Origem: Revista O Cristão – Deus é Luz
Filhos da Luz
Os crentes são exortados a serem “imitadores de Deus, como filhos amados” (Ef 5:1). Deus Se revelou como Amor e Luz. Nos versículos anteriores, Deus é visto como Amor e, portanto, nos é dito para “andar em amor”. Aqui, Deus é visto como Luz, e por isso nos é dito para andarmos “como filhos da luz” (Ef 5:8).
O princípio universal é que os crentes devem “andar dignos da vocação com que fostes chamados” (Ef 4:1). Visto que os crentes são santos (Rm 1:7; 1 Co 1:2), eles são exortados a uma caminhada santa porque são santos por meio do chamado de Deus. Esses crentes já haviam andado nas concupiscências da carne, mas agora, tendo a vida de Cristo, deveriam mostrar essa vida em sua caminhada. Quão impróprio para aqueles assim santificados andarem na imundícia! E isso não somente nas ações, mas em palavras, pois os crentes devem agir “como convém a santos”. A leviandade de coração que se expressava a si mesma no velho homem, poderia agora no novo homem encontrar uma expressão adequada nas “ações de graças”.
Mas outro motivo é adicionado. “Porque bem sabeis isto: que nenhum fornicador, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus” (Ef 5:5). Se for para termos parte “no reino de Cristo e de Deus”, devemos ser moralmente adequados a ele em caráter. Como vistos em Cristo, já fomos feitos para “participar da herança dos santos na luz” (Cl 1:12), mas aqui a questão não é tanto de posição como de conduta.
Fracasso não altera o princípio
Não há dúvida de que muitas vezes há um fracasso grave, mas isso não altera o princípio. O que distingue um Estado bem governado é a ordem e a obediência à lei. O que distingue o reino de Deus é a santidade e a pureza da caminhada. Em um Estado bem governado, pode haver casos de desordem e desobediência à lei; entre os membros do reino de Deus, pode haver casos de impiedade e um andar impuro. Mas, em ambos os casos, isso é um desvio da ordem normal. Assim, a libertinagem e a imoralidade são condenadas igualmente pela graça e pelo governo de Deus, e o apelo ao crente, tanto como santo quanto como membro do reino de Cristo e de Deus, é que ande como é digno da vocação pela qual é chamado.
A vã filosofia do homem pode realmente procurar perverter a doutrina da graça em um consentimento de imoralidade, mas a tolice do ensino que consentiria tais práticas é vista imediatamente pelo fato de que estas são as mesmas práticas pelas quais o julgamento de Deus vem sobre os filhos da desobediência (Ef 5:6). Eles mesmos tinham estado nessa condição, mas Deus os havia chamado para fora dela. Como Ele poderia suportar que eles andassem nos mesmos atos dos quais foram libertos? “Porque,” Ele argumenta, “noutro tempo, éreis trevas, mas, agora, sois luz no Senhor; andai como filhos da luz” (Ef 5:8).
A luz da vida
Cristo veio para revelar Deus como Luz, como em todos os outros meios. Daí Ele fala de Si mesmo como “a Luz do mundo”, e declara que “aquele que Me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8:12). A Escritura não conhece tal pensamento de um homem que está na luz andando em trevas. Ela dá numerosos exemplos do fracasso dos crentes, e mostra como a carne, onde permitida agir, é tão ruim no convertido como na pessoa não convertida. Mas, por tudo isso, o pensamento humano de que um crente pode continuar a andar e se deleitar no pecado é totalmente oposto ao ensino da Palavra de Deus: “Se dissermos que temos comunhão com Ele e andarmos em trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Mas, se andarmos na luz, como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1 Jo 1:6-7). As duas grandes classes são, portanto, o incrédulo, que anda em trevas e não tem comunhão com Deus; e o crente, que anda na luz e tem comunhão. Os convertidos de Éfeso já tinham pertencido à primeira classe, mas agora estavam na segunda. Como filhos da luz, deviam mostrar o que era aceitável a Deus e produzir o fruto da luz.
Onde a luz está, as trevas desaparecem
Onde a luz está, as trevas desaparecem. Assim, onde se permite que os raios da luz de Deus examine o coração há um verdadeiro e profundo julgamento do mal, assim como uma separação prática dele. Então o apóstolo diz, “E não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas, antes, condenai-as” (Ef 5:11). O crente não só caminha na luz, mas ao fazê-lo torna-se uma fonte de luz. Assim, nosso Senhor diz: “Se Eu não viera, nem lhes houvera falado, não teriam pecado, mas, agora, não têm desculpa do seu pecado” (Jo 15:22). As trevas não se descobrem a si mesmas, mas são descobertas pela luz. A mera filosofia, por mais profunda que seja, não pode mostrar as coisas de acordo com os pensamentos de Deus. A vida e a luz devem andar juntas. Somente a alma vivificada pode discernir em Cristo a luz do mundo, e ver todas as coisas na forma e cor em que esta luz as revela.
O nosso andar
Todas as exortações anteriores são assim brevemente resumidas – “Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo, porquanto os dias são maus. Pelo que não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor” (Ef 5:15-17). Loucura e Sabedoria na Escritura não são meramente qualidades intelectuais, mas têm sempre um caráter moral. O crente, como filho da luz, tem “a mente de Cristo”; tem o Espírito Santo para lhe ensinar as coisas profundas de Deus. Mas a carne está constantemente presente para lutar contra o Espírito, e isso exige vigilância constante para andar como sábios e não como tolos. Isso é ainda mais necessário porque os tempos são maus, de modo que cada oportunidade precisa ser aproveitada.
Então, um exemplo particular é dado para ilustrar os princípios assim estabelecidos – “E não vos embriagueis com vinho, no qual há devassidão, mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5:18 – AAIB). O gozo do mundo exprime-se de maneira carnal; é mera excitação natural, como a provocada pelo vinho. O crente deve estar em contraste com isso. No deleite mais profundo proporcionado pelo Espírito de Deus e não na euforia proporcionada por causas meramente naturais.
Há uma outra passagem acrescentada que parece um tanto estranha – “sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus” (Ef 5:21). A alegria provocada pelo vinho é hostil e autoritária; não é assim com a alegria do coração derramada pelo Espírito. O profundo senso de graça que suscita louvor e ações de graças a Deus humilha em vez de exaltar. Quanto mais cheio o coração for de louvor a Deus, mais baixo será em sua própria estima e, portanto, a submissão um ao outro; não de fato por simples bondade, mas no sentido profundo do temor de Deus, que nunca deixa de encher o coração ocupado com Sua bondade e amor.