Origem: Revista O Cristão – Estrelas
Uma Estrela Difere em Glória de Outra Estrela
Vamos nos conhecer no céu? Pode surpreender alguns de nossos leitores perceber que há alguma confusão sobre isso, mas se fosse pedido a eles apresentar, a partir da Escritura, uma explicação sólida sobre o assunto, eles poderiam ter dificuldade em fazê-lo.
Primeiro, tenhamos claramente diante de nós que estamos falando do tempo em que todos os santos estarão em casa, na casa do Pai, todos em corpos glorificados como o de Cristo. O assunto do conhecimento da alma e espírito daqueles que já partiram desta vida para estar com Cristo é uma questão diferente. Mas o tópico diante de nós não diz respeito ao estado despido, mas ao estado revestido (mencionado em 2 Coríntios 5), quando teremos nossa habitação que é do céu – santos glorificados em glória com Cristo.
Não há muitas declarações expressas na Escritura sobre esse assunto, mas há o suficiente para que não tenhamos dúvidas.
Variedade sem repetição
Talvez uma das causas da falta de entendimento seja a suposição de que os santos em corpos glorificados se perderão em uma multidão indistinguível e que todos os redimidos se parecerão e serão iguais. Um pouco de consideração desfará esse equívoco, pois mesmo neste mundo que todos reconhecemos como muito inferior à cena celestial, há uma variedade infinita sem repetição.
Não há duas pessoas que pareçam ou ajam exatamente da mesma forma. Nenhuma impressão digital é igual em todos os milhões que o Departamento de Investigação dos Estados Unidos tem em arquivo. Não, nem em gêmeos idênticos elas são iguais. Alguns desses casos foram reivindicados como existentes, mas quando examinados cuidadosamente, foi demonstrado que diferem. Aqueles que estudaram as lâminas de grama, as folhas das árvores, os flocos de neve e os grãos de areia nos dizem que a mesma variação é verdadeira. Quando o homem faz alfinetes, agulhas ou outros objetos, eles saem uniformemente iguais.
Uma vez que esta criação é marcada por tal variedade infinita e falta de duplicação, por que alguém deveria supor que a cena celestial – “o que é perfeito” – será de outra forma? A dedução inevitável é que haverá as mesmas distinções e personalidades evidenciadas quando nós, em corpos de glória, estivermos com Cristo. Ao “corpo espiritual” não faltará a individualidade distinta que esteve no “corpo natural”. O capítulo a partir do qual este último é citado chama a atenção para várias glórias, até mesmo para dizer “uma estrela difere em glória de outra estrela” (1 Co 15:41). Como poderíamos supor que o corpo glorificado – o “corpo espiritual” – carecerá da identidade pessoal que este corpo de nossa humilhação possuiu?
Seriam fantasmas?
Moisés e Elias não foram reconhecidos quando mostrados em glória com Cristo no monte da transfiguração? Eles eram apenas uma miragem ou uma ilusão? Não, pois Pedro diz: “Nós mesmos vimos a Sua majestade” (2 Pe 1:16), pelo qual tivemos a profecia do Velho Testamento confirmada para nós. Moisés e Elias não eram fantasmas, mas os homens reais que falaram com Jesus e “falavam da Sua morte, a qual havia de cumprir-se em Jerusalém” (Lc 9:31).
Eles representam o lado celestial da glória vindoura, assim como Pedro, Tiago e João em corpos naturais retrataram o lado terrenal do reino.
Além disso, Moisés e Elias não eram anjos, nem apareceram como anjos, pois “estavam falando com Ele dois varões, que eram Moisés e Elias”. Outro ponto a descobrir aqui é que mesmo aqueles em corpos naturais, como Pedro, Tiago e João, não precisavam ser apresentados àqueles em corpos glorificados, embora nunca os tivessem visto na Terra.
Outra passagem que trata desse assunto e é irrefutável no combate à ideia de que não nos conheceremos no céu é encontrada em 1 Ts 2: “Porque qual é a nossa esperança, ou gozo, ou coroa de glória? Porventura, não o sois vós também diante de nosso Senhor Jesus Cristo em Sua vinda? Na verdade, vós sois a nossa glória e gozo” (vs. 19-20). Não só o apóstolo Paulo conhecerá aqueles crentes tessalonicenses em glória e eles o conhecerão, mas eles serão manifestamente seu gozo e coroa de glória. Eles estarão lá como os troféus evidentes dos trabalhos de Paulo em Tessalônica.
Troféus dos trabalhos de Paulo
E se isso é verdade para os santos em Tessalônica, não é verdade para todos os santos que foram salvos pelos trabalhos de Paulo? Por que apenas os santos de uma localidade devem ser escolhidos para esse lugar? Certamente será assim em todos os trabalhos de Paulo, e se de Paulo, por que não de todos os santos que trabalharam e viram almas salvas por meio de seu ministério? Não há um pensamento semelhante na segunda epístola de João, onde ele diz: “Olhai por vós mesmos, para que não percamos o que temos ganhado; antes, recebamos o inteiro galardão” (v. 8)? João está falando de seus trabalhos, e ele esperava que esta “senhora eleita” continuasse na verdade como ele a havia ensinado, para que ele pudesse ter uma recompensa completa.
