Origem: Revista O Cristão – Estrelas

A Estrela da Manhã

“Dar-lhe-ei a Estrela da Manhã” (Ap 2:28). E quem é que vê a estrela da manhã? Aquele que vigia enquanto é noite. Todos veem o Sol em seu brilho, mas apenas aqueles que não são da noite, mas sabendo que moralmente é noite, veem a estrela da manhã e a recebem como sua porção. Quando surgiu a estrela que saudou Jesus, nascido Rei dos judeus, havia Anas e Simeões esperando o consolação de Israel. E quem eram os amigos de Ana naquele dia de trevas? Simplesmente aqueles que estavam esperando de redenção em Israel, e para eles ela falou d’Ele. Neles foi cumprida a palavra em Malaquias: “Então aqueles que temeram ao SENHOR falaram frequentemente um ao outro” (ACF). Eles se conheciam e desfrutavam do conforto do que se segue dito pelo profeta: “Mas para vós, os que temeis o Meu nome, nascerá o Sol da justiça, e cura trará nas suas asas”. Estes eram uns poucos pobres e desprezados, mas estavam “esperando” a redenção em Israel, conscientes da ruína e do mal, porque vivos para a glória de Deus e para o privilégio de ser Seu povo.

As Anas e Simeões tinham o segredo de Deus na alma deles e falavam a todos os que esperavam por consolação em Israel. Mas eles estavam satisfeitos com o estado das coisas? Não, mas, separados do mal, eles esperaram por Aquele único que poderia corrigir o mal. E assim é em nossos dias; o Cristão não pode mudar os chamados sistemas religiosos. Ele caminha em silenciosa separação de todo o mal, esperando pacientemente pela Estrela da Manhã do dia da glória.

Essa Estrela da Manhã é o próprio Cristo, e ela desaparece antes que o dia resplandeça, mas está lá para aqueles que estão vigiando à noite. Assim, partiremos para estar com a Estrela da Manhã antes que o dia de Cristo se manifeste no mundo, e quando Cristo Se manifestar, então também nós seremos manifestados com Ele em glória.

A Estrela da Manhã em cada coração 

Há três passagens que se referem a essa Estrela da manhã, às quais é importante relatar. Em 2 Pedro 1:19 (AIBB) diz: “E temos ainda mais firme a palavra profética à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma candeia que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça e a Estrela da Alva [da Manhã – ARC] surja em vossos corações”. Os profetas de Israel haviam profetizado o dia pleno de bênçãos sobre a Terra, e fizeram bem em estar atentos a isso, até que a estrela da manhã surgiu no coração deles, porque ela era a luz em um lugar escuro. Mas a própria estrela da manhã era algo ainda mais excelente.

As profecias, de fato, são claras; a advertência delas é clara. Elas me protegem da mistura com o espírito do mundo, cujo julgamento é anunciado. Elas são, portanto, uma luz brilhando em um lugar escuro – a noite da história deste mundo, durante a ausência de Cristo. Mas a Estrela da Manhã é o próprio Cristo. Ele será o Sol da Justiça para o mundo quando Ele aparecer, mas então haverá julgamento. Posso entender pelo aviso profético de que este lugar escuro será julgado. Mas, “A noite vai adiantada, e o dia está próximo” (Rm 13:12 – TB).

Quero que a Estrela da Manhã em meu coração anime minha alma durante a longa e sombria noite, que é ainda mais escura agora do que era antes. E o que, então, queremos das coisas deste lugar escuro, que agora está sob julgamento por ter pregado o Filho de Deus na cruz? Um raio da glória de Cristo secará imediatamente toda a glória deste mundo contaminado como uma folha de outono. Toda a minha porção para este tempo e para a eternidade está em Cristo; a Estrela da Manhã surgiu em meu coração. Estou separado do mundo por afeição, e não por medo.

Ao vencedor 

Em Apocalipse 2, Cristo como a Estrela da Manhã é dado ao vencedor, pois o fracasso se tornou tão pronunciado que não pôde ser remediado. No entanto, o Senhor podia ver, mesmo em Tiatira, aqueles que “não conheceram as profundezas de Satanás” (Ap 2:24), e que seriam vencedores. Não podiam esperar que o mal na Igreja professa fosse corrigido, mas podiam esperar por Cristo como a Estrela da Manhã.

Temos a vinda de Cristo como a Estrela da Manhã como uma coisa distinta do nascer do Sol. Este se manifesta para o julgamento deste mundo e, portanto, os trovões do juízo não podem nos tocar, porque estamos assentados com Ele no céu. Em Apocalipse 4, temos uma imagem muito abençoada e reconfortante da posição da Igreja. Há os 24 anciãos assentados em seus tronos, ao redor do trono de onde vêm os trovões, os relâmpagos e as vozes, e eles continuam perfeitamente imóveis. Era isso insensibilidade? Certamente não, pois quando o próprio Deus em Seu santo caráter é mencionado, imediatamente eles se prostram e lançam suas coroas diante d’Ele. Nem essa santidade é a causa de qualquer medo; é a adoração deles que irrompe no sentido pleno da bem-aventurança d’Aquele que Se assenta sozinho no trono.

