Origem: Revista O Cristão – Sal

Dois Fatos Solenes

“Porque cada um será salgado com fogo, e cada sacrifício será salgado com sal” (Mc 9:49).

Nesse breve versículo temos duas classes distintas de pessoas e dois fatos solenes trazidos à tona. Em primeiro lugar, é dito que “cada um será salgado com fogo”. E, em segundo lugar, que “cada sacrifício será salgado com sal”. Pode parecer um versículo bastante difícil de entender, mas é simples quando vemos o contexto em que nosso Senhor Jesus fala essas palavras.

Primeiramente nos é dito que “cada um será salgado com fogo”. Isso diz respeito a todos os homens, pois inclui até mesmo nosso bendito Senhor Jesus quando Ele estava neste mundo como um Homem. Aqui fala do sal como aquilo que testa tudo de acordo com o santo padrão de Deus e julga tudo sob essa luz. A afirmação traz as santas reivindicações de Deus diante de nós e nos lembra que “cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus” (Rm 14:12). Nesse sentido, nosso Senhor Jesus passou por testes no deserto, quando Ele foi tentado pelo diabo antes de iniciar Seu ministério terreno. Satanás fez todo o possível para fazer o Senhor Jesus pecar, a ponto de citar a Escritura para Ele. No entanto, nosso Senhor simplesmente respondeu a ele com a Escritura, e Satanás foi obrigado a se afastar d’Ele na ocasião, pois não podia atraí-Lo para o pecado.

Todo sacrifício salgado 

É por essa razão que lemos em Levítico 2:13 que “toda a oferta dos teus manjares salgarás com sal”. Nosso bendito Senhor teve que ser provado que era perfeitamente imaculado e sem pecado em Sua vida aqui embaixo antes que Ele pudesse ir à cruz do Calvário e sofrer a penalidade do pecado. Durante o Seu ministério terreno, Ele poderia dizer com confiança aos líderes judeus e às pessoas ao Seu redor: “Quem dentre vós Me convence de pecado?” (Jo 8:46). Ninguém aceitou o desafio, pois “n’Ele não há pecado” (1 Jo 3:5).

Quanto à humanidade, todos também devem ser salgados com fogo. Para aqueles que rejeitam Cristo como Salvador, esse fogo permanecerá por toda a eternidade — o terrível julgamento de Deus pelo pecado. O Senhor Jesus pôde solenemente advertir àqueles que O ouviram que no inferno “o fogo nunca se apaga”. Isso é repetido três vezes neste capítulo (Mc 9). O julgamento do pecado será eterno, e aqueles que continuam sem Cristo serão de fato “salgados com fogo” para sempre.

No entanto, o que dizer de tudo isso para nós que somos crentes? Não estamos salgados com fogo? Sim, estamos, e talvez possamos dizer que isso acontece de duas maneiras. Em primeiro lugar, todos podemos estar gratos por termos sido salgados com fogo na cruz, embora não em nós mesmos; tudo foi feito por nós na Pessoa de Cristo. Visto que todo verdadeiro crente está agora “em Cristo”, estamos onde o fogo já queimou. Não há mais nada para o fogo de Deus queimar, pois Cristo suportou todo o julgamento por nós. Como é precioso saber que o julgamento está atrás de nós e não à nossa frente! A santa natureza de Deus foi completamente satisfeita, e “agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8:1).

