Origem: Revista O Cristão – A Escritura Sagrada
A Escritura Sagrada – Seu Objeto e Assuntos
[As primeiras frases deste artigo são longas e talvez complicadas. Elas podem precisar ser lidas várias vezes devagar e depois ponderadas. Nós garantimos a você que o esforço vale a pena].
A Escritura Sagrada tem uma fonte viva, e o poder vivo permeou sua composição: daí a infinitude de seu porte e a impossibilidade de separar qualquer parte de sua conexão com o todo. Um Deus é o centro vivo do qual tudo flui; um Cristo é o centro vivo em torno do qual circulam todos os seus círculos da verdade e aos quais ela se refere, embora em várias glórias; e um Espírito é a seiva divina que leva Seu poder de Sua fonte em Deus até os ramos mais minúsculos da verdade toda unida, testificando da glória, da graça e da verdade d’Aquele que Deus apresenta como Objeto, Centro e Cabeça de tudo que está em conexão Consigo mesmo. Isto é tudo d’Aquele que é, ao mesmo tempo, Deus sobre todos, bendito eternamente.
Dar tudo isso como um todo, e perfeitamente, exigiria que Ele fosse o próprio Doador. Mesmo aprendendo isso, sabemos em parte e profetizamos em parte. Quanto mais o seguimos em direção ao Seu centro – começando das folhas e ramos mais distantes dessa revelação da mente de Deus, de onde fomos alcançados quando estávamos longe d’Ele – e, de lá, olhamos novamente para sua extensão e diversidade, mais aprendemos de Sua infinitude e de nossa própria fraqueza de apreensão. Aprendemos, bendito seja Deus, que o amor que é a sua fonte é encontrado na perfeição sem nenhuma mistura e na mais completa amostra naquelas manifestações que nos alcançaram até mesmo em nosso estado arruinado. O mesmo perfeito Deus do amor está nisso tudo. Mas as revelações da sabedoria divina nos conselhos em que Deus Se mostrou permanecem sempre para nós como um assunto de diligente investigação na qual cada nova descoberta, aumentando nossa inteligência espiritual, faz a infinitude do todo, e o caminho pelo qual ultrapassa todos nossos pensamentos, apenas mais e mais claros para nós.
Seu objeto
A Bíblia, em seu objeto, é um todo, que nos apresenta Deus saindo de Sua plenitude essencial para manifestar tudo o que Ele é, e para trazer de volta ao gozo dessa plenitude Consigo mesmo aqueles que, tendo sido feitos participantes de Sua natureza, se tornaram capazes de compreender e amar Seus conselhos e a Ele mesmo.
Mas antes que este propósito seja completamente revelado, o homem é trazido à cena como um ser responsável, e sua história nos é dada nas várias fases pelas quais ele passou, até a cruz, onde sua inimizade contra Deus foi manifestada. O fundamento foi estabelecido para a plena revelação desse propósito e a realização do bom prazer de Deus no homem. Foi colocado de tal maneira que todo o Seu caráter divino de amor e justiça foi revelado e glorificado, e Deus perfeitamente glorificado em todos os aspectos, ao trazer o homem para a glória.
Três grandes temas
Encontraremos três grandes temas na Bíblia: (1) a criação (agora sob o efeito da queda); (2) a lei, que deu ao homem, como ele é agora, uma regra no meio desta criação para ver se ele poderia viver de acordo com Deus e ser assim abençoado; e (3) o Filho de Deus.
Os dois primeiros, a saber, a criação e a lei, estão ligados à responsabilidade da criatura. Descobrimos que tudo o que está conectado a esses dois esta em um estado culpado ou corrompido. O Filho, pelo contrário, é a manifestação da graça e do amor do Pai e a manifestação do amor de Deus ao mundo, quando esta culpa já existia no pecado sem lei e na violação da lei. Ele é a imagem expressa da subsistência de Deus, em Quem o Pai foi visto. Nós O vemos sofrendo em amor no meio desta criação caída e as contradições de um povo rebelde e, quando Deus foi perfeitamente glorificado em relação ao pecado, cumprindo todos os conselhos de Deus em unir todas as coisas em bênçãos por Seu poder e sob Sua autoridade, mesmo aqueles que com ódio o rejeitaram, sendo forçados a confessar que Ele é Senhor para a glória de Deus Pai. E finalmente, quando Ele tiver sujeitado todas as coisas, nós O vemos entregando a Deus o Pai o reino da Sua glória como Filho do Homem, para que Deus seja tudo em todos.
