Origem: Revista O Cristão – O Espírito Cristão

Humildade e Dependência

Romanos 12:3 

“Porque, pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não saiba mais do que convém saber, mas que saiba com temperança, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um”.

A caminhada do Cristão, de acordo com Romanos 12:12, deve ser caracterizada por devoção e obediência, e de acordo com o versículo diante de nós por humildade e dependência.

Estas quatro graças, mantidas vigilantes na presença de Deus, certamente produziriam um Cristão muito completo, muito semelhante ao seu Senhor e Mestre, que, embora inteiramente dedicado à glória de Deus, era manso e humilde de coração. Devemos naturalmente supor que, quando existe tal devoção a Deus, tanto no corpo como na alma, também haveria grande sobriedade de julgamento e humildade em seus pensamentos. Mas nem sempre acontece isto. Um está longe de ser uma consequência do outro. Pelo contrário, há sempre um perigo de a carne entrar em cena e se aproveitar do poder que tal devoção dá, seja para assumir um tom de superioridade e altivez, ou para fingir uma falsa humildade e falar com desprezo de si mesmo. Isso é manifesto de todos os lados no presente momento, e está escrito em todas as páginas da história da Igreja. Dessa tendência, o apóstolo estava plenamente consciente e adverte contra isso, à medida que aprendemos com o tom peculiar e a energia de seu estilo nesse versículo.

De acordo com a graça dada 

As palavras: “pela graça que me é dada”, têm mais o tom de autoridade apostólica do que a de petições afetuosas de um irmão, como no primeiro versículo: “Rogo-vos, pois, irmãos”. Mas não devemos supor que o estilo deste versículo seja menos perfeito, menos consistente ou menos afetuoso que o outro, mas que o caráter da exortação, na sabedoria de Deus, requeria um tom e estilo diferentes! Firmeza é perfeitamente consistente com a humildade e fidelidade com o mais forte afeto.

O apóstolo se coloca, por assim dizer, no centro do Cristianismo prático. Ele vê seus comportamentos por todos os lados. Sua mente está cheia dos princípios mais elevados de inteira devoção à vontade de Deus, e também aos dons mais humildes, que deveriam encontrar sua expressão nos ministérios graciosos de amor entre os santos. Ele escreve com decisão e energia para assegurar ambos. O primeiro ele havia ordenado fielmente nos dois primeiros versículos, e agora ele está prestes a entrar em grandes detalhes sobre o último. O terceiro é seu ponto de vista. Ele claramente vê e sente, como alguém que permanece à luz de Deus, que a mente exaltada seria ruim para o primeiro e um impedimento efetivo para o segundo. Sendo a vontade de Deus o objeto do serviço Cristão, seja na esfera mais alta ou na mais humilde, a verdadeira devoção deve consistir na negação de si mesmo e em humildemente esperar em Deus para conhecer Sua boa e perfeita vontade em todas as coisas. A vontade humana deve ser posta de lado, se quisermos entrar no significado, importância e aplicação desse tesouro condensado de Cristianismo prático.

Auto-avaliação e falsa humildade 

Vemos agora uma razão divina para a alteração do estilo do grande apóstolo, e também vemos que ele é mais pessoal em sua aplicação dessa pesada verdade. Ele não se dirige apenas à Igreja como um corpo, mas apela a todos os santos de Roma – tanto o menor quanto o maior. Isso mostrará como todos tendem a supervalorizar a si mesmos, mesmo na Igreja de Deus e em seu serviço aos Seus santos. Oh, que corações enganosos nós temos! Que necessidade de vigilância – por constante comunhão com o verdadeiramente humilde e abençoado Senhor, que “amou e Se entregou a Si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave”.

Mas há um erro contraditório no qual muitos caem e que deve ser muito cuidadosamente evitado pelo Cristão. Este é uma simulação de humildade, ou seja, falar de si mesmo de maneira depreciativa. Quando um homem fala de “sua pequena medida, de ser a pessoa mais inadequada para o importante trabalho que tem em mãos”, sentimos que ele está sendo imprudente e não sincero. Deus nunca requer o exercício de um dom que Ele não tenha concedido. Essa espécie de falsa humildade deve ser observada por todos os que desejam andar com Deus em integridade de coração. Deus é real e Ele deve encontrar realidade em nós. Ele é verdadeiro e precisa ter verdade em nosso interior. No entanto, há aqueles que honestamente, mas indevidamente, depreciam seu dom e deixam de agir por Deus e por Seu povo. Isto é uma falsa modéstia e também um mal grave, e que o Senhor deve julgar mais cedo ou mais tarde. Mas agora observe a sabedoria da Escritura. Só isso, pela graça de Deus, pode dar uma mente equilibrada e bem ajustada.

Conforme a medida da fé 

“Saiba com temperança, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um”. A primeira coisa é encontrar o seu verdadeiro lugar na presença de Deus, de acordo com a sua fé em Cristo, e depois o seu próprio lugar entre os seus companheiros de serviço. A medida de fé com a qual cada crente é abençoado, na soberana graça de Deus, torna-se o limite apropriado, dentro do qual ele deve ocupar-se de acordo com a vontade de Deus. Certamente o homem que tem a maior fé, que é um pai em Cristo, e que conhece a maior parte da Palavra de Deus, subirá ao seu próprio nível entre os seus companheiros Cristãos, onde o Espírito Santo governa. O Senhor nos dá a conhecer a medida e o caráter de nosso dom, para o que Ele nos preparou, para que possamos ser preservados de todos os extremos. Nisto, como em todas as coisas, o caminho do Cristão é estreito e requer discernimento espiritual. Nada menos do que comunhão constante com Aquele que encerrou Sua vida de perfeita obediência na cruz nos manterá no lugar da verdadeira humildade, obediência e dependência. Que o Senhor conduza Seus servos em Seu próprio caminho, preservando-os da indolência que adormece, da energia da natureza que iria depressa demais, de uma falsa modéstia que se recusa a obedecer a Sua vontade, e da falta de modéstia que cede ao impulso da vontade natural. Que nunca nos esqueçamos de que “a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo” (Ef 4:7).

Adaptado de Meditations on Christian Devotedness

A. Miller

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