Origem: Revista O Cristão – Força e Fraqueza
Fortalecido em Espírito
Quando consideramos a questão da força e da fraqueza, encontramos muitas referências na Palavra de Deus a ambas. Fraqueza foi encontrada em muitas pessoas, como também força. Houve aqueles que eram naturalmente fracos, mas que foram fortalecidos porque confiaram na força do Senhor. Da mesma forma, houve aqueles que eram naturalmente fortes, mas que se tornaram fracos porque o Senhor não estava com eles. Algumas dessas pessoas são mencionadas em outros artigos desta edição de O Cristão.
No entanto, encontramos uma expressão incomum no evangelho de Lucas – uma frase aplicada a João Batista e ao nosso Senhor Jesus Cristo –, a saber, que, à medida que iam crescendo neste mundo, eles “se fortalecia[m] em espírito” (Lc 1:80, 2:40 – ARA). Há alguma dúvida sobre se as palavras “em espírito” deveriam ser incluídas na referência ao Senhor Jesus em Lucas 2:40, e há várias boas traduções da Bíblia que a omitem, incluindo a tradução JND. Há um significado nessa omissão, que comentaremos mais adiante.
Quando consideramos João Batista, descobrimos que seu nascimento foi incomum, pois seus pais eram mais velhos e já haviam passado da idade em que normalmente poderiam ter filhos. Mas isso havia acontecido centenas de anos antes com Abraão e Sara, e o mesmo aconteceu com Zacarias e Isabel. O anjo que anunciou a notícia a Zacarias profetizou a respeito de João, a ponto de dar seu nome, que é derivado do hebraico. Significa “agraciado por Deus”, ou em tradução livre, “Deus foi gracioso”. Mais tarde, quando Deus abriu a boca de Zacarias depois que João nasceu, ele pôde dar mais profecias sobre o filho que lhe nascera. Finalmente, está registrado que “o menino crescia e se robustecia [fortalecia – ARA] em espírito, e esteve nos desertos até ao dia em que havia de mostrar-se a Israel” (Lc 1:80).
A disposição mental
A palavra usada aqui para “espírito” é a mesma palavra usada para “espírito” na maioria das referências do Novo Testamento e pode se referir ao Espírito Santo, a um espírito maligno ou até mesmo à disposição mental de uma pessoa. Como exemplos desta última interpretação, lemos em Mateus 5:3 sobre aqueles que eram “pobres de espírito” e, em Atos 18:25, sobre Apolo, que era “fervoroso de espírito”.
O que significa então a expressão “se fortalecia em espírito” no caso de João Batista? Sabemos que é o nosso espírito humano que é capaz de reconhecer Quem é Deus e nos permite ter um relacionamento com Ele. Às vezes, na Escritura, é difícil separar as referências ao espírito humano da ação do Espírito de Deus no mesmo indivíduo. Eu sugeriria que esse é o caso aqui. Sem dúvida, o Senhor estava preparando João para a obra que ele deveria fazer, fortalecendo-o em corpo, alma e espírito, mas especialmente em espírito. Para ser o precursor do Senhor Jesus, João não poderia ser um homem fraco, pois ele enfrentaria forte oposição dos líderes Judeus bem como do rei Herodes. Além disso, ele deveria ser capaz de viver fora do “círculo social”, por assim dizer. Aqueles que buscavam o Senhor deveriam estar dispostos a sair ao deserto para encontrar João. Embora João não fosse habitado pelo Espírito de Deus, como os crentes são hoje, certamente o Espírito de Deus estava envolvido em tudo isso, assim como nos dias de Sansão, quando esse mesmo Espírito “começou a impelir [Sansão] de quando em quando” (Jz 13:25).