O tribunal de Cristo
Isso nos leva a outro ponto. E quanto ao tribunal de Cristo, onde todos os santos em glória terão suas obras revisadas por Aquele que conhecia e entendia todos os pensamentos, motivos e ações deles? Somos juízes muito pobres de nossas próprias ações, mas há Alguém que conhece os pensamentos e intenções do coração. Devemos ser manifestados diante d’Ele quando estivermos com e como Cristo. O Senhor a Quem servimos recompensará cada um de nós de acordo com Sua perfeita sabedoria e amor. Se não há distintas personalidades dos santos, quem há para recompensar? E o que há para recompensar? Além disso, haverá recompensas que serão concedidas em comum com outros crentes. Isso exigiria o conhecimento um do outro.
Haverá recompensas que serão distintamente pessoais e individuais, como com a pedra na qual haverá um novo nome que ninguém conhecerá, exceto aquele que a receber (Ap 2:17). Isso será por alguma devoção pessoal a Cristo que ninguém mais conhecia. Receberá Seu elogio particular – uma coisa bonita de se antecipar, como algo pessoal entre o indivíduo e o Senhor.
Depois há aqueles que serão feitos pilares naquele dia, ou seja, algo que se destaca para todos verem. Certamente as recompensas serão proporcionais à dedicação ao Senhor e de acordo com as provações que a tornaram difícil. Em Apocalipse 3:9, o Senhor elogia alguns que em grande fraqueza se apegaram à Sua Palavra e não negaram o Seu nome. Ele diz a eles: “Eis que Eu farei que venham, e adorem prostrados a teus pés, e saibam que Eu te amo”.
Um reconhecimento público
Isso já aconteceu? Não haverá um reconhecimento público de Sua aprovação daqueles que foram fiéis no “dia das pequenas coisas”, embora fossem desprezados na época por outros? Ele deve tornar claramente evidente que eles tiveram Sua aprovação.
Há um pensamento semelhante em Malaquias. O Senhor fez um registro especial daqueles que O temiam e pensavam em Seu nome no dia da ruína. Ele disse sobre eles, “E eles serão Meus, diz o SENHOR dos Exércitos, naquele dia que farei, serão para Mim particular tesouro” Então se verá quem agradou a Deus e quem não agradou.
Motivos
Outro lado do tribunal de Cristo também deve ser considerado. Existem, infelizmente, injustiças e atos malignos dos Cristãos em relação aos Cristãos agora neste mundo. Muitos deles nunca foram esclarecidos ou resolvidos, nem serão até o julgamento vindouro, quando todas as nossas ações passarão em revista diante d’Ele. Não haverá reparação de tais danos?
O Senhor não tornará manifesto o que viu e o que sabia dos motivos que estavam em ação? Todos ficaremos felizes em ter essas coisas esclarecidas, pois não haverá carne em nenhum de nós. Mas como tudo isso poderia acontecer se os santos em glória fossem uma multidão indistinguível? Após o arrebatamento e antes das bodas do Cordeiro, tudo o que poderia manchar um átomo de glória terá sido julgado e limpo em Sua presença. À luz disso, quão importante é nos julgarmos agora diante d’Ele e andarmos com uma consciência pura dia após dia!
É triste testemunhar alguns Cristãos envolvidos em discussões e brigas com outros Cristãos e dizendo: “Isso terá que ir para o tribunal de Cristo”. Não deveríamos julgá-lo diante do Senhor AGORA e, quando necessário, diante de nossos irmãos também? E, se deve ser feito, fazer a restituição agora? É uma coisa solene para os Cristãos permitir dificuldades com outros Cristãos que permanecem sem solução até o dia de Cristo.
Saberemos
“Mas, quando vier o que é perfeito… então, conhecerei como também sou conhecido” (1 Co 13:10, 12). Mal podemos compreender as maravilhas daquelas cenas em que logo entraremos. “As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que O amam” (1 Co 2:9).
Foi apenas para os israelitas que Deus disse, quando o fim do deserto apareceu: “E te lembrarás de todo o caminho pelo qual o SENHOR, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos” (Dt 8:2)? Não há uma aplicação para nós, pois estamos muito perto do fim da jornada no deserto? Não reveremos todos os Seus caminhos conosco e eles não magnificarão Sua graça e Sua bondade? Quando contemplarmos como Sua graça cuidou de nós e nos trouxe em segurança para Si em meio a todos os nossos fracassos, O louvaremos como deveríamos.
Uma história foi contada sobre o antigo pregador, Rowland Hill, que um dia foi perguntado por sua esposa: “Rowland, você acha que nos conheceremos no céu?” Ele respondeu sucintamente. “Você acha que seremos mais tolos lá do que aqui?” Certamente esperamos a vinda do “que é perfeito”.