Origem: Revista O Cristão – Graça e Governo
Um Espinho na Carne
Em outros artigos desta edição, falamos principalmente sobre o governo de Deus “depois do fato”, por assim dizer – uma colheita do que semeamos. Isto é, falamos de como Deus, em Sua bondade e sabedoria, exerce o governo em nossa vida como crentes quando fracassamos. Tudo isso é em amor, mas também de acordo com a Sua natureza santa, porque nós pertencemos a Ele. No entanto, há um aspecto dos caminhos de Deus para conosco que é antecipativo – uma sabedoria que prevê como um conjunto de circunstâncias provocará a carne a agir e, em uma combinação de graça e governo, introduzirá aquilo que impedirá o fracasso. Vemos isso exemplificado no espinho na carne que foi dado a Paulo.
Como o vaso escolhido por Deus para receber a revelação especial da verdade da assembleia, Paulo teve um lugar único entre os apóstolos. De acordo com essa revelação, ele “foi arrebatado até ao terceiro céu”, onde ele “ouviu palavras inefáveis [indizíveis – TB]” (2 Co 12:2, 4). Tudo isso foi a mais maravilhosa experiência e, até onde sabemos, uma experiência que nenhum outro teve o privilégio de ter. Enquanto Paulo estava desfrutando dessa experiência, ele nem mesmo estava consciente de estar ou não no corpo, e a carne não poderia estar ativa em tal cena como esta. Em vez disso, ele fala de si mesmo como “um homem em Cristo” (2 Co 12:2).
A prevenção
No entanto, quando Paulo voltou à Terra, Deus previu o perigo de que ele se “exaltasse pelas excelências das revelações” (2 Co 12:7). A experiência no terceiro céu, embora mais edificante, não mudou em nada a carne em Paulo, e ele estava tão propenso a ser exaltado em orgulho quanto antes. O Senhor previu isso em Seu fiel servo e, em Sua graça e Seu governo, deu-lhe um espinho na carne para impedir isso. Paulo, a princípio, ficou muito angustiado com esse espinho e, por três vezes, pediu ao Senhor que o removesse (2 Co 12:8). Não nos é dito exatamente o que era, mas evidentemente era algo físico que ele sentia ser um grande obstáculo para ele. Mais tarde, ao ver o efeito desse espinho em impedir a carne de agir, ele pôde dizer: “Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando estou fraco, então, sou forte” (2 Co 12:10).
Assim acontece conosco hoje, exceto que muitas vezes não temos consciência disso em nossa vida. Muitas vezes não vemos com clareza como Paulo percebeu, e não discernimos a graça de Deus em Seus caminhos governamentais conosco. Alguém colocou isso dessa forma: “Penso que limitamos nossos pensamentos à remoção da distância entre nós e o Senhor, quando a atividade de nossa carne produziu tal distanciamento. Não pensamos suficientemente em quantas vezes Ele impede uma distância entre Ele e nós. Isso lançaria luz em muitas circunstâncias de nossa história – muitas tristezas, muitos problemas, muitas circunstâncias desfavoráveis que desejávamos de outra forma – se nosso coração estivesse na consciência divina de que havia Alguém que sabe que existe em nós um material carnal a ser trabalhado, de modo que a distância surgisse, e Quem sabe exatamente quando Se interpor. Que luz brilharia sobre nós em muitos dias sombrios! Oh! Que tipo de amor abençoado é que não só pode se curvar para remover a contaminação quando está lá, mas antecipa o funcionamento dessa natureza maligna em mim e coloca um obstáculo no caminho dela! Isso me dá a bem-aventurança de aprender o que é a carne, em comunhão com Deus, em vez de aprendê-la em companhia do diabo, e você deve aprender isso de uma destas duas maneiras. Se você não aprender que tipo de criatura você é em comunhão com Deus, como Paulo fez, então você terá que aprendê-lo em companhia do diabo como Pedro fez! Que solene! Havia, então, por parte do apóstolo, o aprendizado de si mesmo em comunhão com Deus, e havia o amor antecipado do bendito Senhor”.
Não precisamos dizer mais nada, exceto desejar que nosso coração esteja mais sintonizado com o coração do Senhor, para que possamos aprender da carne em nós em comunhão com Ele, em vez de termos Satanás obtendo uma vantagem sobre nós. A amarga experiência de um espinho na carne é muito preferível à amarga experiência de ver a atividade da carne, pois então o poder de Cristo repousa sobre nós e, em nossa fraqueza humana, temos Sua força.
