Origem: Revista O Cristão – O Filho de Deus

A Eterna Filiação de Cristo

Quanto mais eu olho para o assunto, mais estou convencido de que o termo “unigênito” não pode ser limitado ao Seu nascimento no mundo. Eu acredito que João 1:14, 18 o leva de volta à eternidade. No versículo 14, é Sua glória pessoal “como a de um unigênito com um pai” (JND), não algo que se tornou realidade somente por Seu nascimento no mundo. E no versículo 18, é: “O Filho unigênito, que está no seio do Pai” – algo que nunca teve um começo. É um relacionamento eternamente subsistente – não Seu relacionamento com Deus como o Messias nascido no mundo, de acordo com o Salmo 2, e, portanto, um relacionamento no tempo.

Agora, quanto ao relacionamento no tempo, Ele foi “gerado”; O Salmo 2 diz isso – “hoje Te gerei”. Mas no relacionamento eterno não há Escritura que fale do ato de gerar. Ela apenas declara o que Ele era como Filho com o Pai, um “unigênito”“unigênito no seio do Pai” – e não um que foi “gerado”. Essa distinção é importante.

A mesma dificuldade pode ser levantada quanto ao “Primogênito de toda criação”. O termo “Primogênito” expressa Sua posição em relação à criatura, sem nenhuma dúvida sobre o tempo de Seu nascimento. “Unigênito” expressa Seu relacionamento com o Pai como Filho, um lugar que nenhum outro tem. Somos “filhos” por nascimento e adoção, mas somente Ele é um “unigênito”, e a Escritura não diz que é por “nascimento” ou “adoção”. É, creio, o que simplesmente Ele é de eternidade em eternidade.

“Primogênito” 

É importante ver que em Hebreus 1, uma passagem que cita o Salmo 2, Ele não é chamado de “unigênito”. É dito: “Hoje Te gerei” e “primogênito”. É o relacionamento, no tempo, com Deus e com a criatura que é expressa nesses dois termos, embora que o que Ele é em Sua própria Pessoa seja destacado nos três primeiros versículos: “Filho”, “o resplendor da Sua glória, e a expressa imagem da Sua Pessoa”. Seu lugar com o Pai e no seio do Pai não é o ponto aqui e, portanto, “unigênito” não é usado.

“Unigênito” não pode ser confundido com o ter sido gerado ou “primogênito”. “Gerado” está conectado com o tempo e uma geração real. “Primogênito” é o Seu título em relação à criatura, e, quando Ele, como tal, é introduzido ao mundo, todos os anjos são convocados a adorá-Lo. Isso mostra Sua preeminência nessa conexão. Ambos os termos estão em Hebreus 1. Somente João usa o termo “unigênito” (João 1:14, 18; 3:16, 18; 1 João 4:9), aplicado à Pessoa do Filho. Isso por si só é significativo, pois João, de uma maneira especial, retorna até antes do tempo e mostra qual era a glória da Pessoa do Filho na divindade absoluta. Outros discorrem sobre Suas glórias oficiais e títulos relativos, mas João desenvolve Suas glórias pessoais e eternas. Até mesmo “Filho do Homem, que está no céu” é Sua glória divina – glória que não provém de Ele ser “Filho do Homem”, mas do que Ele é como Deus – é Sua Pessoa, mas como divina, e assim nos céus, embora corporalmente na Terra.

“Unigênito” 

No uso do termo “unigênito”, João destaca duas coisas – primeiro, a glória do Filho, e segundo, o amor de Deus em dar o Seu Filho. Ele não era apenas um “Filho” com o Pai, mas um “Filho unigênito”; não apenas “o Filho que está no seio do Pai”, mas “O Filho unigênito, que está no seio do Pai”. Não há nenhum pensamento de “gerado” aqui, assim como quando dizemos “o Filho”. É o caráter único do relacionamento, como que preenchendo o deleite do coração do Pai.

Então, em João 3:16 e 1 João 4:9, há a revelação da grandeza do amor de Deus. Ele amou o mundo de tal maneira que deu – não apenas “Seu Filho”, mas – Seu Filho unigênito”. Conecte “unigênito” aqui com o tempo, e a força da expressão será perdida por completo.

Santo temor 

Parece claro para mim e muito precioso também, mas não sei se posso fazer com que outros vejam isso da mesma maneira. Não tenho sombra de dúvida alguma em minha mente quanto a isso. É um assunto interessante, mas que deve ser visto com cuidado e santo temor. A mera razão não serve para nada ao manuseá-lo. Temos o Espírito para nos dar a força da Escritura, e isso temos pela graça.

Uma pessoa pode não ter clareza quanto a essas expressões, mas negar que “o Filho unigênito, que está no seio do Pai” é um relacionamento eternamente subsistente seria um erro grave, roubando do Filho a Sua glória e do Pai o Seu eterno deleite, além de enfraquecer a verdade do evangelho na expressão do amor de Deus, o Pai, ao dar “Seu próprio Filho”, “Seu Filho unigênito”.

A. H. Rule (selecionado)

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