Origem: Revista O Cristão – Fé

Fé e Carne

Gênesis 3, 4 e 5 são capítulos muito importantes. Eles nos mostram a produção das duas grandes energias que, até hoje, animam toda a cena moral ao nosso redor. Essas duas energias são a energia da carne e a energia da fé, isto é, da velha natureza e da mente renovada.

A energia da carne 

A mentira da serpente prevaleceu para produzir a primeira delas. A serpente chama a atenção da mulher com palavras em que havia alguma sugestão prejudicial ao seu Senhor e Criador. Era uma mentira, embora sutilmente transmitida – o único instrumento pelo qual ele poderia alcançar e tentar Eva. Ela ouve e responde, e suas faculdades, assim alistadas, logo estão em ação na causa de seu sedutor. O princípio que é chamado de “carne” é produzido e começa a funcionar imediatamente.

O caso de Caim 

Mas o funcionamento desse mesmo princípio (assim produzido em Adão pela mentira da serpente) se manifesta de outras maneiras depois em Caim. “Caim, que era do maligno”. Ele se torna um lavrador do solo. Mas ele o cultiva, não como sujeitado a uma pena, mas como alguém que tiraria algo desejável do solo, embora o Senhor o tenha amaldiçoado. Ele desejava conseguir algo por si mesmo, independente de Deus.

Nada é mais piedoso, mais de acordo com a mente divina, a nosso respeito, do que comer o nosso pão com o suor do nosso rosto, obter alimento e vestuário com trabalho duro e honesto. É uma bela aceitação da punição do nosso pecado e uma reverência aos justos pensamentos de Deus. Mas obter das produções do solo amaldiçoado o que deva ministrar para nosso deleite, nossa honra e nossa riqueza, no esquecimento do pecado e do julgamento de Deus, está apenas perpetuando nossa apostasia e rebelião.

Existe a inimizade da semente da serpente contra a Semente da mulher. “Caim, que era do maligno e matou a seu irmão. E por que causa o matou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas”. Essa foi a causa. Foi a inimizade do pecado contra a piedade, a inimizade da mente carnal contra Deus, a cobiça do velho homem, a cobiça da carne contra o Espírito; foi o ódio do mundo a Cristo, porque Ele testificou que “as suas obras são más”. Não é “a mente da carne é inimizade contra Deus”?

Tal é a carne, a velha natureza, na história de sua produção e no curso e caráter de suas ações. Ela é agora exatamente como era antes. Ela rege “o curso deste mundo” sob Satanás, mas também é encontrada em cada um de nós, se houver provisão para ela. Mas devemos conhecê-la – conhecê-la de onde veio e como funciona e mortificá-la em seu princípio e em seus atos, em todas as suas próprias energias nativas que continuamente assediam a alma.

A atividade da fé 

Mas agora nos voltamos para as outras atividades que encontramos produzidas e atuantes nesses maravilhosos capítulos – a atividade ou energia da fé produzidas pela Palavra de Deus por meio do poder oculto, mas efetivo, do Espírito.

Enquanto Adão estava na condição que o pecado o havia reduzido, enquanto ele ainda era o homem acusado e culpado sob as árvores do jardim, a palavra do evangelho – a notícia do Conquistador morto, que sofreu a penalidade, a Semente da mulher – chegou ao seu ouvido, e ele nasceu de novo da semente incorruptível, a palavra da verdade do evangelho.

Ele sai assim como ele era. Mas ele surge no sentido da salvação e da vitória, que a graça de Deus havia produzido para ele. De acordo com isso ele fala da vida. Ele chama a esposa de “a mãe de todos os viventes”. Há algo verdadeiramente maravilhoso e excelente nisso. Morto, como ele mesmo era, em ofensas e pecados, ele fala de vida, mas fala disso em conexão com Cristo e somente com Ele. Ele não se dá nenhum memorial vivo. Ele não se liga ao pensamento ou menção à vida, mas apenas à Semente da mulher, de acordo com a palavra que tinha acabado de ouvir. Não, ele insinua que ele sabia muito bem que havia perdido todo o título e poder da vida, e que estava inteiramente em Outro, que estava na Semente prometida para ele. Que a vida encontrada em Outro era para seu uso, ele não tinha nenhuma dúvida, a prova disso é que ele sai do lugar de vergonha e culpa para o lugar de liberdade e confiança e para a presença de Deus.

A fé recupera Deus 

Ele recupera a Deus. Ele O havia perdido e se afastou d’Ele. Ele O perdeu como seu Criador, mas agora O reconquistou como seu Salvador, na Semente da mulher, em Cristo, Sua justiça. Essa simplicidade e ousadia da fé são exatamente segundo a mente de Deus. Nada poderia ter sido tão gratificante para Ele assim, e, consequentemente, em penhor disto, Ele primeiro faz uma túnica de peles para Adão, e então com Suas próprias mãos Ele cobre seu corpo nu.

Cristo é agora tudo para esse pecador perdoado. Da mesma forma, pela fé, Eva exulta na promessa. É o gozo e a expectativa de seu coração, e a religião de Abel é inteiramente formada por isso. As penalidades de suor do rosto e a tristeza de coração parecem ter sido esquecidas. E o que é profundamente a ser considerado é que a terra é segurada levemente enquanto Jesus foi firmemente agarrado. Adão recuperou o próprio Senhor, e parece nunca mais voltou a ser um cidadão do mundo, mas um mero lavrador do solo de acordo com a designação divina por um período para depois deixá-lo e compartilhar o fruto pleno da graça e redenção no qual ele agora confiava, em outros mundos.

A energia da carne ou da velha natureza é produzida e começa seu trabalho. A energia da fé também é produzida nas almas dos eleitos e exibe seu poder de uma forma muito abençoada. Nós aprendemos nossas próprias lições aqui. Nós carregamos as duas energias em nós. Pela natureza e pela graça, nossa alma tem conexão com Cristo, como Adão, Abel ou Sete. E esperamos pela trasladação de Enoque (Gn 5:24).

Adaptado de Musings on Scriptures

J. G. Bellett

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