Origem: Revista O Cristão – Ezequias

As Falhas de Ezequias

Há muitos exemplos de verdadeira fidelidade registrados na Palavra de Deus a respeito de Ezequias, e ele se destacou entre os reis de Judá por sua confiança no Senhor. No entanto, Deus também registra algumas falhas em sua vida como um aviso para nós. Eu sugeriria que há três áreas em sua vida em que sua conduta não estava totalmente de acordo com Deus e de acordo com a fé que ele exibia em outras ocasiões.

Antes de tudo, é evidente que, no momento da ameaça inicial de Senaqueribe, sua fé lhe falhou. Já tendo se recusado a servir ao rei da Assíria no início de seu reinado, ele agora diz a Senaqueribe que estava errado em ter se recusado, e se oferece para pagar qualquer tributo que lhe for imposto. A quantia exigida (trezentos talentos de prata e trinta talentos de ouro) foi evidentemente paga na íntegra, embora fosse necessário dar, não somente toda a prata da casa do Senhor, mas também ouro retirado das portas e colunas do templo.

Um lapso de fé 

Como a falta de fé de Pedro enquanto ele andava sobre a água, esta não era uma verdadeira falta de fé no coração, mas sim um lapso temporário de sua fé, devido às circunstâncias que pareciam esmagadoras. O poder do império assírio era bem conhecido, e sua crueldade para com qualquer um que resistisse era lendária. A essa altura, o reino do norte já havia caído e, aparentemente, a destruição de Samaria havia sido acompanhada de massacre e tortura, bem como pela captura de muitos, levando-os ao cativeiro. Além disso, a doença grave de Ezequias, provavelmente, ocorreu por volta dessa época e pode ter aumentado sua fragilidade.

Quaisquer que sejam as circunstâncias, no entanto, dificilmente estava certo diante de Deus ceder às reivindicações do rei assírio, e isso é confirmado pelo fato de que nada foi ganho por ele. Senaqueribe reagiu com traição e exigências ainda maiores. O Senhor usou tudo isso, incluindo o desafio direto de Senaqueribe que se seguiu ao próprio Deus, para fortalecer a fé de Ezequias e dar-lhe coragem para permanecer firme nas promessas de Deus.

Fidelidade ou graça 

Em segundo lugar, a reação de Ezequias não foi inteiramente em submissão ao Senhor, quando Isaías foi enviado para lhe dizer que ele não se recuperaria de sua doença, mas que iria morrer. É claro que devemos levar em conta o fato de que, no Velho Testamento, o intervalo entre a morte e a ressurreição estava envolto em mistério. Não foi revelado até o Novo Testamento que “nosso Salvador Jesus Cristo […] anulou a morte e trouxe à luz a vida e a incorruptibilidade com as boas novas” (2 Tm 1:10 – JND). Mas Ezequias invoca, não a graça de Deus, mas sim o registro de sua fidelidade, como uma razão pela qual ele não deveria morrer. Lembrar ao Senhor que ele havia andado diante d’Ele “em verdade e com o coração perfeito” era um tanto presunçoso, mesmo que houvesse verdade na declaração. Quanto melhores foram as palavras de Paulo, que pôde dizer: “tendo desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor” (Fp 1:23). Da mesma forma, ao falar de sua própria vida, Paulo não falava de sua fidelidade, mas simplesmente comentava: “Eu tampouco a mim mesmo me julgo […] pois Quem me julga é o Senhor” (1 Co 4:3-4).

Sabemos que a subsequente recuperação e vitória de Ezequias sobre os assírios é uma figura da recuperação e restauração de Israel para a bênção em um dia vindouro, e também a aniquilação do último assírio – primeiro o rei do norte e, por fim, a confederação russa. Além disso, Ezequias é um tipo do Senhor Jesus, que realmente entrou na morte e ressuscitou triunfante sobre a sepultura e todo o poder de Satanás. Mas toda figura é insuficiente e estamos aqui apenas comentando sobre o fracasso de Ezequias como homem.

