para comer, também multiplicará a vossa sementeira e aumentará os frutos da vossa justiça”. Por que, então, devemos dar de má vontade? Por que não dar com alegria e generosidade, contando com toda a graça d’Ele?

Colocando à parte os fundos 

Outro ponto de grande importância aparece em 1 Coríntios 16:2. Está ligado à mesma ocasião especial, mas nos dá um princípio geral sobre como agir em vista da doação. “No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade [como Deus o fez prosperar – KJV]. Aqui está providenciando uma reserva, que pode ser usada conforme as ocasiões surgirem. É como os dízimos anteriormente dedicados ao Senhor, mas em vista de serem dados aos levitas. Nosso dinheiro devotado é, portanto, reservado, e a partir dele podemos tirar para dar aos pobres, ou para espalhar a verdade em livros e folhetos, ou dar a um servo do Senhor para ajudar no trabalho.

Se os santos em geral agissem de acordo com esse princípio em fidelidade a Deus, tenho certeza de que a questão de dar seria grandemente simplificada, e haveria abundância nas reservas para as várias necessidades. Um querido irmão uma vez me disse que tinha uma bolsa que ele chamou de “a bolsa do Senhor”, na qual ele colocava o que ele habitualmente colocava de lado, e ele disse que nunca estava vazio. Havia sempre algo ali para tirar em tempo de necessidade.

Se os santos fielmente separassem no primeiro dia da semana, à medida que o Senhor os prosperasse, quantas preciosas reservas de dinheiro haveria para atender às muitas chamadas para dar! Quantos pobres e necessitados e provados seriam alegrados pelas generosidades do povo de Deus! Quantos servos do Senhor, prontos para desmaiar sob pressão, tomariam nova coragem e continuariam com corações agradecidos! E o Senhor não seria honrado? Não seria a nova bênção o resultado – as janelas do céu seriam abertas? Quem pode duvidar disso?

Dando liberalmente 

Não suponhamos, também, que, porque um décimo não é exigido, não importa se damos tanto ou não. Um décimo era a medida de Jacó e um décimo era a parte para os levitas, mas um israelita sob a lei tinha que dar muito mais do que isso para cumprir suas exigências. E por que um Cristão não deveria dar tão liberalmente? A graça não exige isso, mas se o coração está vivendo sob a luz do Sol do amor de Cristo, não entregará seus recursos de forma mais generosa do que sob a lei? Onde o israelita era fiel em dar, o Senhor o abençoou em seu cesto e em sua amassadeira. E enquanto a bênção do Cristão é de outra ordem, o Senhor honrará os que forem fiéis nessa responsabilidade.

Que o Senhor desperte a todos nós a dar, de acordo com a graça que recebemos, com nosso coração inflamado com o amor d’Aquele que nos amou e Se entregou a Si mesmo por nós, e em cuja presença e glória teremos em breve nossa porção, deixando para trás de nós tudo o que é da Terra e tudo o que não conseguimos dedicar a Ele, e encontrando, como tesouro acima, tudo o que foi dado a Ele.

Com afeto n’Ele

A. H. Rule, de uma carta

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