Origem: Revista O Cristão – Neemias
Esdras e Neemias – Uma Abordagem do Fracasso Entre o Povo de Deus
Neemias e Esdras viveram aproximadamente na mesma época, e ambos eram homens fiéis. Cada um tinha um coração voltado para o Senhor e ambos foram levantados pelo Senhor para um propósito específico. No entanto, é evidente que seus caráteres eram muito diferentes. Neemias chegou à Jerusalém alguns anos depois de Esdras ter chegado ali, e alguns sugeriram que houve um fracasso por parte de Esdras, que se concentrou em ensinar o povo e em lidar com seus pecados, enquanto os muros de Jerusalém estavam ainda em ruínas. Ele certamente havia visto todos os escombros e a desolação do muro, e alguns questionaram por que ele não tratou do assunto, assim como estava ocupado com o povo e o templo.
A isto só podemos responder que Deus usa Seus servos de acordo com o Seu próprio propósito, e era importante que o estado do povo estivesse correto antes que eles fossem exercitados para reconstruir o muro. Assim, Deus usou um Zorobabel para construir o templo, um Esdras para ensinar o povo e relembrá-los do Senhor, e um Neemias para construir o muro. Cada um foi escolhido pelo Senhor e preparado para o trabalho que Ele lhes havia dado.
No entanto, gostaria de sugerir que há uma lição importante que podemos aprender, se observarmos as diferentes maneiras pelas quais esses dois homens fiéis abordaram o fracasso e a dificuldade entre o povo de Deus. Ambos reconheceram o fracasso do povo de Deus e se identificaram com ele. Ambos tinham um desejo pela honra e glória do Senhor e procuraram diligentemente resolver os problemas que encontraram. Mas, novamente, cada um abordou essas dificuldades de uma maneira diferente e podemos aprender com a experiência deles.
A missão de Esdras
Esdras, que veio a Jerusalém uns treze anos antes de Neemias, teve que enfrentar um declínio no estado espiritual do povo que havia voltado para a terra de Israel. Quase cinquenta anos haviam se passado desde a dedicação do templo, e não havia mais a mesma energia para o Senhor e Seus interesses como havia acontecido quando “os filhos de Israel que tinham voltado do cativeiro, com todos os que a eles se apartavam da imundícia das nações da terra, para buscarem o SENHOR, Deus de Israel. E celebraram a Festa dos Pães Asmos os sete dias com alegria” e fortaleceram as suas mãos “na obra da Casa de Deus” (Ed 6:21-22). O mal tinha entrado, e foi relatado a Esdras que “O povo de Israel, e os sacerdotes, e os levitas não se têm separado dos povos destas terras… porque tomaram das suas filhas para si e para seus filhos, e assim se misturou a semente santa com os povos destas terras” (Ed 9:1-2).
A reação de Esdras é admirável, pois lemos: “rasguei a minha veste e o meu manto, e arranquei os cabelos da minha cabeça e da minha barba, e me assentei atônito” (Ed 9:3). O resultado foi que “então, se ajuntaram a mim todos os que tremiam das palavras do Deus de Israel” (v. 4). Esdras então caiu de joelhos, confessando o pecado da nação como sendo seu, e reconhecendo sua situação atual como sendo o resultado de um sério fracasso no passado. Por sua vez, o próprio Deus trabalhou no coração do povo para que desejassem corrigir o problema com o afastamento daquelas esposas pagãs, enquanto Esdras continuava em jejum e luto. O resultado dessa humildade de coração diante do Senhor foi um tratamento minucioso com o assunto, por mais doloroso que tenha sido. Foi uma obra de Deus e Ele recebeu a glória.
A missão de Neemias
Como temos notado, Neemias veio alguns anos depois de Esdras, e eles se conheceram, pois são vistos trabalhando juntos (veja Neemias 8:9). Neemias era um homem ativo – alguém que era prático em suas perspectivas e queria fazer as coisas. Como já mencionamos, ele também confessou o pecado de Israel como sendo seu, lamentando e jejuando, e especialmente quando um relato foi trazido a ele sobre o triste estado do muro e das portas de Jerusalém. Foi sua energia e entusiasmo que estimulou o povo a reconstruir o muro, que evidentemente estava em péssimo estado desde que fora derrubado por Nabucodonosor, mais de 130 anos antes.
Mais tarde, chamou à sua atenção que alguns dos nobres estavam oprimindo os pobres, exigindo sua usura e causando grandes dificuldades. Em vez de se sentar diante do Senhor, está registrado que Neemias estava “muito aborrecido” e registra que eu “considerei comigo mesmo” (Ne 5:6-7). Mais do que isso, concernente aos nobres, ele ajuntou “contra eles um grande ajuntamento” (v. 7). O Senhor trabalhou no coração desses nobres e a restituição foi feita àqueles que foram injustiçados, pelo que podemos agradecer ao Senhor. Mas, mais tarde, Neemias pôde dizer ao Senhor: “Lembra-Te de mim para bem, ó meu Deus, e de tudo quanto fiz a este povo” (Ne 5:19). Em vez de o Senhor obter a glória, Neemias a tomou para si, querendo que o Senhor Se lembrasse de tudo o que ele havia feito.
A segunda visita de Neemias
Parece que depois de alguns anos em Jerusalém, Neemias voltou para a Pérsia, mas depois ele voltou a visitar seu povo “no ano trinta e dois de Artaxerxes, rei de Babilônia” (Ne 13:6). Mais uma vez, ele descobriu que um grave fracasso havia se desenvolvido em sua ausência, tanto na profanação do templo quanto em profanar o sábado. Além disso, parte do povo de Israel, incluindo os que eram governantes e sacerdotes, havia novamente se casado com esposas de outras nações, de modo que seus filhos falavam em dialetos de línguas misturadas.
Mais uma vez, a resposta de Neemias era característica de sua forte personalidade, pois está registrado: “E contendi com eles, e os amaldiçoei, e espanquei alguns deles, e lhes arranquei os cabelos” (Ne 13:25). Em relação a um dos principais ofensores, Neemias declara que “o afugentei de mim” (v. 28). Tudo isso foi, sem dúvida, justa indignação e foi bem merecido pelos malfeitores. Mas enquanto a glória do Senhor estava diante de Neemias, parece que o ego e a energia da natureza entraram em sua maneira de lidar com o mal. Novamente, a palavra final do livro é: “Lembra-Te de mim, Deus meu, para o bem” (v. 31).
Chamamos a atenção para tudo isso, não para lançar pedras em Neemias ou difamar seu caráter, mas simplesmente para salientar que é muito melhor se humilhar e permitir que o Senhor trabalhe em corações culpados, em vez de recorrer à energia humana. O Senhor em Seus caminhos pode permitir que a energia humana atinja Seu propósito, mas quanto melhor permitir que Ele trabalhe. Então corações frios são aquecidos e trazidos de volta a Ele, e finalmente Ele recebe a glória, não nós que podemos ser usados por Ele.
