Origem: Revista O Cristão – Além da Morte
O Estado da Alma Após a Morte
O estado da alma após a morte é um assunto que interessa profundamente a todos nós. Muitos queridos crentes têm a vaga ideia de ir para o céu, mas isso não é mencionado na Escritura, a não ser no único caso do ladrão na cruz indo para estar com Cristo no paraíso. Não que não vamos para lá, mas o pensamento da Escritura sempre está em ir para Cristo. Como Ele está no céu, é claro que vamos para lá, mas estar com Cristo é o que a Escritura apresenta, e isso é importante quanto às nossas afeições espirituais. Cristo é o Objeto diante da alma, de acordo com a Palavra, não simplesmente ser feliz no céu, embora sejamos felizes e no céu.
Felicidade imediata
Meu objetivo agora é dar uma declaração bíblica clara de que há imediata felicidade com Cristo para o Cristão que partiu. É um estado intermediário, pois o Cristão que partiu espera pela ressurreição do corpo – e somente então ele estará em seu estado final em glória. O propósito de Deus é que sejamos conforme à imagem de Seu Filho, para que Ele seja o Primogênito entre muitos irmãos. “Ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque assim como é O veremos” (1 Jo 3:2). Este, e estar para sempre com o Senhor, é o nosso estado eterno, quando Cristo vier e nos receber a Si mesmo, nos transformado à Sua semelhança, quando nosso pobre corpo terrenal tiver sido conformado ao Seu corpo glorioso (Fp 3:21). Duas coisas nos pertencem: primeiro, ser como o próprio Cristo e estar com Ele; segundo, ser abençoado com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais n’Ele. A redenção nos assegurou isso, mas não estamos na possessão disso. Temos apenas o penhor do Espírito, embora Deus tenha nos preparado precisamente para isso.
Lugares celestiais
Além disso, nossa porção está nos lugares celestiais: É distintivo dos crentes que creram e sofreram com Cristo. Nos é dito que Deus irá “congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na Terra” (Ef 1:10). Chegará o tempo em que não somente todas as coisas no céu e na Terra serão reconciliadas (Cl 1:20), mas mesmo as coisas sob a Terra, coisas infernais, serão forçadas a reconhecer Seu poder e autoridade. Todo joelho se dobrará a Ele, e toda língua confessará que Jesus Cristo, o Desprezado e Rejeitado pelos homens, é o Senhor, para a glória de Deus Pai (Fp 2:10-11). Devemos esperar por isso. Mas nesta reunião de todas as coisas no céu e na Terra sob Cristo, nossa parte está nos lugares celestiais; como agora é nossa porção em espírito, assim será nossa parte em glória. Tampouco existe separação real entre esses dois. Certamente, não estamos em glória agora, mas esse é o nosso chamado agora, aquilo pelo qual somos resgatados e aguardamos. “Mas a nossa cidade [cidadania, nosso relacionamento na vida de Cristãos] está nos céus” (Fp 3:20); no mesmo capítulo, versículo 14, onde você tem a “soberana vocação”, a verdadeira força da palavra é “chamado acima”. Assim também, em Hebreus 3, somos participantes do chamado celestial. Como unidos a Cristo pelo Espírito Santo, estamos assentados em lugares celestiais em Cristo – não ainda com Ele, mas sim n’Ele; esse é o nosso lugar.
Por isso, é expresso clara e distintamente que nossa esperança é reservada para nós no céu (Cl 1:5), e Pedro nos diz que uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar está reservada no céu para nós (1 Pe 1:4). Tudo isso mostra claramente que nossas bênçãos estão onde entra a nossa esperança, onde o nosso Precursor se foi, que a nossa glória é celestial, não terrenal. Traremos a imagem do celestial e estaremos para sempre com o Senhor. Todo o objetivo da Epístola aos Hebreus é mostrar que nossa porção é celestial, em contraste com o Judaísmo, que era terrenal.
O estado intermediário
Mas até que ponto a Palavra de Deus nos revela o nosso estado intermediário, entre o tempo em que estamos neste tabernáculo, no qual gememos, e o momento em que ele será glorificado, quando Cristo vier e transformar nosso corpo de humilhação (ARA), conformando-o ao Seu corpo glorioso? Depois de entendermos que nosso chamado é celestial, tudo é simples e claro. Nossa cidadania agora e sempre está no céu. Quando e se morrermos, desfrutaremos disso mais, ou menos, do que aqui?
