Origem: Revista O Cristão – O Espírito Cristão
Seu Descanso e o Nosso Descanso
Sofonias 3:17; Mateus 11:16-30
É uma coisa maravilhosa que possamos falar sobre descanso no nosso caminho atravessando este mundo. Mas há algo mais maravilhoso ainda na primeira passagem diante de nós, “Descansará no Seu amor” (Sf 3:17 – TB), que Deus fale de encontrar descanso para Si mesmo nos pensamentos e caminhos de Seu amor para conosco. Assim ainda é! Não é meramente que Deus tem procurado descanso para nós na revelação que Ele nos deu de Si mesmo no evangelho. Ele estava satisfazendo a Si mesmo. Ele salva, mas é para “Se deleitar em Ti [Si mesmo] com alegria”. E este é o pensamento primário daquela parábola de Seu coração em Lucas 15. Ele estava reservado, sentimos, na casa do fariseu (Lc 14), mas agora, na companhia de pecadores, ele joga fora toda a reserva e revela que é o gozo perfeito e bendito de Deus, não apenas para receber e comer com tais, como o fariseu disse, mas, deliberadamente, procurar que Ele possa recebê-los e comer com eles. Nem Ele descansará até que o pobre e condenado filho pródigo, agora beijado, abraçado e vestido com a melhor roupa, esteja sentado à Sua mesa – “E começaram a alegrar-se”, e “ele Se deleitará em ti com alegria”. Ele descansa em Seu amor que O Satisfaz a Si mesmo ou, como a bela palavra do original exprime, “calar-Se-á por Seu amor” (ARC) – calado porque não há mais nada a fazer, nada mais para revelar o que Ele tem feito e do lugar em que Ele nos trouxe diante d’Ele. Ele nos expõe diante de Seu olhar na perfeição de Cristo e está satisfeito. Que benção maravilhosa para nós! Mas as primícias desse descanso é para Ele. E isso nos dá a fonte de todo o descanso para nós, nos encontrarmos no descanso que há para Deus, nos pensamentos de Seu amor e em Sua realização. Primeiramente, a passagem pertence ao futuro de Israel, mas muito mais completamente para nós.
Seu descanso em Seu amor
Mas se Ele repousa em Seu amor (em Mateus 11), Ele nos traz para descansar nele. Mas observe como é introduzido, pois é isso que lhe dá o caráter completo (Leia Mateus 11:16-24). O Senhor Jesus havia passado por este mundo e não encontrou ninguém – nem uma coisa – para descansar. Ele havia provado isso completamente. Ele sentiu Sua rejeição pelas cidades onde a maioria de Suas obras poderosas foram feitas? Ele sentiu isso intensamente, como nenhum outro coração poderia. Não havia nada além de tristeza e provação em Suas circunstâncias, mas Ele tinha um segredo de descanso: “Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças Te dou, ó Pai, Senhor do céu e da Terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos”. Ele conhecia o Pai. Esses eram os caminhos do Pai para com Ele. A provação que O pressionou foi a ordem da infinita sabedoria e do amor do Pai. Ele tomou isso como vindo da mão do Pai. Ele respondeu à rejeição das cidades dizendo: “Graças Te dou, ó Pai… assim é, ó Pai, porque assim Te aprouve”. Assim Ele foi testado e perfeitamente provado em confiança e obediência. Ele vê claramente, como com um olho sempre simples, para discernir o lugar que Lhe foi dado pelo Pai. A mais profunda glória de Sua Pessoa vem diante d’Ele e a obra que Ele veio fazer em conexão com ela: “Todas as coisas Me foram entregues por Meu Pai; e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho O quiser revelar”. Rejeitado quando apresentado como Messias a Israel, Ele revela o Pai a quem Ele quiser.
Nosso descanso de consciência e relacionamento
Mas agora vem a pergunta: A quem Ele deseja revelá-Lo? “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei”. Há corações perturbados que não encontraram nada para satisfazê-los, nenhuma fonte de descanso neste pobre mundo? Ele nos pede que venhamos a Ele para nos revelar o Pai e assim nos levar ao segredo de Seu próprio descanso perfeito, de modo que, onde Ele reclinou a cabeça, que não tinha onde reclinar neste mundo, possamos reclinar agora a nossa, no seio do amor de um Pai.