Jesus, a Estrela da Manhã 

No final do Apocalipse, temos o lugar da estrela novamente (Ap 22:16). O Senhor nos traz de volta do testemunho profético para Si próprio: “Eu, Jesus, enviei o Meu anjo”; “Eu Sou a Raiz e a Geração [Descendência – JND] de Davi” (isto está em conexão com o fato de Ele ser a Fonte da promessa e Herdeiro dela, como Rei em Sião), “e a resplandecente Estrela da Manhã”. Mas no momento em que Ele Se apresenta como a resplandecente Estrela da Manhã, “o Espírito e a noiva dizem: Vem! o Espírito Santo na Igreja diz: Vem!”. Essa reação é a que está conectada a Ele; a menção a Ele atrai e desperta a resposta do Espírito. Esse é o caráter em que a própria Igreja reage à Sua vinda. Deus, no amor de Seu próprio coração, associou a Igreja a Jesus, e a própria menção de Seu nome desperta o clamor: “Vem!”, pois isso toca um acorde que dá uma resposta imediata. Portanto, Ele não diz aqui: “Eis que venho sem demora!” A questão aqui não é quando Ele virá, mas que é Ele próprio que está vindo. Ele não fala de Sua vinda – por mais abençoado que esse pensamento seja – mas Ele Se revela, e é isso que desperta a resposta do coração pelo poder do Espírito Santo. Somos para Ele e estaremos com Ele. Não pode ser nada menos do que isso, pois Ele nos chama de “Seu corpo”. Que lugar glorioso é esse! Uma identificação, não apenas maravilhosa, mas gloriosa, com o Cristo de Deus! Nenhuma explicação das Escrituras proféticas, por mais bela e verdadeira que seja, por mais útil que seja como uma advertência solene em relação a este mundo, pode jamais ocupar o lugar na alma que é ensinada por Deus, da presente espera por Ele e do conhecimento de sua união viva com um Jesus que vem. Nenhuma mera explicação de Sua vinda como doutrina é a esperança adequada do santo. Essa esperança não é profecia; é a expectativa real, abençoada e santificadora de uma alma que conhece Jesus e espera ver e estar com Ele.

A noiva de Cristo 

Somente a noiva ouve a voz do Noivo, que imediatamente expressa seu desejo de que Ele venha. Ao que Ele responde, assegurando-a disso, e então a revelação se encerra, deixando isso como a própria expectativa dela. Paulo encerra 1 Tessalonicenses 4 com estas palavras: “E assim estaremos sempre com o Senhor”. E isso é tudo? Sim, isso é tudo, pois para o coração que aprendeu a amá-Lo, Ele não pode dizer mais nada. Nenhuma explicação disso como doutrina pode chegar ao coração. Você não pode fazer uma pessoa entender um relacionamento; para entendê-lo, ela mesma deve estar nele. Uma alma não salva pode entender, de certa maneira, o que significa profecia, mas nada menos do que o sentido e o apreço de estar conectado com o próprio Cristo pode dar o desejo de Sua própria vinda pessoal. E por quê? Porque para isso o relacionamento deve ser conhecido.

O efeito da espera por Jesus 

Agora observe o efeito prático dessa espera por Jesus. Ela nos desconecta do mundo e nos conecta com o céu. Há muitas coisas ao redor do mundo, muita agitação e tumulto, mas isso não perturba a abençoada calma da minha alma, porque nada pode alterar nosso relacionamento indissolúvel com Jesus que está por vir.

Ver essa vinda do Senhor Jesus para a Igreja muda o caráter de muitas passagens bíblicas. Veja os Salmos, por exemplo, aqueles que falam sobre julgamentos dos ímpios. Eu os deixarei para estar com Ele. Eu pertenço à noiva, um membro do Seu corpo, da Sua carne e dos Seus ossos. Quando nos apegamos a este centro abençoado, Cristo, e com Ele, portanto, ao próprio Deus, então cada Escritura se ajusta a seu devido lugar e, acima de tudo, nosso coração se ajusta ao seu devido lugar.

Que o Senhor nos dê tal apreensão da redenção e da nossa posição n’Ele a ponto de fixar nosso coração n’Ele, a fim de que possamos estar diariamente andando aqui como homens que esperam por seu Senhor, que prometeu vir e nos levar para Si. Que o Senhor nos guarde dos ídolos, para que não O entristeçamos em nenhuma dessas coisas que vieram para estragar e corromper o que Ele uma vez plantou de forma tão bela, tendo em vista a manifestação de Sua glória neste mundo sombrio e maligno.

J. N. Darby (adaptado)

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