A prova da realidade 

Mas então, esse mesmo salgar com fogo tem um efeito sobre você e eu, pois o Senhor nos testa de tempos em tempos, a fim de provar a realidade da nossa salvação. Isso não significa, de modo algum, que possamos perder a nossa salvação; pelo contrário, o Senhor nos “salga com fogo” para provar que somos verdadeiramente salvos. Lemos isso em 1 Pedro 1:7 “para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória na revelação de Jesus Cristo”. Depois, em 1 Pedro 4:12, Pedro se refere à “ardente prova que vem sobre vós”. Essas provas são circunstâncias pelas quais o Senhor faz com que passemos, a fim de provar, por um lado, a realidade da nossa fé e, por outro lado, para nos purificar daquilo que não é d’Ele. Naqueles que são verdadeiros, o fogo só queima o que não é de Deus, enquanto que aquilo que provém de Si mesmo permanece. O Senhor quer que sejamos santos, pois Ele diz: “Eu Sou Santo”, e Ele muitas vezes nos “salga com fogo” para realizar isso em nós. Podemos ser gratos por essa purificação que o Senhor faz em nós, embora às vezes não seja agradável no momento. Todos sabemos como o sal às vezes pode arder e irritar, mas pode ser necessário.

Salgado com sal 

Mas agora chegamos à segunda parte do versículo: “cada sacrifício será salgado com sal”. Já apontamos como a oferta de manjares (farinha) deveria sempre ser salgada e como o Senhor Jesus, como a Verdadeira oferta de manjares, teve que ser salgado com fogo. Mas aqui, nesta segunda parte do nosso versículo, o significado é um pouco diferente. O Senhor Jesus foi de fato “salgado com fogo” antes de começar Seu ministério terreno, e isso era necessário para provar Quem Ele era. Mas então, quando Ele esteve entre os homens, vemos Sua vida como o sacrifício perfeito em submissão e serviço. Por essa razão, notamos que a frase diz: “salgado com sal”, não “salgado com fogo”. Cada passo de Seu caminho era uma manifestação de Deus em graça, mas também era “temperado com sal” (Cl 4:6). Suas palavras e Suas obras todas manifestaram Deus em graça, mas a santidade de Deus também foi apresentada. É por isso que Ele foi rejeitado, não por Sua graça, mas sim porque Ele podia dizer: “porquanto dele [do mundo] testifico que as suas obras são más” (Jo 7:7). O sal nunca faltou no sacrifício diário do Senhor Jesus, estivesse Ele no templo, com uma multidão na rua, sozinho com um indivíduo, com Seus discípulos, ou numa casa. Onde quer que Ele estivesse, essa graça santa estava lá, e a mistura adequada de graça temperada com sal era evidenciada. Como nosso coração olha com admiração e louvor ao vermos tudo isso manifestado em nosso abençoado Mestre!

Um sacrifício vivo 

Isso deveria ser o mesmo para nós. Também nós devemos “apresentar o nosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm 12:1) e, nesse sentido, também nós precisamos ter todo sacrifício salgado com sal. É fácil não se dar ao trabalho de fazer isso, mas simplesmente demonstrar graça e amor a este mundo. O mundo vai gostar disso, pois aprecia aqueles que são honestos, íntegros, prestativos, graciosos e generosos. O mundo gosta daqueles que parecem querer “tornar este mundo um lugar melhor” e, como diz o ditado, que querem “fazer a diferença”. Sim, devemos desejar “fazer a diferença”, mas essa diferença, se for para ser de acordo com a mente de Deus, deve trazer sal — a energia da santidade junto com a graça de Deus. O tipo de diferença que Deus procura é a salvação das pessoas deste mundo, não melhorar o que está sob julgamento.

Como vimos, o sal pode tender às vezes a irritar e arder, e descobriremos que o mundo em geral não se importará com isso. No entanto, se Cristo está diante de nós e as reivindicações de Deus têm um domínio sobre nossa alma, então vamos querer honrá-Lo diante dos homens, bem como adverti-los do julgamento vindouro. Se negligenciarmos isso, somos como o sal que “perdeu sua salinidade” (Mc 9:50 – KJV), e então nada pode temperá-lo. Nós realmente não somos úteis neste mundo se negligenciarmos o sal em nosso sacrifício pelo Senhor. Isso é cada vez mais importante, à medida que as trevas aumentam no mundo e a vinda de nosso Senhor se aproxima.

W. J. Prost

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