Origem: Revista O Cristão – Fé

Viver Pela Fé

“Mas o justo viverá da fé”. Esta declaração de peso ocorre em Habacuque 2:4, e é citada em três epístolas, que são as epístolas de Romanos, Gálatas e Hebreus, com uma aplicação distinta em cada uma delas.

Em Romanos se aplica à grande questão da justiça. O apóstolo declara que não se envergonha do evangelho, “pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego. Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé” (Rm 1:16-17).

Então, em Gálatas, onde o apóstolo está procurando lembrar aquelas assembleias errantes os fundamentos do Cristianismo, ele diz: “E é evidente que, pela lei, ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé” (Gl 3:11).

Finalmente, em Hebreus, onde o objetivo é exortar os crentes a manterem sua confiança, lemos: “Não rejeiteis, pois, a vossa confiança, que tem grande e avultado galardão. Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa. Porque ainda um poucochinho de tempo, e o [Aquele – ARA] que há de vir virá e não tardará. Mas o justo viverá da fé” (Hb 10:35-38). Aqui, temos a fé apresentada não apenas como a base da justiça, mas como o princípio vital pelo qual devemos viver, dia após dia, desde o ponto de partida até o objetivo do percurso Cristão. Não há outro caminho de justiça, nenhum outro modo de viver, além de ser pela fé. É pela fé que somos justificados e pela fé é que vivemos. Pela fé nós permanecemos e pela fé caminhamos.

Para todos os Cristãos 

Agora isso é verdade para todos os Cristãos, e todos devem procurar entrar nisso plenamente. Todo filho de Deus é chamado a viver pela fé. É um grave erro, de fato, destacar certos indivíduos que, por acaso, não têm nenhuma fonte visível de recursos temporais e falam deles como se só eles vivessem pela fé. De acordo com essa visão da questão, noventa e nove de cada cem Cristãos seriam privados do precioso privilégio de viver pela fé. Se um homem tem uma renda estabelecida, se ele tem um certo salário, se ele tem o que é chamado de um chamado secular pelo qual ele ganha pão para si mesmo e para sua família, ele não tem o privilégio de viver pela fé? Ninguém vive pela fé salvo aqueles que não têm recursos visíveis de apoio? A vida de fé deve ser confinada às questões de confiar em Deus para obter comida e vestimentas?

Que rebaixamento da vida da fé é essa, de confiná-la a estas questões de suprimentos temporais! Sem dúvida, é muito abençoado e algo muito real confiar em Deus para tudo, mas a vida de fé tem um alcance muito maior e mais ampla do que meras necessidades corporais. Abrange tudo o que de alguma forma nos diz respeito, no corpo, alma e espírito. Viver pela fé é andar com Deus – se apegar a Ele, se recostar sobre a Ele, extrair de Suas fontes inesgotáveis. É encontrar nossos recursos n’Ele – conhecê-Lo como nosso único recurso em todas as dificuldades e em todas as nossas provações. Nossa fé deve ser absoluta, completa e continuamente focada n’Ele, para sermos indivisivelmente dependente d’Ele, além e acima de qualquer confiança na criatura, de toda esperança humana e de toda expectativa terrena.

Essa é a vida da fé. Que nós possamos entender isso. Ela deve ser algo real, ou não é nada. Não basta falar sobre a vida de fé. Devemos vivê-la e, para vivê-la, devemos conhecer a Deus na prática – conhecê-Lo intimamente, no profundo segredo de nossa própria alma. É totalmente vaidoso e ilusório professar estar vivendo pela fé e olhando para o Senhor, enquanto na realidade nosso coração está olhando para algum recurso da criatura.

Acessórios humanos 

Quantas vezes as pessoas falam e escrevem sobre sua dependência de Deus para satisfazer certas necessidades, e pelo simples fato de torná-las conhecidas a um companheiro mortal, elas estão, em princípio, se afastando da vida de fé! Se eu escrevo para um amigo ou comunico para a assembleia local o fato de que estou olhando para o Senhor para atender a uma certa necessidade, estou virtualmente fora da base da fé nesse assunto. A linguagem da fé é essa: “Ó minha alma, espera somente em Deus, porque d’Ele vem a minha esperança” (Sl 62:5). Dar a conhecer meus desejos, direta ou indiretamente, a um ser humano, é se afastar da vida de fé e uma desonra direta a Deus. Na verdade, é estar traindo-O. É o mesmo que dizer que Deus falhou comigo, e que devo procurar meu companheiro por ajuda. É colocar a criatura entre minha alma e Deus, roubando assim minha alma da rica bênção e a Deus da glória que é devida a Ele.

Este é uma obra séria e exige nossa atenção mais solene. Deus lida em realidades. Ele nunca desaponta um coração confiante. Mas então, devemos confiar n’Ele. Não adianta falar em confiar n’Ele quando nosso coração está realmente buscando outras formas de ajuda. “Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé?” (Tg 2:14) A profissão vazia é apenas uma ilusão para a alma e uma desonra para Deus. A verdadeira vida de fé é uma grande realidade. Deus Se deleita nela e é glorificado por ela. Não há nada neste mundo que gratifique e glorifique a Deus como a vida de fé.

Sabemos o que é ter o Deus vivo preenchendo toda a gama da visão de nossa alma? Ele é suficiente para nós? Podemos confiar n’Ele para tudo – para o tempo e a eternidade? Ou temos o hábito de tornar conhecidos nossos desejos ao homem de alguma forma? O nosso coração tem o habito de se voltar à criatura para obter simpatia, ajuda ou conselho? Estas são questões que nos sondam, mas não nos afastemos delas. Esteja certo de que é moralmente saudável que nossa alma seja testada fielmente, como na própria presença de Deus. Nosso coração é tão traiçoeiro que, quando imaginamos que estamos nos apoiando em Deus, podemos estar realmente nos apoiando sobre algum objeto humano. Assim, Deus é excluído e somos deixados na esterilidade e na desolação.

Gratidão por agentes humanos 

E, no entanto, Deus usa a criatura para nos ajudar e abençoar, pois Ele o faz constantemente. O homem de fé será profundamente consciente deste fato e verdadeiramente grato a todo agente humano que Deus usa para ajudá-lo. Deus consolou Paulo pela vinda de Tito, mas se Paulo estivesse olhando para Tito, ele teria tido pouco conforto. Deus usou a pobre viúva para alimentar Elias, mas a dependência de Elias não estava na viúva, mas em Deus. Assim é em todos os casos. Tenhamos nossa total confiança em Deus e então nosso coração continuará em paz. Então aceitaremos de bom grado o que Deus nos dá por meio de outros, mas Deus estará continuamente entre nós e a criatura, em vez de a criatura sutilmente se colocar entre nós e Deus.

Adaptado de Living by Faith

C. H. Mackintosh

Compartilhar
Rolar para cima