Origem: Revista O Cristão – Força e Fraqueza

Força e Coragem

Força e coragem são mais necessárias em um dia de declínio do que quando tudo está indo bem. Há o inimigo para enfrentar, e, em vez de ter o apoio de nossos irmãos, podemos encontrar aquilo que esfria o coração e o enche de tristeza. Aqui o coração é provado, e somente Deus pode sustentar.

Serviço e conflito 

Não há apenas conflito com um inimigo comum, mas há também o estado dos santos a ser levado como um fardo no coração. Você levará esse fardo? Você continuará apegado aos santos no poder do amor divino quando eles se afastarem de você, como todos na Ásia fizeram com Paulo? Você procurará servi-los quando for mal compreendido, erroneamente retratado ou mesmo difamado, como Paulo disse aos santos de Corinto: “Eu, de muito boa vontade, gastarei e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado” (2 Co 12:15)? O estado dos santos com quem temos de lidar muitas vezes será o meio de testar o estado de nosso próprio coração. É fácil amar meus irmãos quando eles me amam e me enchem de seus favores. Mas será que os amo da mesma maneira quando eles se voltam contra mim ou me desamparam? Ainda continuo apegado a eles após terem me abandonado? Intercedo por eles noite e dia quando talvez eles estejam apenas falando mal de mim? A verdadeira questão é: será que eu tenho o coração de Cristo em relação aos santos? E será que eu vejo a glória de Cristo associada a eles? Então agirei com eles de acordo com Seu coração e buscarei Sua glória em conexão com o estado deles, independentemente de direitos pessoais ou vantagem presente.

Paulo podia apelar a Deus como sua testemunha, da saudade que ele tinha de todos os santos filipenses nas entranhas (profundas afeições) de Jesus Cristo. Era devoção aos santos de todo o coração por amor a Cristo e por ter o coração de Cristo em relação a eles. E isso também precisamos ter, mas requer força e coragem para perseverar nisso, e ainda mais se os santos estiverem em um estado baixo e carnal. E precisamos nos lançar continuamente em Deus, o Único que pode dar força em meio à fraqueza e nos levar à vitória. Buscar diligentemente a face de Deus e esperar pacientemente n’Ele por Sua vontade, Sua ajuda e Sua direção são indispensáveis. Por que não temos força? Por que há declínio entre nós? Por que desunião e dispersão dos santos? Não é porque não vivemos perto de Cristo e não andamos em humilde dependência de Deus? E o Cristo de Deus, a verdade de Deus e o povo de Deus não tiveram seu lugar de direito em nossas afeições. Vemos um se tornando descuidado e outro errando, e talvez tenhamos falado deles e os tenhamos criticado quando deveríamos estar prostrados intercedendo por eles.

O exemplo de Josué 

Há muitos exemplos que nos são dados na Palavra de Deus nos quais vemos a demonstração desse poder e coragem em realizar a vontade de Deus. Mas o primeiro capítulo de Josué é importante por nos dar as condições que governam essas coisas. Três vezes o Senhor exorta Josué nesse capítulo: “Sê forte e corajoso” (ARA). Havia a obra a ser feita, o princípio sob o qual deveria ser feita e a base da força e da coragem para isso.

A obra 

1. A obra a ser feita era a divisão da terra entre as tribos de Israel. “Sê forte e corajoso, porque tu farás este povo herdar a terra que, sob juramento, prometi dar a seus pais” (Js 1:6 – ARA). A terra a ser dividida era uma terra na qual havia nações mais poderosas que Israel – uma terra de “gigantes”, “carros de ferro” e cidades grandes e “muradas até aos céus”. Essas nações precisavam ser vencidas para dividir a terra, e para essa grande obra eram necessárias força e coragem.

O princípio 

2. Obediência era o princípio sob o qual essa obra deveria ser realizada e a condição para o sucesso. Josué 1:7-8 diz: “Tão-somente sê forte e mui corajoso para teres o cuidado de fazer segundo toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que sejas bem-sucedido por onde quer que andares.” (ARA) “Não se aparte da tua boca o livro desta Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme tudo quanto nele está escrito; porque, então, farás prosperar o teu caminho e, então, prudentemente te conduzirás [serás bem-sucedido – ARA].

Aqui podemos ver que não havia outra maneira de ter sucesso senão pela obediência. Josué não deveria se desviar da lei nem para a direita nem para a esquerda. As palavras da lei não deveriam se apartar de sua boca; ele deveria meditar nelas dia e noite, e o resultado seria um caminho próspero e bem-sucedido. A importância disso é inestimável. Se temos de tratar com Deus, Sua vontade deve ser tudo. É Ele Quem ordena; a nós cabe obedecer.

Agora, Deus nos fez conhecer Sua vontade em Sua Palavra. Sua vontade, Seus propósitos e Seus conselhos estão todos revelados ali. E, se quisermos conhecer Sua vontade e ser obedientes, devemos atender à Sua Palavra. É na recepção da verdade que recebemos e desfrutamos de bênçãos. A Palavra de Deus é pão para a alma. É assim que crescemos espiritualmente e aprendemos a mente de Deus para que possamos fazer Sua vontade e ter comunhão com Ele. Dessa forma, a vida, os caminhos, as ações, as palavras, os motivos, os desejos e as afeições do povo de Deus são formados e, de forma prática, tornam-se um testemunho da verdade e da graça de Deus. E Deus Se manifestará com aqueles e para aqueles que são assim governados praticamente por Sua Palavra.

