Origem: Revista O Cristão – Esdras
Força e Separação
Esdras, de 7 a 10, nos fala de sua história e daqueles que retornaram da Babilônia com ele cerca de sessenta anos após a volta de Zorobabel e dos que voltaram com ele. Encontramos em Esdras um homem de Deus. Ele, em circunstâncias normais, sem nenhum milagre distinguindo sua ação, nem qualquer exibição de glória ou de poder que o acompanhava, nem a inspiração que encheu os profetas Ageu e Zacarias no último avivamento, como vimos em Esdras 5-6. Tudo era normal: Seus recursos eram apenas os que temos atualmente – a Palavra e a Presença de Deus. Mas ele os usou e os usou muito bem e com fidelidade durante todo o tempo. Antes de começar a agir, ele preparou seu coração para buscar ao Senhor. Ele havia meditado em Seus estatutos até que seu proveito aparece a todos nós, como podemos dizer com certeza. Do início ao fim de sua ação, nós o vemos em grande comunhão e confidência com o Senhor. Ele levou a Palavra de Deus para cada dificuldade e obstáculo. Liderou um pequeno remanescente guiando-os desde a Babilônia até Jerusalém, exercitando um espírito de fé e obediência em uma medida incomum.
Ao começar a jornada, ele foi cuidadoso em preservar a santidade das coisas sagradas. Em tal espírito também atuou Joiada, o sacerdote, quando ele estava trazendo Joás de volta ao reino. Ele não sacrificou a pureza da casa de Deus por nenhuma necessidade da época (2 Cr 23). E então, liderando o remanescente de volta a Jerusalém, Esdras não sacrificou a santidade dos vasos da casa por nenhum obstáculo ou dificuldade dos seus dias. Ele procurou os levitas para levar aqueles vasos para casa, mesmo que isso o tenha atrasado nas margens do rio Aava por doze dias. Ele superou o rei Davi em tudo isso, pois Davi, quando pôde ordenar os recursos do reino, não manteve o Livro de Deus aberto diante de si, mas precipitadamente pôs a arca de Deus em uma carro novo. Esdras, porém, agiu como alguém que tem a Palavra de Deus sempre diante de si. Mesmo considerando todo o zelo de Davi, ele tomou cuidado para não agir com a pressa ou com a imprudência de Davi (1 Cr 13).
A força de Deus
É muito bom ver os santos, mesmo que em fraqueza por causa das circunstâncias, com nada além dos recursos normais, caminhando diante de Deus e cumprindo seus serviços e deveres.
E, além disso, nós vemos depois que Esdras não dá um passo para trás. Ele tinha se gloriado no Deus de Israel para o rei da Pérsia e não iria agora (começando uma jornada perigosa) pedir sua ajuda, contradizendo com seus atos o que confessou com seus lábios. Ele recebeu força de Deus pelo jejum ao invés de pedir ao rei.
Há belas combinações em tudo o que temos traçado neste prezado homem. Ele usou a Palavra de Deus e a Presença de Deus, ricamente instruído como um escriba, ele tinha muita confidência com o Senhor. Era diligente em suas meditações em casa, mas era enérgico, prático e devoto quando estava fora. Ele não iria contra sua consciência nem sacrificaria a Palavra de Deus por nenhuma dificuldade ou obstáculo, e se suas confissões foram, em algum momento, além de sua fé e encontrou-se em um lugar onde não tinha sido posto, ele esperou em Deus para ter seu coração fortalecido, e sem timidez ou futilidade foi reprovado no que confessou.
Novamente, todas as circunstâncias dele são as mesmas que temos hoje em dia. Ele tinha a Palavra de Deus e a presença de Deus, como já foi dito, assim como nós também temos. Mas aquilo era tudo o que Esdras tinha: pois não tinha nem mesmo a inspiração de Ageu ou de Zacarias para encorajá-lo. Era simplesmente a graça de Deus, no poder do Espírito, reavivando um santo para um novo serviço para o Senhor.
Se outras porções da história dos cativos que retornaram nos instruíram, encorajaram e nos alertaram, com certeza, agora podemos dizer: “esta pode certamente nos humilhar”. Na condição de Esdras, quão friamente e de maneira tão fraca são nossas almas exercitadas em comparação com um espírito de serviço fervoroso e comunhão confidente que pertenciam a ele!
