Origem: Revista O Cristão – Educação
A Educação dos Filhos
A educação de nossos filhos tem sido necessária na maior parte da história do homem e, naturalmente, variou em diferentes épocas e de cultura para cultura. Por um lado, certas habilidades acadêmicas são necessárias para quase qualquer trabalho e para permitir que alguém tenha alguma atuação na vida. Por outro, é necessário muito mais para a educação de uma criança do que simplesmente ensiná-la academicamente. Os valores morais e espirituais são ainda mais importantes. Educação física e habilidades sociais também são necessárias. Como resultado, muitas teorias diferentes sobre educação surgiram, e há fortes sentimentos sobre esses vários pontos de vista. Para os Cristãos que buscam o melhor para seus filhos, isso geralmente representa um verdadeiro dilema, pois há vantagens e desvantagens em todos os métodos.
Neste artigo, gostaria de analisar vários modos de educação e examinar as vantagens e desvantagens de cada um deles. Não é minha intenção promover ou endossar nenhum sistema, pois as circunstâncias e os exercícios piedosos variam muito entre diferentes indivíduos, culturas, países e até áreas dentro do mesmo país.
Escolas públicas
A educação pública para crianças pequenas está disponível na maioria dos países há muitos anos e tem sido um benefício real para os pais que, de outra forma, teriam dificuldade em educar seus filhos. Os governos reconheceram as vantagens de disponibilizar uma educação razoável a todos, e, portanto, a educação pública tem a vantagem de ser gratuita e geralmente de fácil acesso. Em alguns lugares, ela é basicamente boa, enquanto em outros lugares existem desvantagens evidentes.
Como a educação pública é paga com impostos, o caráter geral e o conteúdo da educação refletirão necessariamente a atitude do governo que a administra. Em um país democrático, ela também refletirá o tom moral da sociedade que elege o governo. Na Europa Ocidental e na América do Norte, tem sido amplamente reconhecido que, nos últimos quarenta anos, as escolas públicas têm cada vez mais falhado em manter padrões acadêmicos, morais e espirituais, bem como em garantir a proteção física das crianças. Infelizmente, pelo menos em algumas áreas, essa crítica se justifica. Uma abordagem humanista liberal da educação, juntamente com a falta de estrutura e disciplina firme, promoveu em muitas escolas uma atmosfera que prega contra o aprendizado real, seja acadêmico, moral ou espiritual.
Por outro lado, mesmo que essas coisas sejam verdade, muitos pais Cristãos entendem que, ao proporcionarem uma vida familiar espiritualmente saudável e ao armarem seus filhos com a Palavra de Deus, podem enviá-los com segurança ao mundo, sabendo que eles (os filhos) devem, em algum momento, aprender a resistir à atitude e ao espírito do mundo e a trilhar um caminho separado. Além disso, esses mesmos pais geralmente estão dispostos a complementar o ensino acadêmico da escola e a compensar algumas das deficiências.
Nos EUA, o conceito de “escola charter” (escola que recebe fundos do governo, porém opera de modo independente do sistema educacional do Estado em que está) surgiu nos últimos vinte ou trinta anos. São escolas financiadas com recursos públicos, mas que estão autorizadas a oferecer mais opções em abordagens inovadoras da educação. Na maioria dos casos, essas escolas são melhores que as escolas públicas tradicionais. As matrículas, no entanto, costumam ser limitadas, e os alunos podem ter que percorrer longas distâncias para frequentar essa escola. Além disso, é questionável se o tom moral e espiritual das escolas charter difere muito das escolas públicas tradicionais.
Escolas particulares seculares
Antes que a educação pública se tornasse disponível para todos, as escolas particulares eram comuns, e ainda hoje elas são muito difundidas em alguns países. Elas têm a vantagem de serem administradas por particulares e não pelo governo, e os pais podem escolher uma escola cujos objetivos coincidem com os seus. As turmas em escolas particulares são geralmente menores, com melhores equipamentos, e, geralmente, os alunos recebem mais atenção individual de professores com excelentes credenciais. Por esses motivos, a qualidade da educação é frequentemente melhor do que nas escolas públicas. Como os pais estão pagando diretamente pela educação dos filhos, sua voz geralmente é mais eficaz para influenciar a abordagem do aprendizado e o conteúdo do currículo.
No entanto, há uma série de inconvenientes que devem ser considerados na educação privada. Primeiro, a despesa costuma ser considerável e está fora do alcance de muitas famílias. Segundo, as crianças podem ter que percorrer uma distância considerável para frequentar essa escola. Terceiro, as escolas particulares às vezes são “o domínio dos ricos” e podem tender a enfatizar o sucesso neste mundo, juntamente com a ênfase na participação em programas extracurriculares, como clubes e atividades esportivas. Muitas vezes, o processo educacional visa deliberadamente preparar os alunos para o ensino superior e carreiras de destaque que os promovam neste mundo. Todas essas considerações devem ser avaliadas pelos pais Cristãos diante do Senhor.
Escolas Cristãs particulares
Dado o percebido declínio na educação da escola pública, alguns grupos Cristãos organizaram suas próprias escolas particulares, a fim de fornecer uma educação baseada nos valores Cristãos. Assim como as escolas particulares seculares, estas são financiadas de maneira privada e, como tal, podem planejar seu próprio currículo dentro das diretrizes do governo, bem como ensinar princípios Cristãos e manter a disciplina de acordo com a Palavra de Deus. Normalmente, essas escolas não restringem suas matrículas apenas a Cristãos, mas entende-se que todo o ensino será baseado e interligado com o Cristianismo.
Tais escolas geralmente são muito boas, pois evitam a perversão moral e espiritual que costuma ser característica das escolas públicas. Muitos dos estudantes vêm de lares Cristãos e, portanto, compartilham perspectivas e valores semelhantes. A Palavra de Deus é geralmente lida antes do dia começar, e é feita uma oração.
