Origem: Revista O Cristão – Esdras

Esdras

Quando entramos no livro de Esdras, a história se inicia com o retorno dos cativos. Podemos vê-los em suas circunstâncias e comportamento, e podemos receber instrução de ambas as coisas. Sobre suas circunstâncias podemos ver muito de nossa própria condição, e quanto ao comportamento deles, somos também ensinados, encorajados ou alertados.

Tendo completado a sua jornada da Babilônia até Jerusalém, os vemos primeiramente em uma grande beleza moral. Eles usaram o que tinham, fizeram o que podiam, e não fingiram ter o que não tinham, nem assumiram o que não podiam. Eles tinham a Palavra, e a usaram. Eles fizeram o melhor que puderam com as genealogias, para preservar a pureza do sacerdócio e do santuário, porém, não se propuseram a fazer o que o Urim e o Tumim os capacitariam a fazer, porque eles não os tinham mais.

Um altar 

Eles foram rápidos em levantar um altar para o Deus de Israel. Eles não precisavam reconstruir todo o templo primeiro. Fizeram, então, um altar para as ofertas queimadas, e como um povo renascido eles levantaram seu altar e começam sua adoração no primeiro dia do sétimo mês. Israel não levantou altares na Babilônia, porém agora, novamente em Jerusalém, o altar foi construído e sacrifícios foram oferecidos. Mas logo que a fundação do templo foi colocada, algo estranho pôde ser ouvido. Era uma dissonância desagradável ao ouvido natural, mas uma harmonia de vozes santas aos ouvidos de Deus e da fé. Havia choro e lamento de tristeza, e outros davam brados de alegria. Porém, avaliados no santuário, tudo isso era harmônico, porque tudo era real, tudo era “para o Senhor”.

O poder dos gentios 

Entretanto, também existia uma verdadeira confusão, pois lá, um judeu piedoso encontrava-se sujeito ao poder dos gentios. Olhando ao seu redor, ele via alguns de seus irmãos consigo, porém outros ainda estavam longe, entre os pagãos. Se fizesse um exame do povo da terra, ele veria a semente da corrupção, metade judeus e metade pagãos, no lugar que outrora foi compartilhado apenas pela descendência de Abraão. Luz e energia eram necessárias para lidar com aquela estranha combinação de dificuldades e contradições, mas a luz e a energia se encontravam graciosamente entre aqueles do remanescente piedoso que havia retornado. Eles distinguiram as coisas divergentes, curvando-se à autoridade da Pérsia, como posta sobre eles por ordenação de Deus, enquanto recusavam oferecer ajuda aos Samaritanos, sendo eles falsos para com o Deus de seus pais. O remanescente está sujeito às “autoridades que há”, mas repudiava a impureza religiosa. Tudo isso é muito pertinente à condição presente que vivemos, porque os princípios encontrados naquela situação reaparecem entre os santos dos nossos dias. A fé ainda faz uso da Palavra escrita para todas as coisas, porém, não faz nada além de suas possibilidades. Não lança fora o que tem, porque não tem mais nada, além disso. Não diz: “Não há esperança” e fica parada só porque algumas manifestações de poder em certas formas de glória já não nos pertencem mais, porém, ela, a fé, não vai imitar o poder ou copiar a imagem do que já não existe mais. E espera pelo dia em que todas as coisas estarão em eterna ordem e beleza pela presença d’Ele que é a verdadeira Luz e Perfeição.

A confusão 

Entretanto, a fé ainda reconhece a confusão. Se vemos isso em Israel no tempo de Esdras, também veremos entre os santos e as assembleias nos dias de 2 Timóteo, e os dias de 2 Timóteo eram apenas o começo do presente dia da Cristandade ou da “Grande Casa”. Elementos estranhos e inconsistentes nos cercam, assim como cercaram os cativos que retornaram. Estamos na presente grande casa da Cristandade, com seus vasos limpos e sujos, alguns para honra e outros para desonra. Devemos, entretanto, ser encorajados por aqueles cativos, porque havia mais energia e luz e mais profundo exercício de espírito no retorno da Babilônia, do que na remissão do Egito.

Construindo casas 

Nós também podemos ser advertidos pelos cativos que retornaram. Eles necessitavam de um novo avivamento, mesmo que já tivessem retornado a Jerusalém. O decreto de Artaxerxes tinha parado a construção do templo, e a natureza tomou vantagem disso. Os cativos começaram, então, a adornar suas próprias casas, logo que foram libertados do trabalho na casa do Senhor. É dito que é mais fácil ganhar a vitória do que usá-la. Nós podemos conquistar na luta, mas ser derrotados pela vitória. Os judeus que retornaram tinham ganho a vitória quando recusaram as ofertas e a aliança com os samaritanos, porém, o tempo livre que surgiu se tornou um laço ao remanescente. Eles aproveitaram para trabalhar nos forros e adornos para suas próprias casas. Mas o Espírito de Deus não estava preso, e pôde reviver Sua antiga graça mandando Seus profetas até eles. “É para vós tempo de habitardes nas vossas casas estucadas, e esta casa há de ficar deserta?” (Ag 1:4), disse o Espírito, que os convenceu e repreendeu, pelo profeta Ageu. E como resultado a Casa passou a ter atenção novamente, o zelo do povo foi revivido, e eles trabalharam com dedicação renovada.