A base 

3. A base da força e da coragem é o fato de que Deus ordenou e de que Ele está com aquele que obedece. “Não to mandei eu? Sê forte e corajoso; não temas, nem te espantes, porque o SENHOR, teu Deus, é contigo por onde quer que andares” (Js 1:9 – ARA).

As dificuldades podiam ser como montanhas, o inimigo podia ser grande e poderoso, mas Jeová era maior do que tudo e estava com Seu servo obediente, de modo que este não tinha nada a temer. Ele havia libertado Israel do Egito e os conduziu pelo mar Vermelho, pelo deserto e pelo Jordão, e Aquele que havia feito isso podia levá-los à vitória. Ele podia dar força e coragem contra as quais nenhum inimigo poderia resistir.

Precisamos dessa mesma força e coragem. “Fortalecei-vos no Senhor e na força do Seu poder”, é dito em Efésios 6:10, onde é uma questão do poder e das artimanhas de Satanás. E, quando o Cristianismo começou a declinar e Timóteo estava perdendo o ânimo, o apóstolo Paulo o encorajou com estas palavras: “Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, [ou poder] e de amor, e de moderação. Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro Seu; antes, participa das aflições do evangelho, segundo o poder de Deus” (2 Tm 1:7-8). Novamente: “Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus” (2 Tm 2:1). Timóteo precisava desse encorajamento, e nós precisamos também; além disso, Deus é capaz de dá-lo e o dará àqueles que seguem em obediência dependente à Sua vontade.

Fé em Deus 

Mas precisamos ter fé em Deus. A fé introduz Deus na questão, e para o Seu poder não há limites. Hebreus 11 nos dá muitos exemplos dessa fé que agiu para com Deus e na qual Seu poder foi demonstrado. Moisés “ficou firme, como quem vê Aquele que é invisível” (TB). “Pela fé” eles “venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões, apagaram a força do fogo, escaparam do fio da espada, da fraqueza tiraram forças, na batalha se esforçaram, puseram em fugida os exércitos dos estranhos” (Hb 11:33-34). Em meio à fraqueza, a fé os tornou fortes. Como Paulo também disse: “Quando estou fraco, então, sou forte”.

“Tende fé em Deus”, Jesus disse aos Seus discípulos e então acrescenta: “Em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito” (Mc 11:23). E como poderia ser de outra forma se há a fé que traz Deus para a questão? Aquele que criou as montanhas certamente também pode removê-las se Lhe aprouver fazê-lo. A verdadeira questão é: estamos andando com Ele? Temos o conhecimento de Sua vontade para podermos agir com confiança? Podemos trazê-Lo para o que estamos fazendo? Estamos com Ele e por Ele na realização de Sua vontade e de Seu propósito, de modo que podemos associar Seu nome ao nosso serviço? Se for assim, nenhuma dificuldade será grande demais. Podemos seguir em frente em nome do Senhor com força e coragem de coração e sem nos deixarmos abater por todo o poder que Satanás possa levantar contra nós.

Diligência de coração 

E aqui observemos que diligência de coração é necessária, e posso acrescentar, como de igual importância, dependência em oração. Oh, se fôssemos mais diligentes quanto à Palavra de Deus e à oração, quão diferente seria nosso estado! Quanto fervor de coração em todo o nosso serviço e quanta devoção a Cristo e ao Seu povo haveria, e quanta maior bênção seria desfrutada!

O quanto nos falta essa diligência de coração! Quantos momentos a cada hora, e horas a cada dia, são desperdiçados – tempo que poderia ser dedicado à oração e meditação na bendita Palavra de Deus, na qual encontraríamos o refrigério do Espírito Santo em nossa alma, enchendo-a com aquilo que flui do coração de Cristo em glória. Horas gastas em conversas tolas e fofocas vãs, entristecendo o Espírito, arruinando o crescimento espiritual e secando as fontes do amor divino na alma, que poderiam ser gastas em conversas santas e edificantes sobre Cristo e as coisas de Cristo. “A Palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros” (Cl 3:16). Nisto precisamos de diligência de coração para que o Senhor seja honrado e tanto a nossa bênção quanto a bênção de outros possam ser asseguradas.

Nosso próprio estado 

Mas será que agora seriamente nos atentaremos para o nosso próprio estado e o de nossos irmãos? Reconheceremos nossa frouxidão de alma – nossa culpada negligência – e com diligência de coração buscaremos a face de Deus e andaremos com Ele? Então poderemos esperar Sua bênção e o desfrute de Seu favor, que é melhor do que a vida (Sl 63.3). “Pelo que diz: Desperta, ó tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá. Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo, porquanto os dias são maus” (Ef 5:14-16).

Que o bendito Senhor dê ao autor e ao leitor força e coragem neste mundo mau para viver para Ele e para os Seus, servindo a Ele e a eles em humilde graça até que sejamos tirados da cena de conflito e serviço para descansar no eterno resplendor de Sua própria presença e na alegria de Seu amor imutável.

A. H. Rule (adaptado)

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