A jornada foi completada, o segundo êxodo da Babilônia estava completo, e Jerusalém foi alcançada por Esdras e seus companheiros sem nenhum problema ou perda durante o caminho. A boa mão de seu Deus estava com eles e provou que era suficiente sem a ajuda do rei. Todos os tesouros foram entregues no templo, da mesma forma que foram pesados e contados no rio Aava. Todos os que nos dias de Noé tinham sido colocados na arca foram tirados sãos e salvos. Nem um grão caiu no chão de tais tesouros em qualquer momento, e então, todos os que tinham deixado a Babilônia, chegaram a Jerusalém.
Novaseparação para Deus
Para que algo seja mantido puro no progresso da dispensação, o poder vivificador deve ser aplicado de maneira constante, uma revigorada separação para Deus e Suas verdades deve ocorrer. Assim aconteceu naquele momento com Esdras em Jerusalém. Mas agora iremos pausar por um momento, para considerar alguns princípios divinos. No dia do dilúvio, Deus separou d’Ele e de sua criação as contaminações por meio do juízo. Mas quando o mundo se corrompeu novamente após o dilúvio, Ele diferenciou o puro do impuro pelo chamamento de Abraão para Si mesmo para Se fazer conhecido, de modo que Abraão caminhasse junto a Ele, à parte do mundo. Essas são amostras do que Ele tem feito desde então, e ainda está fazendo. A separação do mal é, em um sentido amplo, o princípio de comunhão com Ele.
Um vaso purificado
Esdras logo descobriu que os cativos que retornaram tinham praticamente esquecido de tudo isso. Os filhos dos cativeiro estavam se casando e dando-se em casamento aos gentios. Esdras então se envolveu numa obra de reforma, e a bênção do Senhor espera por isso. Não há milagre, nem glória manifestada, nenhuma energia poderosa falando da extraordinária presença divina, o serviço é feito para a glória do Deus de Israel, e no espírito de adoração e comunhão. Esdras manteve os princípios, e levou a Palavra de Deus para cada obstáculo.
Esdras logo percebeu também que os cativos que retornaram tinham se misturado com o povo da terra. Eles estavam envolvidos outra vez naquele mal, do qual o chamado de Deus os havia separado; eles estavam contaminados. Pois a santificação é pela “verdade”; a lavagem da água é “pela Palavra”, e se a santidade não é de acordo com a Palavra de Deus e a Palavra de Deus como Ele a aplica no tempo ou dispensacionalmente, então não há nenhuma qualidade divina. Não há nazireado nisso – nenhuma separação para Deus. Os filhos dos cativos tinham se casado e se dado em casamento com os gentios. Esdras se preparou para o trabalho da reforma e fez isso no mesmo espírito que se propôs a ter diante de Deus antes e durante sua jornada. E isso é o que temos como uma marca especial de Esdras. Ele era, pessoalmente, tanto um santo de Deus assim como um vaso dotado e cheio. Isso é visto em Esdras mais do que em qualquer outro que tenha voltado do cativeiro antes dele. Esdras se preparou para o trabalho da reforma, Ele era um vaso que, de fato, se purificou para o uso do Senhor, para que a reforma em Jerusalém fosse completada com o mesmo zelo da jornada desde a Babilônia, e as bênçãos do Senhor esperam por isso. Não há nenhum milagre, nenhuma glória exibida e nenhuma energia poderosa demonstrando extraordinária presença divina: nada é visto fora da medida comum ou além de recursos comuns. O serviço foi feito, por ter sido de acordo com a Palavra escrita, para a glória do Deus de Israel e no espírito de adoração e comunhão. Essa é uma amostra do que o serviço nestes dias poderia ser, ou, talvez possamos dizer, o que deveria ser. Esdras, em todo o momento, não deu ouvidos ao que podia ser conveniente, nem se rendeu às dificuldades, nem ainda se recusou a ser diligente ou a trabalhar, ele manteve os princípios, e levou a Palavra para todos os obstáculos.
Acredito profundamente que os santos de Deus hoje possam ler a história dos cativos que retornaram e considerá-la útil para edificação, instrução, encorajamento, bem como para alertá-los e humilhá-los.
“Quão precioso é o Livro Divino,
dado por inspiração!
Claro como uma lâmpada, suas doutrinas brilham
Para nos guiar até o céu.”
