Origem: Revista O Cristão – Restituição
A Expiação da Culpa
A expiação da culpa (encontramos os detalhes dela em Levítico 5, 6:1-7, 7:1-10) é uma expiação obrigatória, não voluntária, e pode ser corretamente considerada como uma subdivisão da expiação do pecado. No entanto, existem algumas características específicas pertencentes à expiação da culpa que a tornam distinta e a diferenciam da expiação do pecado. Sabendo que a Palavra de Deus nunca é redundante, tentarei explicar algumas das características distintas dessa oferta, esperando que haja algum benefício espiritual para todos nós. A expiação do pecado já foi bem explicada em detalhes, então, em conexão com ela, vou apenas apontar aqui que nada pode manter em nosso coração o sentimento correto do que é o pecado e o que é a santidade de Deus do que um entendimento real do significado da expiação do pecado. Precisamos entender o que aconteceu no Calvário, quando nosso Senhor e Salvador foi feito pecado por nós, carregou nossos pecados em Seu corpo no madeiro e fez expiação completa por todos e cada um deles.
O governo de Deus – A santidade de Deus
Ao considerar a expiação pelo pecado, vemos que atos específicos não são mencionados, na medida em que o pensamento principal nessa oferta é a condenação daquilo que é totalmente abominável à santidade de Deus, e o homem é mostrado como um pecador, quanto à sua natureza. Mas com a expiação da culpa são enumeradas ofensas específicas, e o homem é considerado um transgressor quanto aos seus atos. Isso traz um efeito duplo do pecado e lança luz adicional sobre a diferença entre a expiação do pecado e a expiação da culpa. Primeiro, por causa do nosso pecado, não fomos capazes de alcançar o padrão estabelecido por Deus: “Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3:23), e esse aspecto é apresentado na expiação do pecado. Em segundo lugar, por causa do mesmo pecado, não apenas falhamos em alcançar o padrão de Deus, mas continuamos a nos alienar d’Ele cada vez mais: “A vós também, que noutro tempo éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras más” (Cl 1:21); Este aspecto encontramos na expiação da culpa. Por um lado, o pecado é uma grave afronta à santidade de Deus e, por outro lado, também é uma transgressão, quando cometido contra um mandamento conhecido. Podemos dizer que toda transgressão é um pecado, mas nem todo pecado é uma transgressão. A expiação da culpa está, portanto, conectada com o governo de Deus, e não com a santidade de Deus.
Três categorias de transgressões
Como podemos ver claramente, lendo Levítico 5-6, existem três categorias principais de transgressões apresentadas: transgressões contra o Senhor (Lv 5:1-13), transgressões contra as coisas santas do Senhor (Lv 5:14-19) e transgressões contra o próximo (Lv 6:1-7). Em todos os três casos, mesmo quando as reivindicações humanas eram totalmente atendidas, o perdão e a expiação só podiam ser obtidos por meio da morte de uma vítima, “pois sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9:22). O próprio Deus, por Sua Palavra, estabelece o padrão para o julgamento do pecado, e esta é uma verdade muito importante que nunca devemos esquecer. Também notamos o fato de que a ignorância em cometer uma transgressão não pode ser invocada como desculpa. Todos sabemos que os precursores da ignorância são, na maioria dos casos, a negligência, a preguiça espiritual ou a indiferença às exigências de Deus.
Restituição
Em alguns dos casos, também houve restituição envolvida na expiação da culpa. Assim, a restituição teve que ser feita e a quinta parte adicionada. Não apenas a expiação foi feita, mas a graça entrou para permitir que alguém fizesse reparação total; o que era devido a Deus ou ao próximo foi totalmente entregue, e com uma quinta parte adicionada. Além disso, não só foi perdoado aquele que transgrediu contra as coisas de Deus ou contra seu próximo, mas aquele cujos direitos tinham sido violados agora era mais rico do que antes. Por exemplo, mesmo que, infelizmente, eu tenha ferido um irmão de alguma forma, serei restaurado e farei a restituição completa trazendo, por assim dizer, a expiação da culpa de acordo com a avaliação do Senhor. Humilhar-me e reconhecer minha culpa, qualquer que tenha sido, pode não apenas restaurar meu relacionamento com o injustiçado, mas a demonstração de graça que operou em meu coração também trará gozo e benefício espiritual ao injustiçado. Maravilhosa obra da graça divina, que sempre se eleva acima do nosso pecado!
Mas, o mais importante, temos aqui uma bela característica da obra de Cristo na cruz: Ele restituiu mais a Deus do que o pecado do homem havia tirado, como lemos no Salmo 69:4: “então, restituí o que não furtei”. Tínhamos roubado de Deus o que Lhe era devido. O Senhor Jesus, ao Se tornar nossa expiação da culpa, fez restituição a Deus por todo o mal que havíamos feito, e acrescentou a quinta parte. Quando Seu coração foi quebrantado pelo opróbrio, Ele confiou Sua causa Àquele que julga com justiça e pagou nossa dívida integralmente. Ele também acrescentou a quinta parte, e isso é porque Sua obra na cruz tem um valor infinito, que não apenas fez a provisão para os pecados de todos os que creriam n’Ele, mas glorificou plenamente a Deus por toda a eternidade. O Senhor Jesus Cristo foi capaz de realizar a vontade de Deus perfeitamente, para que Deus fosse glorificado e o homem abençoado. Como H. A. Ironside escreveu: “A graça de Deus foi magnificada na grande expiação da culpa da cruz de uma maneira que nunca poderia ter sido conhecida se o pecado nunca tivesse entrado”.
Vemos, portanto, que a expiação da culpa nos apresenta várias lições importantes e distintas, revelando uma dimensão preciosa da obra de Cristo na cruz. Certamente, a apreciação das fragrantes perfeições de Sua Pessoa e da obra apresentada pela expiação da culpa, bem como pelas outras ofertas em Levítico, surge como um cheiro suave para nosso Deus e Pai.
Ensino prático
Permita-me aqui mais uma observação. Às vezes, ouvimos os Cristãos falarem da “verdade prática”. O fato é que TODA verdade envolve o que é prático. Não há uma única verdade na revelação divina que Deus não pretendesse produzir, aqui e agora, um efeito prático na vida dos Seus. Menciono isso porque as muitas figuras dadas no Velho Testamento, em geral, e as ofertas do livro de Levítico, em particular, parecem ser bastante obscuros e difíceis de entender e, consequentemente, de pouco ou nenhum interesse para a grande maioria dos Cristãos. Mas Deus nos deu todas essas várias ofertas para que possamos ter uma apreensão mais profunda e melhor da obra singular de nosso Senhor Jesus na cruz. Essa obra é tão vasta, tão abençoada e tão abrangente que foram necessárias várias figuras no livro de Levítico para que ela fosse devidamente apresentada a nós. Que Deus nos dê a graça de considerar em oração todas elas e, desta forma, ter uma crescente apreensão da glória e bem-aventurança da Pessoa e da obra de nosso Senhor na cruz, para que possamos valorizá-Lo mais e ter um desejo crescente de agradá-Lo em nossa caminhada e conduta aqui.
E. Datcu