Entretanto, mais uma vez, existem algumas dificuldades em potencial que devem ser consideradas. Quando as crianças estão em uma escola pública e em uma atmosfera mundana, elas podem ser ensinadas a ficar em guarda com relação ao que veem e ouvem. Em uma escola Cristã, os pais podem achar que essa guarda não é necessária, e as crianças podem supor, erroneamente, que tudo o que está sendo ensinado deve estar certo, pois vem de uma perspectiva Cristã. Considerando a ruína exterior da Igreja hoje, quando a Cristandade se tornou uma “grande casa”, essa complacência nem sempre é justificada. Muitas escolas Cristãs são patrocinadas por grupos Cristãos específicos, e o ensino refletirá necessariamente as crenças desse grupo, sejam estas bíblicas ou não.
Mais do que isso, quando as crianças Cristãs são reunidas de muitas origens diferentes, isso pode ter a tendência de enfatizar a unidade da família de Deus (o que é algo bom em muitos aspectos) em detrimento de uma cuidadosa adesão à verdade da Palavra de Deus. A separação daquilo que não está de acordo com a Palavra de Deus é algo extremamente necessário hoje, e isso se torna mais difícil quando os crentes muitas vezes são chamados a trabalhar juntos com outros de vários grupos diferentes. Coisas que não estão de acordo com a Palavra de Deus podem ser ignoradas em vez de serem abordadas. “Porventura andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?” (Am 3:3)
Educação domiciliar
Nos últimos 30 a 40 anos, o ensino domiciliar [homeschooling] se tornou cada vez mais popular, especialmente na América do Norte. O ensino domiciliar tem muitas vantagens. Os filhos permanecem em casa sob a orientação de seus pais, e, portanto, os valores incutidos neles, bem como o ensino acadêmico, estão totalmente sob controle dos pais. Obviamente, a maioria das jurisdições exige testes periódicos para garantir que a educação esteja em conformidade com os requisitos governamentais. No entanto, muitos programas estão disponíveis por correio e pela internet, o que garante um currículo completo. As influências mundanas são evitadas, e em todos os aspectos a “disciplina e admoestação do Senhor” (Ef 6:4 – AIBB) podem ser mantidas. Há liberdade para a criança avançar no seu próprio ritmo e flexibilidade na organização de férias e viagens em família. À medida que as escolas públicas se degeneram, o ensino domiciliar oferece uma alternativa muito atraente para os Cristãos.
Como em outros métodos, existem alguns requisitos e possíveis inconvenientes que precisam ser considerados. Em primeiro lugar, o ensino domiciliar exige uma mãe muito organizada e dedicada, que esteja disposta a estar disponível e orientar o(s) aluno(s) diariamente. Ela deve ser competente para entender e ensinar academicamente, bem como no âmbito moral e espiritual, e estar disposta a se sacrificar pelos filhos.
Segundo, deve haver disciplina no uso do tempo. As escolas fora de casa exigem que o aluno se levante em um determinado horário, compareça às aulas no horário e conclua as tarefas regularmente. A falta dessa obrigatoriedade no ensino domiciliar pode contribuir para a falta de disciplina pessoal, se um cronograma não for mantido.
Terceiro, em qualquer região frequentemente existem outras famílias (e muitas vezes Cristãs) que praticam a educação domiciliar, e há uma tendência de as famílias trabalharem juntas nisso, uma vez que os pais podem ter habilidades diferentes. Esses pais geralmente gostam de compartilhar entre si as tarefas de ensino. Novamente, quando Cristãos estão envolvidos, podemos acabar baixando a guarda, e a separação do que não está de acordo com a Palavra de Deus pode ser mais difícil. Finalmente, a questão de quando uma criança enfrenta o mundo exterior deve ser considerada. Embora seja maravilhoso evitar as más influências do mundo, as Escrituras nos dizem que estamos no mundo, embora não sejamos do mundo. Em algum momento, uma criança precisa sair para o mundo e ser capaz de suportar sua oposição, bem como testemunhar nele. Na atmosfera da educação domiciliar, pode haver um isolamento quase completo do mundo, e deve-se questionar se isso não prejudicará uma criança Cristã, se for algo prolongado por muito tempo.
Ao considerar a educação domiciliar, devemos lembrar que ela também restringe as crianças das boas habilidades de ensino que os outros têm, bem como das más influências. Devemos tomar cuidado para não basear nossas decisões na suposição de que temos as melhores habilidades para ensinar nossos filhos.
Não existe uma única maneira correta
Em resumo, gostaria apenas de comentar que não há uma maneira perfeita de educar nossos filhos em um mundo pecaminoso. Há vantagens e desvantagens em todos os métodos, e somente considerando todas as circunstâncias em nosso caso particular e ponderando tudo cuidadosamente diante do Senhor é que podemos tomar uma decisão correta.
Mais do que isso, a atmosfera do lar é crucial, independentemente do tipo de educação escolhido. Se os pais procurarem incluir o Senhor em tudo e tornar Sua Palavra o guia para eles e seus filhos, isso terá um efeito sobre eles que nada mais terá. As crianças são fortemente influenciadas pelos pais e, como alguém observou, “as crianças geralmente querem o que seus pais gostam”. A influência dos pais é geralmente maior do que o sistema educacional, e um andar piedoso da parte deles fará muito para combater as más influências que nos rodeiam hoje. Se nós, como pais, tivermos o espírito de Esdras e dos que estavam com ele, “para Lhe pedirmos caminho seguro para nós, para nossos filhos” (Ed 8:21), acredito que o Senhor nos mostrará esse caminho.