E a dedicação da Casa então acontece. Eles celebram a sua Páscoa e os sacerdotes e levitas também estão purificados agora, como não estiveram no tempo do reino de Ezequias. Com isso, então, podemos dizer que mesmo havendo falta de toda a glória manifesta, ainda assim, houve mais atração pela graça moral e pelo poder do que nos mais brilhantes dias do Egito, de Ezequias e de Salomão.

A históriade Esdras 

Agora entramos na segunda parte do livro, começando pelo capítulo sete, já passamos por um intervalo de sessenta anos, e estamos em companhia da nova geração de cativos, estamos prestes a testemunhar um segundo êxodo da Babilônia. Essa porção do livro nos apresenta a história do próprio Esdras.

Ela é dividida em duas partes, que são: sua jornada vindo da Babilônia e seu trabalho em Jerusalém. Em cada uma dessas partes podemos vê-lo claramente como um homem de Deus. Seus recursos eram apenas os que temos nos dias atuais – A Palavra e a presença de Deus. E ele os usou, e os usou bem. Durante todo o período podemos vê-lo em comunhão estreita com o Senhor, levando a Palavra de Deus para todas as dificuldades e obstáculos. Ele liderou um pequeno remanescente desde a Babilônia até Jerusalém, mas exercitou um espírito de fé e obediência.

A jornada 

Ao começar a jornada, ele foi cuidadoso em preservar a santidade das coisas sagradas. Ele atribuiu aos Levitas a responsabilidade de levá-las até seu lugar, mesmo que isso tenha atrasado sua jornada pelas margens do rio Aava em doze dias. É muito doce, entretanto, ver um santo mesmo que em fraqueza das circunstâncias, caminhando diante de Deus através de seus serviços e deveres. E, além disso, ele não pediu a ajuda do rei da Pérsia, Ele obteve forças de Deus através do jejum, ao invés de recorrer ao rei.

A jornada foi completada sem nenhum dano ou perda pelo caminho. Todos os tesouros foram entregues no Templo, da mesma forma que foram pesados e contados no rio Aava. Então, Esdras teve que olhar ao seu redor, em Jerusalém, e a visão foi esmagadora. O declínio dos cativos que retornaram tomou lugar rapidamente, e a corrupção trabalhou muito bem. A figura de Esdras ilustra, de maneira bendita, o sentimento piedoso de se lamentar pelo pecado de outros homens – parecido com a afeição de Cristo. De fato, tal amostra nesse homem de Deus pode muito bem humilhar alguns de nós. A descendência santa novamente se misturou com o povo que estava na terra: os judeus se uniram em parentesco com os gentios.

Separação para Deus 

Para que algo seja mantido puro no progresso da dispensação, o poder vivificador deve ser aplicado de maneira constante, uma revigorada separação para Deus e Suas verdades deve ocorrer. Assim aconteceu naquele momento com Esdras em Jerusalém. Mas agora iremos pausar por um momento, para considerar alguns princípios divinos. No dia do dilúvio, Deus separou d’Ele e de sua criação as impurezas através do juízo. Mas quando o mundo se corrompeu novamente após o dilúvio, Ele diferenciou o puro do impuro pelo chamamento de Abraão para Si mesmo para Se fazer conhecido, de modo que Abraão caminhasse junto a Ele, apartado do mundo. Essas são amostras do que Ele tem feito desde então, e ainda está fazendo. A separação do mal é, em um sentido amplo, o princípio de comunhão com Ele.

Esdras logo descobriu que os cativos que retornaram tinham praticamente esquecido de tudo isso. Os filhos dos cativos estavam se casando, e dando-se em casamento aos gentios. Esdras então se envolveu numa obra de reforma, e a bênção do Senhor espera por isso. Não há milagre, nem glória manifestada, nenhuma energia poderosa, falando da extraordinária presença divina, o serviço foi feito para a glória do Deus de Israel, e no espírito de adoração e comunhão. Esdras manteve os princípios, e levou a Palavra de Deus para cada obstáculo.

Creio profundamente que os Santos de Deus, nos nossos dias, podem ler a história do retorno dos cativos que é muito boa para a edificação, pois vão encontrar muita instrução, encorajamento, avisos e com isso humilharem-se a si mesmos.

Present Testimony (adaptado)

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