O lugar da grandeza 

O terceiro e, talvez, o mais significativo dos fracassos de Ezequias ocorre após sua recuperação e a destruição do exército de Senaqueribe. Como alguém comentou, ele foi capaz de se manter firme diante da severidade do mundo, mas depois sucumbiu à amizade do mundo. Como resultado da destruição do exército de Senaqueribe, Ezequias se tornou um grande homem diante do mundo. Quem mais ousou resistir aos assírios e saiu vitorioso? De repente Ezequias estava sendo honrado e procurado.

Além disso, o “prodígio que se fez naquela terra” (2 Cr 32:31) chamou a atenção das outras nações, pois quem já tinha ouvido falar do relógio de Sol retroceder dez graus? O tempo envolvido foi de quarenta minutos – o suficiente para ser notado pelo “príncipe da Babilônia”, que veio perguntar a ele sobre este evento significativo.

A exibição de seus tesouros 

Finalmente, evidentemente se espalhou a notícia de que Ezequias estava gravemente doente, mas havia se recuperado. Assim, lemos que enviou “Baladã, rei da Babilônia, cartas e um presente a Ezequias, porque tinha ouvido dizer que havia estado doente e que já tinha convalescido” (Is 39:1). Mas ele não foi o único a enviar um presente, também lemos que “muitos traziam presentes a Jerusalém, ao SENHOR, e coisas preciosíssimas a Ezequias, rei de Judá, de modo que, depois disso, foi exaltado perante os olhos de todas as nações” (2 Cr 32:23).

É triste dizer que, parece que tudo isso subiu à sua cabeça, por assim dizer. “Deus o desamparou, para tentá-lo, para saber tudo o que havia no seu coração” e “seu coração se exaltou” (2 Cr 32:31, 25). As circunstâncias favoráveis manifestaram algo em seu coração que nada antes tinha revelado. Ao invés de dar a glória ao Senhor e usar a visita do rei da babilônia como uma oportunidade para honrar o Deus de Israel, ele “lhes mostrou toda a casa de seu tesouro” e tudo que estava sob seu domínio.

Podemos entender esse orgulho, especialmente quando a bênção material, no Velho Testamento, era um sinal do favor do Senhor. Mas era realmente orgulho de si mesmo, em vez de gratidão pelo que Deus havia feito. Quão facilmente nós também, como crentes, podemos ter orgulho do que temos e do que somos espiritualmente e, como Jó do passado, atribuímos a nós mesmos o que a graça de Deus tem operado em nós. Como resultado, lemos que “veio grande indignação sobre ele e sobre Judá e Jerusalém” (2 Cr 32:25). Mais do que isso, o profeta Isaías lhe disse que o rei da Babilônia tinha intenções sinistras; seus sucessores voltariam em um dia futuro e levariam para Babilônia todos os tesouros que Ezequias havia exibido, assim como seus descendentes.

Um bom final 

Mas a história tem um final feliz para Ezequias. Como resultado da disciplina do Senhor, está registrado que ele “se humilhou pela soberba do seu coração, ele e os habitantes de Jerusalém; e a grande indignação do SENHOR não veio sobre eles, nos dias de Ezequias” (2 Cr 32:26). É triste ver o fracasso, seja nos outros ou em nós mesmos, mas quando estamos sob a mão de Deus como consequência, quão bom é ver a verdadeira humildade perante Ele. No caso de Ezequias, Deus não revogou Seu julgamento proposto, mas como resultado de sua humildade, Ele permitiu que Ezequias fosse para seu túmulo em paz.

Conosco, a correção do Senhor pode produzir desprezo ou nos fazer desmaiar, e ambas são reações erradas (Hb 12:5). Mas aqueles que são “exercitados por ela” descobrirão que o Senhor é gracioso e que Suas relações para conosco “produz um fruto pacífico de justiça” (Hb 12:11). As lições aprendidas aqui no deserto podem ser duras, mas elas pagarão dividendos eternos.

W. J. Prost

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