Origem: Revista O Cristão – A Escritura Sagrada

A Escritura Sagrada – Alimento para a Alma

Existem três maneiras principais em que é possível ler a Palavra de Deus. Podemos lê-la por um senso de dever, ou podemos recorrer a ela para termos ajuda, apoio ou orientação, bem como pode ser lida em razão de deleite n’Ele, que é a Palavra, e de Quem os preciosos tesouros de graça e bênção ela revela. Para alguns, esses três métodos marcam diferentes estágios da vida espiritual. Eles podem começar lendo a partir de um senso de obrigação, depois, no devido tempo ler para obter ajuda e ensino, e finalmente ler porque percebem que as palavras de Deus “mais desejáveis são do que o ouro, sim, do que muito ouro fino; e mais doces do que o mel e o licor dos favos” (Sl 19:10). Este último método, como muitos descobriram, é o único modo verdadeiro de estudar a Bíblia, pois a alma que assim pondera sobre a revelação que Deus Se agradou de fazer de Si mesmo, está em comunhão com a Sua própria mente e no poder do Espírito Santo.

Existe a possibilidade, no entanto, de retroceder deste ponto depois de o termos alcançado. Perder o ânimo pela Palavra de Deus é um sinal claro de um mau estado de alma. Isso às vezes é encoberto pelo hábito pernicioso de tentar se alimentar da verdade descoberta e apreciada nos anos anteriores. Parece não haver nada mais humilhante ou endurecedor do que o hábito de reproduzir repetidas vezes as coisas preciosas reunidas e entesouradas por meio de exercícios e estudos passados. Falar muito das bênçãos passadas é, muitas vezes, confessar que não temos nada a dizer sobre o atual o poder e atividade de Deus. Se for para sermos canais de bênção, o que é comunicado deve ser novo. Aquele que está na presente atividade de fé no Cristo ressuscitado e glorificado e está sempre extraindo da fonte inesgotável é aquele que se torna o canal dos rios de água viva (Jo 7:38).

A Pessoa na Palavra 

O que nos ajudará a ler a Escritura com prazer? Acima de tudo, procuremos nos assentar aos pés de Jesus, como Maria, e ouvir à medida que lemos a Sua Palavra. A Palavra de fato nunca deve ser separada da Pessoa d’Aquele que fala. Quando os Judeus perguntaram ao nosso bendito Senhor: “Quem és Tu?” Ele respondeu: “Tudo o que Eu também disse a vós” (Jo 8:25 – JND). Com isto Ele quis dizer que o que Ele disse e ensinou O expressou perfeitamente e continha a revelação daquilo que Ele era. Lembrarmos disso quando estamos lendo Suas Palavras, nós não apenas ouviremos Ele falar conosco, mas por meio do que Ele fala Ele Se revela a Si mesmo para nossa alma. Nada nos mantém em dependência, enquanto lemos, como a percepção de estar na presença de Deus com o objetivo de receber comunicações divinas. Isto também é de primordial importância.

A leitura regular e a sistemática 

Além disso, ajuda muito se lermos a Escritura de maneira regular e sistematicamente. Quanto mais a lemos, mais desejamos lê-la. Se não permitirmos nada interferir neste momento separado para este propósito, a leitura logo se tornará uma necessidade tão grande quanto a nossa alimentação diária. Um bem conhecido servo do Senhor fez questão de nunca ler menos de dois capítulos pela manhã, sendo a primeira coisa que fazia. Observando seu hábito, ele disse: “Você pode me chamar de legalista, mas não posso ficar sem meus dois capítulos!” Muitos descobriram, por outro lado, que, quando deixaram suas leituras para outras oportunidades favoráveis, logo descobriram como havia pouco tempo à sua disposição. Até mesmo nosso bendito Senhor, falando por meio do profeta, diz: “O Senhor JEOVÁ Me deu uma língua erudita, para que Eu saiba dizer, a seu tempo, uma boa palavra ao que está cansado. Ele desperta-Me todas as manhãs, desperta-Me o ouvido para que ouça como aqueles que aprendem” (Is 50:4). Seu ouvido foi aberto para ouvir todas as manhãs o que Jeová poderia Lhe comunicar, e nesta atitude abençoada de aprendizado e dependência Ele é nosso exemplo.

Dependência e aprendizagem 

Essas duas coisas – dependência e aprendizagem – estão sempre conectadas. Isso é exemplificado na ação do nosso bendito Senhor para com Seus discípulos após a Sua ressurreição. Depois de lembrá-los que todas as coisas que foram escritas na lei de Moisés e nos profetas e nos Salmos sobre Si mesmo deveriam ser cumpridas, Ele abriu o entendimento deles para que eles pudessem entender a Escritura (Lc 24:44-45). Mais tarde, Ele abriu o coração de Lídia para se atentar para as coisas que foram ditas por Paulo (At 16:14). Quer seja, portanto, por capacidade de entendimento ou por capacidade de recepção, somos inteiramente dependentes d’Ele. É na proporção da nossa dependência d’Ele que Ele age em nós pelo Espírito Santo para nos capacitar a entender “o que d’Ele se achava em todas as Escrituras” (Veja também João 16:13-15).

Vendo o propósito de Deus 

Finalmente, devemos perceber que o próprio Cristo é a chave para toda a Bíblia. Ele é o objeto de todos os propósitos de Deus, seja em relação ao povo terrenal ou ao celestial. Ele é, além disso, o centro de todos os caminhos de Deus. É em torno d’Ele que todos os fatos da revelação apontam, e para Ele todos os tipos e profecias olham. Na administração da plenitude dos tempos, é o prazer e propósito soberano de Deus encabeçar todas as coisas no Cristo, tanto as que estão no céu como as que estão na Terra. Se Cristo e Sua glória não estiverem diante da alma em nossos estudos da Escritura, não nos beneficiaremos porque não estaremos em comunhão com a mente de Deus. Deixe Cristo de fora, e a Bíblia se torna uma letra morta, provocando críticas e controvérsias a cada passo; traga Cristo, e o Livro será infundido com vida e poder, uma unidade viva, porque revela uma Pessoa viva, e o leitor é preenchido de adoração e louvor.

Adaptado de The Christian Friend, Vol. 19, pág. 113

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