A conexão imediata dos versículos deve ser mantida, pois isso dá ambos os aspectos de descanso. Ele fala de seu caráter pleno e preciosidade. Este primeiro descanso não é o descanso de consciência meramente obtido com o perdão dos pecados, como é normalmente aceito, por não observar as conexões mais profundas dos pensamentos na passagem, apesar de estar em primeiro lugar e dever ser incluído nelas. Mas é nada menos que a revelação do Pai para nossa alma.
O perdão dos pecados não nos levará tão longe para descansarmos ao passar por tal mundo. O coração quer um relacionamento, nada além de um relacionamento divino irá satisfazê-lo, e é nisso a que Ele nos traz. É uma coisa totalmente distinta e encontrada pelas almas de maneira prática. Não é tudo de uma vez, quando nascemos de Deus, com a maioria de nós, que entramos no conhecimento do Pai, e ainda assim em 1 João 2 o apóstolo se dirige aos filhinhos na família de Deus por que eles conhecem o Pai. Assim, é o privilégio de todos. Quando chegamos a Jesus, Ele nos faz saber que é para o Pai que viemos: “Quem Me vê a Mim vê o Pai” (Jo 14:9). Que descanso abençoado é esse! Bendito Senhor, fizeste boa a Tua palavra para nós. Nós trabalhamos e estávamos sobrecarregados, e nos atraístes para Ti e nos revelaste o Pai, e isso é descanso. Nosso coração se deleita em possuí-lo.
Isso nos leva à origem de toda a provação que vem, seja qual for o caráter dela. O amor de um Pai nos colocou nela, o que quer que pareça, direta ou indiretamente, ter sido o que a trouxe. Quão distante a provação em Seu caso pode ter parecido dos tratamentos do Pai com Ele, mas é o título da fé não aceitar nada menor do que o conhecido amor do Pai. Então haverá algo mais presente e real para o coração que as circunstâncias das provações, a saber, Aquele que nos põe nelas e a certeza da Sua sabedoria e amor em fazer isso. “Graças Te dou, ó Pai… assim é, ó Pai, porque assim Te aprouve”.
O descanso da submissão e da obediência
Mas isso nos conduz simples e naturalmente ao próximo caráter de descanso, e isso também foi ilustrado no caminho do Senhor Jesus. “Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma”. Este é o descanso que entramos pela submissão e obediência a vontade do Pai. Pois qual era o julgo de Jesus que Ele nos ordena que tomemos sobre nós? Era aquele que acabamos de ver n’Ele – aquela perfeita obediência que se submetia em tudo à vontade do Pai. Isto é maravilhosamente trazido diante de nós nas palavras de Isaías 50:4-6: Aquele que era Jeová (v. 4) tomou em graça o caminho de um aprendiz. “Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu” (Hb 5:8). “Todas as manhãs, desperta-Me o ouvido para que ouça como aqueles que aprendem”. Assim, Ele pôde dizer: “O Senhor JEOVÁ Me deu uma língua erudita, para que Eu saiba dizer, a seu tempo, uma boa palavra ao que está cansado”. Que palavra a seu tempo era para cada um de nós, amados irmãos, quando Ele nos chamou para revelar a nós o Pai! Quão profundamente aumenta a sua preciosidade que Ele falou da experiência que adquiriu em Seu próprio caminho no mundo, pelo qual temos que passar. Agora Ele nos chama para aprender com Ele, para tomar Seu jugo sobre nós. Ele, sempre manso e humilde, inclinou-Se à vontade do Pai em tudo o que veio sobre Ele. Esta é a única condição necessária para desfrutarmos do descanso continuado em nossa alma. Seu descanso foi perfeito em Seu caminho através de circunstâncias de inigualável provação, porque Sua submissão foi perfeita, e Ele deseja que conheçamos o mesmo descanso perfeito em tudo o que possamos ter que passar, fazendo prova de que Seu jugo é suave e Seu fardo é leve.
Não ter vontade própria é a única liberdade perfeita. É o agir da vontade na provação que dá a ela a amargura; Deus tem que Se colocar contra qualquer ação em nós, para esmagá-la, para nossa benção. Nossa teimosia aumentou a provação, mas finalmente a vontade é quebrada e nos entregamos a Deus. No instante em que tomamos a parte de Deus contra nós mesmos, nos submetendo absolutamente a Ele, a dor é retirada do julgamento. Somos trazidos para o caminho de Cristo, e há todo o conforto da empatia d’Aquele que não conhecia nenhuma vontade além da do Pai. Nós não poderíamos ter ou esperar ter Sua empatia na nossa obstinação. Fomos santificados para a obediência de Cristo. Muitas vezes é um processo longo e doloroso em nós nos reduzir a isso, mas quando somos levados a nos submeter ao Seu jugo, a sensação de esmagamento e amargura desaparece. Foi o conhecimento do Pai que Ele nos trouxe em primeiro lugar, e o título que temos para tomar tudo como vindo de Seu coração, é o que torna agora possível e fácil nos submetermos sob a Sua mão: “Sim, ó Pai, porque assim Te aprouve”.