Sabemos que Deus não é o Deus dos mortos, mas dos vivos, porque para Ele vivem todos (Lc 20:38). Embora mortos para este mundo, para Ele eles estão tão vivos como sempre, e assim também é para a fé. Alguns ensinam que eles dormem, mas não há fundamento algum para isso. Estevão adormeceu, isto é, morreu; não foi que sua alma tenha adormecido após a morte. Alguns adormeceram, isto é, morreram (1 Co 15:6), e esta é a mesma palavra que “aqueles que adormeceram por meio de Jesus” em 1 Tessalonicenses 4 – JND. Isso contrasta com estar vivo, em Tessalonicenses, e com permanecer até o momento, em Coríntios. Isso é simplesmente morrer, e uma bela expressão para mostrar que eles não deixaram de existir, mas se levantarão novamente em ressurreição, como um homem acorda de seu sono. Isso é claramente visto no caso de Lázaro, em João 11. O Senhor diz: “Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono”. Eles pensaram que Ele falava do repouso do sono; então Ele disse claramente: Lázaro morreu. Ou seja, dormir significa claramente morrer, e acordar não é acordar a alma, como se ela dormisse à parte, mas voltar do estado de morte pela ressurreição. O adormecer de um Cristão não é mais nem menos do que morrer; a doutrina do sono da alma é uma pura invenção.
Ela está ausente do corpo, mas ela está presente com o Senhor
Os Cristãos têm Cristo como sua vida, assim como O têm como sua justiça, e, quanto à sua própria morte (2 Co 5:6), eles estão sempre confiantes, sabendo que enquanto estão habitando no corpo, estão ausentes do Senhor. Eles têm vida eterna em Cristo, mas aqui vivem ausente do Senhor, no vaso de barro; quando deixar o pobre vaso de barro, ele estará presente com o Senhor. Isso é melhor ou pior? Lembre-se de que Cristo é a nossa vida; porque Ele vive, nós vivemos. Perdemos nossa conexão com Ele quando morremos? Não é perfeitamente evidente que quando Paulo fala de estar com Cristo e de ser muito melhor do que servi-Lo aqui (embora isso valesse a pena), ele fala do gozo de estar lá? O Senhor declara ao ladrão, que O confessou, que ele estaria com Ele naquele dia no paraíso. Estar com Cristo e no paraíso não era a felicidade que Ele prometeu a ele? Ele tinha certeza de que Aquele que estava pendurado na cruz viria (e não “entraria” como traduzem algumas versões) em Seu reino e pediu para que Cristo pudesse se lembrar dele então. A resposta do Senhor estava em plena harmonia com todo o teor do evangelho: Você não terá que esperar por isso. Eu trago salvação pela graça; hoje estarás Comigo no paraíso – o companheiro adequado de Cristo em bem-aventurança. Esta, então, é a parte do santo que partiu, para estar com Cristo em bem-aventurança, ausente do corpo e presente com o Senhor.
O estado intermediário, então, não é a glória (pois para isso devemos esperar por nosso corpo ser glorificado), mas é a bem-aventurança onde não há mal algum. É estar com o próprio Cristo, a fonte do gozo inefável. As esperanças e o estar “sempre confiante” de Paulo e de Estevão não foram frustrados, nem a garantia dada pelo Senhor ao ladrão deixou de se cumprir. Pergunto: poderiam as brilhantes esperanças, mencionadas em 2 Coríntios 5, Filipenses 1, Atos 7 e as palavras do Senhor ao ladrão, significar, para qualquer mente honesta, adormecer rapidamente e não saber nada? Se 2 Coríntios 5:6-8 significa estar feliz com Cristo, significa estar feliz com Ele quando morremos.
O gozo de Cristo
Não podemos dizer como um espírito desfruta de Cristo, mas não há dificuldade alguma nisso. Meu espírito desfruta de Cristo agora, apesar do impedimento do pobre vaso de barro em que se encontra, e embora agora não O vejamos, ainda nos regozijamos com gozo indizível e cheio de glória (1 Pedro 1:8). Não é o meu corpo que O desfruta agora, mas a minha alma espiritualmente, com o impedimento do vaso de barro e ausente d’Ele; mas então será sem o impedimento do vaso de barro e presente com Ele. O crente pode descansar perfeitamente seguro de que, ao partir do corpo, ele estará presente com o Senhor, e se Sua presença é gozo para ele, ele terá esse gozo. Ninguém estaria mais ansioso para enfatizar a vinda do Senhor e a nossa espera por Ele e a importância da ressurreição. Eu insistiria nisso, como já o fiz, sobre os santos e, de fato, sobre todos, em seu devido lugar, mas não para enfraquecer a solene verdade que todos vivem para Deus, mesmo que sejam espíritos em prisão, nem por outro lado, o excelente gozo e benção de estar com Cristo quando partimos, que morrer é ganho. Esse gozo legitimamente animou e lançou luz celestial em muitos leitos de morte, e ainda o fará assim, se o Senhor prolongar Sua vinda. A Escritura é clara que para um santo partir e estar com Cristo é muito melhor do que o serviço mais bem-sucedido aqui; é tão claro quanto a felicidade do santo nessa condição. O estado completo e final da bênção eterna é quando Cristo virá e tomará todos os Seus santos para estar com Ele para sempre em glória, como Ele mesmo, quando o casamento do Cordeiro tiver chegado e quando estaremos para sempre com o Senhor.