Onde é devido o crédito
Você e eu podemos não ter uma missão tão proeminente quanto João Batista, mas o Senhor tem uma obra para cada um de nós fazer como Cristãos. Se estivermos dispostos a ser usados, Ele pode e vai nos fortalecer, para que também possamos nos tornar “fortes em espírito” e capazes de realizar a obra que o Senhor nos deu. O importante é reconhecer que a força não é nossa, mas de Deus. João constantemente olhava para o Senhor e não permitia que nenhum crédito fosse dado a ele. Não importava qual pergunta fosse feita a ele, ele sempre simplesmente “virava os holofotes” para o Senhor Jesus. Como resultado, o Senhor Jesus pôde dizer dele: “Entre os nascidos de mulher não há maior profeta do que João Batista” (Lc 7:28).
Ele Se tornou forte em humanidade
Mas agora, e quanto ao nosso Senhor Jesus Cristo? Como observei no segundo parágrafo deste artigo, em melhores traduções das Escrituras, as palavras “em espírito” em Lucas 2:40 são omitidas, de modo que se lê: “O Menino crescia e Se fortalecia, enchendo-Se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre Ele” (ARA). Aqui estamos falando da Pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo, e devemos ter muito cuidado ao usar “palavras… que o Espírito Santo ensina” (1 Co 2:13).
A respeito do Senhor Jesus, lemos em Colossenses 2:9: “porque n’Ele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade”. Como então Ele poderia “Se fortalecer”, e por que não “em espírito”? Sabemos que a Pessoa de Cristo como Filho do Homem é um mistério divino e que a perfeita fusão de Deus e do homem em uma Pessoa é impossível de entendermos. No entanto, sabemos que Ele Se tornar Homem era algo novo para Ele, algo a que (falamos com reverência) Ele precisou aprender a Se adaptar. Por exemplo, lemos em Hebreus 5:8 que “embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu” (ARA). Como Homem, Ele aprendeu a experiência e o custo da obediência – algo que Ele nunca havia feito antes. Nesse mesmo sentido, Ele “tornou-Se forte” como Homem, mesmo sendo perfeitamente Todo-Poderoso como Deus. Embora em Pessoa Ele sempre fosse o Filho, Ele pessoalmente entrou na humanidade – espírito, alma e corpo – e tão completamente que, como alguém disse: “N’Ele não faltava nada de tudo o que pertencia à perfeita humanidade; Ele era tudo e sentia tudo o que o homem deveria ser e sentir – feito em todas as coisas semelhante a Seus irmãos. … Ele foi feito de uma mulher, participou da carne e do sangue – era verdadeiramente a Semente da mulher, e dela derivou a natureza de um homem que O colocou em relação a Deus e às coisas aqui como um Homem responsável na Terra.”
Seu espírito humano
Dessa forma, nosso Senhor “tornou-se forte” à medida que crescia neste mundo, mas não era necessário que Ele Se tornasse forte “em espírito”. Nosso Senhor certamente tinha um espírito humano, mas porque “n’Ele não há pecado” (1 Jo 3:5) Seu espírito sempre esteve em perfeita comunhão com Deus, Seu Pai. Sabemos que Ele nasceu do Espírito (Lc 1:35) e, mais tarde, recebeu o Espírito de Deus como poder para Seu ministério terrenal (Mt 3:16-17). Seu espírito humano sempre respondeu perfeitamente ao Espírito de Deus.
Que maravilha, que reverência, e ainda que alegria enchem nosso coração ao vermos, de um lado, nosso Senhor Jesus Cristo vindo a este mundo e como o Espírito de Deus guarda cuidadosamente Sua Pessoa! Aqui nos encontramos na presença de Um que ultrapassa a compreensão de nossa mente e, ainda assim, desperta a adoração e veneração de nosso coração. Do outro lado, vemos como Deus Se deleita em fortalecer os Seus, a Quem Ele designou para o serviço para Ele, como em João Batista. Ele quer que sejamos “fortes em espírito” também, como aqueles que estão aqui para representar Cristo neste mundo e para testificar para Ele.