O descanso de Deus que permanece para nós
Ainda resta mais um caráter do descanso. E ele nos é apresentado em Hebreus 4. Os vários caráteres de descanso que temos visto são presentes. Este é futuro: “Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus” (v. 9). Estamos a caminho dele. Os crentes entram nele (v. 3), mas o que dá a ele este caráter é que ele é o “Seu descanso”. É o descanso de Deus, e ele é assim desenvolvido. “Porque aquele que entrou no seu repouso, ele próprio repousou de suas obras, como Deus das Suas” (v. 10). Não é o descanso que a alma entra agora por crer no evangelho. Ele permanece para o povo de Deus. Este é o descanso do fim do caminho, quando a obra da fé, o trabalho do amor e a paciência da esperança estarão acabadas. As obras das quais Deus descansou não eram obras más. Ele disse que eram “muito boas”. Ele descansou quando Sua obra estava finalizada, e no Seu descanso o povo de Deus irá entrar quando suas obras estiverem finalizadas. Elas não são obras vãs de tentar estabelecer nossa própria justiça, mas a obra, trabalho e energia da fé que agora é necessária para cada passo no caminho do chamado celestial. Existe uma esfera de descanso que pertence a Deus; É o Seu próprio descanso, onde estas coisas não terão mais lugar.
Eles sabiam pouco sobre o coração de Deus que buscava impedir o Senhor Jesus de descansar em uma cena onde um homem estava aflito por causa de uma doença por trinta e oito anos (Jo 5). Quando tudo ainda estava tão bom como Ele fez, “descansou no sétimo dia de toda a Sua obra, que tinha feito”, mas quando o pecado entrou com o toda sua carga de miséria e morte, tudo isso foi quebrado. “Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também” até que esse maravilhoso trabalho foi realizado, sobre o qual podemos ser introduzidos para fora de todos os desassossegos aqui e ao descanso de Deus. O descanso de Deus é uma cena adequada ao coração de Deus para a bênção dos Seus, onde nenhum traço de pecado ou de suas consequências podem ser encontrados, onde nenhuma lágrima ou sopro de provação jamais virá. O perigo é que algum de nós pareça estar aquém disso, isto é, pensando em encontrar descanso em qualquer lugar aquém dos conselhos de Deus para nós – o descanso de Deus que permanece para nós.
O caminho da fé agora tem que ser trilhado de maneira correta, passo a passo, com diligência de coração, através de uma cena em que princípios se levantam para nos opor. Quando chegamos ao descanso de Deus, podemos relaxar a diligência e deixar o coração ir de encontro a tudo. Tudo será apenas o reflexo da Sua glória e beleza. Para que no descanso de Deus, “eles… descansem dos seus trabalhos”, mas agora temos que trabalhar (ou “usar diligência”) para entrar nesse descanso. E nós temos a Palavra de Deus para ser nossa guarda mais poderosa e necessária para detectar para nós, como um quem discerne os pensamentos e intenções do coração, tudo o que diminuiria o nosso ritmo pressionando por tudo aqui para alcançar a cena abençoada que se abre diante de nosso coração – a brilhante vista de um descanso eterno, o descanso de Deus, onde Deus permanecerá, por assim dizer, no limiar de um novo céu e uma nova Terra, para enxugar todas as lágrimas e todos os vestígios de tristeza que entrou pelo pecado na velha criação. Mas foi neste mundo arruinado e pela própria ruína que fomos levados a conhecer Aquele que nos revelou o Pai, e onde as provações e exercícios do nosso caminho são feitos para produzir frutos tão ricos em bênção para nossa alma. Aprendendo, então, do Manso e Humilde, Aquele que trilhou o caminho diante de nós, colocando nossa cabeça no seio do amor do Pai. Que nos submetamos absolutamente a Ele, até que a cena de Seus caminhos conosco se encerre para nós no Seu descanso e glória para sempre.
Truth for Believers, Vol. 1
