Origem: Revista O Cristão – Os Dons

Os Dons de Sinais Hoje em Dia

Desde os primórdios da Igreja, os crentes têm questionado se os sinais e prodígios exibidos nos dias dos apóstolos eram para continuar existindo. Nos últimos cem anos, particularmente, tem havido um tremendo ressurgimento do interesse nos chamados “dons de sinais”, e nos últimos trinta ou quarenta anos, tem havido quase uma explosão de interesse mundial em milagres e sinais, especialmente de cura. Nos EUA, nomes como Oral Roberts e Kathryn Kuhlman tornaram-se conhecidos por suas alegações de “cura divina”. Em anos mais recentes, Benny Hinn e Kenneth Copeland alcançaram notoriedade mundial por suas extensas campanhas de cura e aparições na televisão. Muitos debates foram travados sobre a questão, e até mesmo os incrédulos foram apanhados nesta controvérsia. Alguns crentes verdadeiros se tornaram, pelo menos, completamente confusos e, às vezes, desiludidos e desencorajados. As atitudes variam desde a negação total de qualquer exemplo de milagre hoje em dia, até a completa aceitação de tudo o que é apresentado. Outros são céticos, mas não sabem em que acreditar. Como com tudo que diz respeito a assuntos espirituais, devemos nos voltar para a Palavra de Deus.

Nossa autoridade final 

Antes de fazermos isso, vamos enfatizar que a Palavra de Deus deve ser nossa autoridade final. Em muitos círculos Cristãos de hoje, a autoridade da Palavra de Deus foi substituída pelo que poderia ser chamado de “Cristianismo experiencial”. Para eles, a realidade de Deus não pode ser expressa sem experiências, e pior ainda, eles acreditam firmemente que a experiência pode anular a Palavra de Deus. Isto é algo muito sério. Lembremo-nos de que o Espírito de Deus inspirou a Sua Palavra e, portanto, o Espírito e a Palavra estão sempre de acordo. O Espírito é o Intérprete da Palavra e nunca nos conduzirá contrariamente a Ela. Quando a verdade vital está em questão, Deus nunca nos remete à experiências, mas sim à Sua Palavra. Nossas experiências pode variar e podem até ser enganosas, mas a Sua Palavra é “viva e que permanece para sempre” (1 Pe 1:23).

Um sinal para os incrédulos 

Há várias coisas importantes que caracterizaram sinais e maravilhas nos dias dos apóstolos. Primeiro de tudo, é claro que eles foram destinados principalmente para incrédulos. Lemos em 1 Coríntios 14:22 (ARA): “De sorte que as línguas constituem um sinal não para os crentes, mas para os incrédulos”. Da mesma forma, a cura foi feita muitas vezes para os incrédulos, mas raramente para os crentes. É verdade que Pedro curou Dorcas (At 9:36-42), mas Paulo não curou homens piedosos como Epafrodito, Timóteo ou Trófimo. Ele reconheceu que Deus havia permitido a doença ou enfermidade, e ele não exerceu seu dom ao seu favor. De fato, é claro que o próprio Paulo tinha algum tipo de problema de saúde que ele aceitou como vindo do Senhor. Deus lhe deu graça para suportá-lo, mas não o curou.

Para confirmar a palavra falada 

Segundo, os sinais e milagres foram feitos para dar suporte a pregação da Palavra de Deus, não para substituí-la ou tomar o seu lugar. A Palavra foi primeiramente falada e então os sinais se seguiram para a confirmar. Assim, os sinais eram de importância secundária, enquanto a Palavra era de suma importância. Em Marcos 16:20 lemos que “E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor e confirmando a Palavra com os sinais que se seguiram”. Também em Hebreus 2:34 nos é dito: “Salvação a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos, depois, confirmada pelos que a ouviram; testificando também Deus com eles, por sinais, e milagres, e várias maravilhas, e dons do Espírito Santo, distribuídos por Sua vontade”. Assim, temos o direito de esperar que, se aparecerem milagres e sinais, eles devem ser feitos em conexão com uma pregação fiel da Palavra de Deus.

