Origem: Revista O Cristão – Ressurreição
Fases da Ressurreição
Se olharmos para 1 Coríntios 15 como um todo, posso dizer que há uma ordem em sua divisão que é edificante descobrir e meditar. Pode ser intitulado: “A história da graça e da glória à luz da ressurreição”. Estou olhando, no entanto, mais particularmente para os versículos 20-28. O apóstolo nesses poucos versículos prossegue para nos ensinar as diferentes fases da ressurreição e as coisas que devem ocorrer, tanto durante como depois dela. É uma Escritura muito rica e bela em suas informações.
Cristo, as primícias
Em primeiro lugar, aprendemos que o Senhor Jesus estava sozinho no dia da Sua ressurreição. Não havia ninguém com Ele – nem um. “Cristo, as primícias”, como lemos aqui. Sua ressurreição tinha qualidades que eram singulares. Foi uma ressurreição dentre os mortos, uma ressurreição vitoriosa, forjada e vencida por Ele mesmo. Mas foi a única ressurreição que tinha nela essa qualidade ou caráter. A ressurreição foi devida a Cristo. Ele foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai (Rm 6:4). Ele mesmo também poderia dizer de Si mesmo: “Derribai este templo, e em três dias o levantarei” (Jo 2:19).
Ele tinha o poder disso em Si mesmo, em virtude do que Ele era. Isso foi figurado sob a lei, pela colheita de um molho no início da colheita (e antes que qualquer um dos novos grãos tivesse sido comido) e pelo movimento dele, assim como foi, diante do Senhor (Lv 23:9-14).
Cristo na Sua vinda
Mas Cristo sendo chamado de “as primícias” assegura uma colheita. Esse é o significado de tal título. Assim, na devida época, se segue a colheita e constitui a segunda fase da série de ressurreições. Assim lemos: “Depois, os que são de Cristo, na Sua vinda” (v. 23). E isso está longe de ser algo solitário. Incontáveis milhares estarão lá, pois todos eles são “filhos da ressurreição” (Lc 20:36). Eles ressuscitam dentre os mortos, ou em vitória, simplesmente porque eles “são de Cristo”, como lemos. Ele havia ressuscitado em Seu dia apenas por causa de Quem Ele era e o Quê Ele era; eles agora ressuscitam por causa de Quem eles são. “Se habita em vós o Espírito d’Aquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, Esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do Seu Espírito, que em vós habita” (Rm 8:11 – ARA).
A terceira fase da ressurreição
Tendo tudo isso acontecido em seus momentos, chegamos à terceira fase da ressurreição chamada “o fim” (v. 24). Mas aqui temos novos pensamentos sugeridos a nós. Essa é uma ressurreição não digna do nome, pois não é uma ressurreição vitoriosa. É simplesmente uma ressurreição dos mortos – aqueles cujos nomes não estão escritos no livro da vida. É uma ressurreição judicial, uma ressurreição não para a vida, mas para o julgamento, como é mostrado por João em Apocalipse 20:11-15. As estações ensolaradas da ressurreição, que vimos pela primeira vez, são agora sucedidas por uma que convoca os mortos ao julgamento e ao lago de fogo. Assim como devemos conhecer o gozo de antecipar a ressurreição dentre os mortos, devemos sentir as terríveis advertências que a Escritura nos dá sobre a condenação daqueles que, nesta era da graça de Deus, não aceitam a Cristo como Salvador. “Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a Sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a ressurreição da condenação” (Jo 5:28-29).
O Reino entregue a Deus
No entanto, temos muitas coisas conectadas com esta terceira fase de ressurreição, pois agora o Senhor continua, pelo apóstolo, a nos ensinar o que deve acompanhar a terceira e última dessas fases. Aprendemos que o Senhor Jesus, tendo recebido um reino após a segunda fase da ressurreição, vai sustentá-lo e ordená-lo de uma forma a subjugar cada inimigo a Si mesmo, até mesmo a morte. Tendo sido fiel a essa grande administração, Ele a entregará “a Deus, o Pai”, para que “Deus seja tudo em todos”. O próprio Deus será então manifestado em uma forma de glória digna de Si mesmo e digna de Sua eternidade, quando toda a administração, nas mãos de Cristo, tiver sido completada.