Os conselhos de Deus
Além de tudo isso, na Escritura Sagrada há, nos conselhos de Deus, aqueles com os quais o Deus que conhecemos em Jesus Se cerca, os quais devem ser trazidos à semelhança d’Aquele com Quem estão associados como filhos. Ele o primogênito entre muitos irmãos que desfrutarão eternamente com Deus Seu favor e bênção, pois repousa sobre Aquele com Quem e por Quem eles desfrutam. Há também um povo terrenal em quem Deus manifesta os princípios de Seu governo aqui abaixo e Sua fidelidade infalível, e foi para estes a quem a lei foi dada.
A Igreja
Finalmente, na Bíblia, vemos no propósito de Deus antes que o mundo existisse (mas escondido até o momento adequado) que havia uma Igreja, escolhida em Cristo, Sua noiva, para ser apresentada a Si mesmo sem mancha ou ruga. Ela também é o Seu corpo, a plenitude d’Aquele que preenche tudo em todos, unida a Ele pelo Espírito com o Qual todos os membros são batizados, e logo se manifestarão em glória quando Ele tomar a liderança.
A cruz
A cruz é o centro de tudo isso em todos os aspectos. Lá a história do homem em responsabilidade, como o filho de Adão, termina, e ali começa novamente a graça que reina pela justiça. Ali o bem e o mal são completamente trazidos para uma questão, tanto o ódio no homem quanto o amor em Deus, tanto o pecado quanto a justiça de Deus contra ele. Lá Deus é perfeitamente glorificado moralmente, e o homem julgado em pecado e depois redimido em justiça, o domínio do mal destruído, e Aquele Homem [Cristo] estabelecido em justiça como Deus quis que fosse. Lá a morte e aquele que tinha o poder dela são postos de lado, e isto por um ato de amor que coloca o Filho de Deus como Homem como Cabeça de todas as coisas em justiça. Por meio da cruz, tudo permanece seguro e imutável como resultado no terreno da redenção. Qual será o fim dos que a desprezam?
Os tratamentos de Deus para com o homem
Assim, na Bíblia, encontraremos não apenas a criação, a lei e o Filho de Deus, mas os relacionamentos pelos quais Deus preparou o caminho e levou os homens a esperar por Sua manifestação; o desenvolvimento de todos os princípios sobre os quais Ele entrou em relacionamento com os homens; as consequências da violação da lei; e, finalmente, em seu lugar, a manifestação da Igreja sobre a Terra e as instruções que Ele deu a ela, juntamente com o curso dos eventos que estão relacionados com sua existência e sua infidelidade na Terra com a do povo terrenal de Deus; e com o próprio homem, responsável perante Deus e revestido de autoridade por Ele na Terra: tudo culminando com a glória de Jesus, Filho do Homem, mantendo a bênção e união de todas as coisas sob o reino de Deus; e, em conclusão, Deus sendo tudo em todos. A história de Jesus; a posição concedida à igreja em glória de acordo com os conselhos de Deus, o mistério escondido desde os séculos; a participação dela nos sofrimentos de Jesus e sua união com Ele; e, em geral, o testemunho do Espírito Santo dado do alto é claramente revelado no Novo Testamento. Aquilo de que falamos anteriormente forma o curso das eras; a Igreja não faz parte delas.
Suas duas partes
A Escritura Sagrada é naturalmente separada em duas partes – aquela que fala dos dois primeiros assuntos, primeiro, a criação e o homem em relação com Deus sem lei e Seu povo debaixo da lei, e, segundo, a que fala do Filho que veio a Terra e tudo o que se relaciona com a Igreja e sua glória – isto é, em geral, o Velho e o Novo Testamento.
Adaptado de Introductory Material do the Synopsis