Diretrizes para o uso dos dons de sinais 

Terceiro, encontramos diretrizes quanto ao uso desses sinais e milagres na Escritura, particularmente em relação ao falar em línguas. Essas diretrizes nunca foram rescindidas e se aplicam hoje mais do que nunca. Se os dons de sinais estão em evidência hoje, esses princípios da Escritura os regulam, e devemos esperar ver tais dons exercitados de acordo com o padrão da Palavra de Deus.

O que está acontecendo hoje 

Com essas coisas em mente, podemos muito bem perguntar: “O que está realmente acontecendo hoje? Os crentes ainda falam em línguas pelo poder do Espírito de Deus? Deus ainda cura de uma maneira miraculosa? As ‘curas’ pelos modernos curandeiros da fé são reais, ou alguma outra coisa está acontecendo?”

Parece claro na Escritura que milagres e sinais foram dados no início da dispensação da Igreja para confirmar a Palavra falada e magnificar a Deus quando a Palavra escrita de Deus não estava completa. Agora que temos a Palavra escrita completa na maioria das línguas, não há mais a necessidade de confirmar “a Palavra com os sinais que se seguiram”. No entanto, Deus é soberano e pode, se assim o desejar, dar a um crente o dom de pregar o evangelho em uma língua que ele não conhecia antes, em um lugar onde a Palavra de Deus ainda não é conhecida.

Embora esteja além do escopo deste artigo entrar em detalhes, basta dizer que casos foram verificados quando um crente foi curado de um grave problema de saúde que não poderia ser explicado de outra maneira, mas como um ato de Deus. Em tais casos, isso não foi feito por meio dos chamados “curandeiros da fé”, mas sim por meio da oração por parte dos indivíduos. Assim, é um erro dizer que nada milagroso acontece entre os crentes de hoje.

Colocando à prova as reivindicações carismáticas 

No entanto, a grande maioria do que está acontecendo nos círculos Cristãos hoje, o chamado “movimento carismático”, não suportará o exame minucioso da Palavra de Deus nem mesmo uma investigação razoável por meios naturais. Muito do que hoje é considerado como sinais e milagres é focado principalmente em crentes, não está conectado com uma pregação fiel da Palavra de Deus e não segue os princípios e diretrizes dadas na Palavra de Deus. No caso do assim chamado falar em línguas, muito disso é algazarra e a constante repetição de palavras sem sentido e que não têm significado. Em um número menor de casos mais sérios, a mensagem pode ser entendida (isto é, falada em uma língua conhecida), mas muitas vezes é tudo menos edificante e, às vezes, até blasfema. É claramente a obra de Satanás.

No caso dos chamados “curandeiros divinos”, muitos investigaram as pessoas envolvidas, buscando honestamente a prova da verdadeira cura. Um homem Cristão aproximou-se de Benny Hinn, levou-o para almoçar e perguntou a ele especificamente por casos documentados e por nomes daqueles que haviam experimentado a cura divina e orgânica. A resposta de Benny Hinn foi: “Eu vou lhe fornecer esses nomes imediatamente. Vou mandar minha secretária mandá-los imediatamente para você. Vamos começar a fornecê-los até a próxima semana”. Depois de relembrar Benny Hinn, pelo menos mais uma vez, ele ainda estava esperando pela relação, mais de dois anos depois. Dr. William Nolen, um famoso cirurgião americano (possivelmente um crente e já falecido), tirou um ano de folga para estudar o fenômeno da cura milagrosa. Seu livro sobre o assunto, ‘Cura – Um Doutor em Busca de um Milagre’, traz a mesma conclusão. Ele não conseguiu encontrar nem mesmo um caso documentado de cura orgânica e milagrosa feita pelos chamados “curandeiros da fé”.