O grande trono branco
Ao mesmo tempo dessa entrega do reino e da grande ação final, ocorrerá a terceira fase da ressurreição. O julgamento ocorrerá diante do “grande trono branco”, e a condenação dos mortos, então julgados, será “o lago de fogo”. E essa ação estará em plena coerência com tudo o que a acompanha, porque será uma ação do “reino”, assim como o lançamento da própria morte no lago de fogo será outra ação. Tudo isso fala da plena sujeição daquele momento a Cristo em tudo, e que Ele foi competente em subjugar todas as coisas a Si mesmo. É um momento adequado para deixar de lado o poder e a administração e entrar na própria eternidade de Deus, quando “um cetro de equidade” cederá lugar à uma morada “em que habita a justiça” (Hb 1:8; 2 Pe 3:13).
Mas devemos notar duas ou três coisas relacionadas a isso mais particularmente. Cristo entrega o reino. Essa será a primeira vez, em todo o curso da história do mundo, que o poder foi devolvido à mão d’Aquele que o havia entregue. Dos animais de Daniel, um após outro, lhes foi tirado o reino recebido. Cada um tinha sido infiel ao que lhe foi confiado, e a administração lhes foi tirada. Nunca houve um reino “duradouro”, pois nunca houve um reino “fiel”. Isso vemos em Isaías 15-24 e em Jeremias 25, onde o cálice da indignação de Deus é enviado de um povo para outro, até que toda terra, toda nação, incluindo Israel, é obrigada a beber dele.
O Messias permanece não apenas preeminente, mas único em Seu reino. O reino do Messias não será tomado, mas Ele o entregará, como Aquele que tem sido infinitamente fiel, fiel até o mínimo jota ou til, Àquele que O designou.
A destruição da morte
Há um leve toque ou um traço de beleza, que também devemos notar, no meio das pesadas palavras desta passagem. Ou seja – que a morte é o único inimigo que é especificado como sendo destruído ou colocado sob os pés de Cristo. De um modo geral, aprendemos que todos os inimigos devem ser subjugados, mas só a morte é nomeada individualmente aqui.
Há um traço de beleza nisso, pois o grande assunto de todo o capítulo é a ressurreição. Outros profetas nos dirão da sujeição de outras coisas ao cetro do Senhor Jesus no dia de Sua realeza. Daniel nos diz que Ele quebrará em pedaços todos os outros reinos. O salmista nos fala de toda a criação reconhecendo a Ele em Seu senhorio universal. João pode chamá-Lo de, “Rei dos reis e Senhor dos senhores”. Mas não há nenhuma característica sinalizada aqui, a não ser a destruição da morte no poderoso alcance e domínio do reino de Cristo. E novamente eu digo, há um toque e um traço de beleza nisso, porque a ressurreição é o tema de todo o capítulo.
Tudo o que foi para o Senhor ou do Senhor entre os seus santos será reconhecido no Seu dia. Toda graça neles, todo amor, todo serviço, todo sofrimento para Ele ou para a justiça – todas as formas e medidas dessas coisas serão aceitas e honradas. A isto acrescento todo aprendizado de Sua mente terá sua aceitação e seu próprio gozo com Ele naquele dia. Pode ser pequeno em sua comparação, mas terá a sua medida. Servos, os que O amavam e mártires serão aceitos então, assim como serão os discípulos. Eu reivindico um lugar naquele dia em que “cada um receberá de Deus o louvor” (1 Co 4:5), para aqueles que, no meio de erros humanos e julgamentos errôneos, aprenderam e valorizaram e se apegaram aos pensamentos e princípios da sabedoria divina e da mente de Deus, no decorrer de Suas dispensações.