Origem: Revista O Cristão – Oração

Está Alguém Entre Vós Doente?

Lemos em Tiago 5:14-15: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados”. Este versículo causou dificuldade em alguns, como parece, à primeira vista, como uma “declaração geral” que cobre doenças de qualquer tipo, a qualquer momento e com uma garantia positiva da cura do Senhor, em resposta à oração da fé. No entanto, também é óbvio na Escritura que os dons de sinais eram temporários, como curas e línguas; e, que depois que os fundamentos da Igreja foram lançados, eles cessaram. Mais do que isso, lemos sobre várias pessoas nos tempos apostólicos que estavam enfermas, e algumas que estavam evidentemente seriamente doentes, e ainda assim essa provisão não foi usada, nem o dom da cura foi exercido. Como entendemos então esses versículos?

O dom da cura 

Antes de tudo, devemos entender a diferença entre o dom de cura e a oração da fé, conforme nos é dado em Tiago 5:15. O dom de cura, como o dom de línguas, era principalmente um sinal para os incrédulos e raramente era usado nos crentes. O caso de Docas em Atos 9 é uma exceção, mas embora ela fosse crente, o testemunho prestado por ela ter sido ressuscitada, foi principalmente para os incrédulos. No caso mencionado em Tiago 5, não havia dom especial de cura, mas a oração da fé pelos anciãos responsáveis em uma assembleia local, acreditando que o Senhor responderia à oração deles.

Além disso, quando o dom de cura era exercido, não havia questão de conduta da parte daquele a ser curado. Todos foram curados, como um sinal da graça e bondade de Deus para o homem. Mas se um crente pedia aos anciãos que orassem por sua cura, a questão de seu estado de alma e de sua conduta passada, eram trazidos à cena. Se ele tivesse cometido pecados, eles seriam perdoados. Este foi, sem dúvida, o perdão governamental do Senhor, e a doença que foi permitida por Deus foi removida. Observamos, no entanto, que o pecado não precisa estar envolvido; diz: Se houver cometido pecados”.

A epístola ao povo terrenal 

Devemos lembrar também de que em Tiago estamos envolvidos com uma epístola escrita aos judeus de todas as 12 tribos, alguns dos quais foram realmente salvos, enquanto outros eram meros professos. Evidentemente, todos continuavam com muitos dos costumes e rituais do judaísmo, chegando ao ponto de se reunirem nas sinagogas. A epístola não é endereçada à assembleia, embora, ao chamar os anciãos, é claro, a assembleia estava sendo vista. No entanto, o vínculo entre Deus e Seu povo terrenal ainda não havia sido quebrado.

A questão do uso do óleo da unção também está relacionada ao vínculo entre Deus e Seu povo terrenal. Israel estava acostumado a ungir com óleo, e no Velho Testamento essa era uma figura do poder do Espírito Santo. Embora possa ser feito hoje, devemos lembrar de que não estamos vivendo os dias das “sombras e figuras”, mas na realidade. Foi a oração da fé que efetuou a cura, não a unção com óleo.

As doenças do Egito 

No caso de doença, foi prometido a Israel, como nação do Velho Testamento, libertação das doenças do Egito, se eles fossem obedientes. Aqui na epístola de Tiago, um princípio semelhante está diante de nós – um princípio que se aplica à nossa caminhada prática em qualquer dispensação. A doença nem sempre está associada a uma caminhada descuidada, pois sabemos que na vida do crente, o Senhor pode permitir problemas de saúde por várias razões. Mas em Sua família, Deus frequentemente castiga Seus filhos com doenças corporais, e aqui a doença está relacionada à disciplina de Deus.

A dispensação da graça 

Mas na passagem em Tiago, já no Cristianismo, e sob a dispensação da graça, Deus agiu, não por lei em condenação, mas antes por aquela graça pela qual Ele agora é caracterizado. Os anciãos da assembleia estavam envolvidos – homens piedosos que, em virtude de seu próprio caráter e caminhada, foram capazes de discernir o estado de alma do indivíduo e agir com sabedoria no assunto. Foi a oração da fé deles (embora quem estivesse doente pudesse muito bem se juntar à oração) que salvou e por meio da qual a cura ocorreu. Tampouco o pecado, do qual ele poderia ter sido culpado, foi uma barreira para a cura. Quando o pecado foi admitido, foi perdoado e ele restaurado em sua saúde.

Isso nos leva ao ponto de como e quando esse versículo pode ser aplicado. Os anciãos nos dias apostólicos eram designados por apóstolos ou delegados apostólicos, e, portanto, não temos anciãos oficiais agora. No entanto, o Senhor pode e certamente levanta aqueles que podem muito bem agir nessa capacidade hoje. Porém, nestes últimos dias, nem sempre existem aqueles que, com sabedoria e discernimento, podem ser chamados em caso de doença. Mais do que isso, o estado da assembleia também é um fator e, nestes dias de fraqueza espiritual, às vezes não estamos coletivamente em um estado espiritual para exercer discernimento desse tipo.

Doenças não curadas 

Além disso, como já observamos, há casos de doenças registradas na igreja primitiva onde nenhuma intervenção de qualquer tipo é mencionada, exceto a oração. Por exemplo, Paulo poderia se referir às “frequentes enfermidades” de Timóteo (1 Tm 5:23). Ele também poderia mencionar Epafrodito, que estava “doente, e quase à morte” (Fp 2:27), bem como Trófimo, a quem Paulo deixou “doente em Mileto” (2 Tm 4:20). Em nenhum desses casos houve cura oferecida, seja em virtude do dom de cura de Paulo ou pela oração dos anciãos da assembleia local. Parece óbvio que Paulo reconheceu a mão do Senhor nessas situações, e ele poderia dizer de Epafrodito: “Deus se apiedou dele” (Fp 2:27). Paulo sem dúvida sentiu em sua própria alma que uma intervenção de sua parte não era a mente do Senhor, e ele não interferiu.

Como sempre, devemos tomar as Escrituras como um todo, e não construir uma doutrina em uma passagem tirada do contexto. Sugerimos que esses versículos em Tiago 5 devam ser tratados com discernimento em cada caso, levando em consideração todas as circunstâncias da pessoa envolvida. Em alguns casos, pode ser a mente do Senhor deixar que Ele trate do assunto. Em outros, a oração fervorosa dos anciãos pode ser indicada. Em outros, o pecado pode precisar ser confessado e a consciência do doente atingida. Vivemos nos dias em que o Espírito de Deus está aqui na Terra, e mesmo nestes dias de fraqueza, Ele é capaz de guiar e dirigir, se estivermos prontos para estar sujeitos à Sua liderança. É importante estar na corrente dos pensamentos de Deus e ainda mais em oração particular, a fim de ter Sua mente quando a oração for solicitada por alguém que está doente.

W. J. Prost

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