Uma explicação razoável 

Em vista de tudo isso, há uma explicação lógica para o que está acontecendo? Eu penso que há. Existem várias explicações razoáveis para o que as pessoas experimentam em campanhas de cura ou ao “falar em línguas”. A maior parte das reivindicações por demonstrações de poder espiritual hoje são a tentativa do homem de reproduzir com energia humana o que foi originalmente dado pelo poder do Espírito de Deus. Em matéria de cura, é bem conhecido nos meios médicos que dois terços de todas as doenças têm origem em causas de estresse e causas relacionadas a emoção. Aliviar o estresse elimina os sintomas físicos, e certamente isso pode acontecer em campanhas de cura. Mais seriamente, às vezes há decepção deliberada, em que pessoas saudáveis são colocadas em cadeiras de rodas e depois “curadas”, enquanto casos de doenças reais são cuidadosamente evitados para não aparecerem no palco. Em alguns casos, o poder satânico está envolvido. O objetivo de Satanás nunca é abençoar e sim o oposto, mas às vezes ele aparece como um “anjo de luz” (2 Co 11:14). Ele pode produzir uma obra de cura como uma fachada falsa para trabalhos mais sinistros mais tarde. Mas o fenômeno mais comum é o que pode ser chamado de “histeria em massa” ou “hipnose em massa”. Se o ambiente certo e o humor emocional são cuidadosamente produzidos (música, palavras certas, criação de um vínculo entre o líder e o povo), muitas pessoas tornam-se muito suscetíveis à sugestão. O resultado é muito previsível – pessoas tremendo, balançando, rindo incontrolavelmente, talvez gritando ou chorando, até mesmo caindo no chão e depois ficando ali imóveis. Tais técnicas podem ser aprendidas e praticadas há centenas de anos pelos incrédulos. Elas enfaticamente não são a obra do Espírito de Deus!

Satanás trabalhando 

Intimamente relacionado com esta técnica está o chamado “falar em línguas”. Como mencionei anteriormente, Satanás também pode estar envolvido nisso. É bem conhecido que falar em línguas tem sido uma característica das práticas ocultas há centenas de anos. Mas o que comumente se passa por falar em línguas nos círculos Cristãos é mais uma vez uma técnica aprendida que pode ser praticada por qualquer um. Um ex-líder carismático (que agora se arrependeu de seu envolvimento) tem o seguinte a dizer: “Todos os carismáticos e pentecostais que conheço oram, como eu, em línguas quando querem e por quanto tempo quiserem – mas os sons são sempre os mesmos… A maioria das ‘falas em línguas’ de hoje, não tem sentido e podem ser reproduzidas por qualquer um”.

Em resumo, Deus pode permitir falar em línguas hoje em certas circunstâncias, e Ele cura de maneira milagrosa de vez em quando. No entanto, creio que a Escritura nos mostra claramente que colocar ênfase em tais milagres e sinais é um erro. Mais do que isso, é um erro esperar que vários indivíduos recebam esses dons de sinais. Essas coisas foram dadas no início para autenticar a pregação de algo inteiramente novo e para revestir esta palavra com a autoridade de Deus. Eles não estão presentes hoje dessa maneira.

Os maiores milagres de Deus 

Os maiores milagres que Deus realiza hoje não são acompanhados de demonstrações exteriores de poder sobrenatural. Antes, Deus primeiro trabalha o milagre de salvar pessoas da pena e do poder de seus pecados. Então, Ele busca, por vários meios, conformá-los “à imagem de Seu Filho” (Rm 8:29). Tal transformação não será completa até a glória, mas Deus está trabalhando em nós agora para esse fim. Ele está muito mais interessado nisso do que em curar todas as nossas doenças agora. Ele usa nossas várias provações e enfermidades para nos ensinar lições que não poderíamos aprender de outra maneira. Sejamos dispostos a obter proveito de todos por meio dos quais a sabedoria de Deus possa nos passar, enquanto esperamos pelo dia em que estaremos com e como nosso bendito Salvador.

W. J. Prost

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