Origem: Revista O Cristão – Josué, Calebe e Eleazar

Fracassos de Josué

Em outros artigos nesta edição de “O Cristão”, falamos sobre a formação de Josué, seu desejo de seguir o Senhor e sua fidelidade ao Senhor ao longo de sua vida. No entanto, o Espírito de Deus registra fielmente o fracasso, bem como a fidelidade dos servos do Senhor, e encontramos o fracasso em pelo menos duas ocasiões na vida de Josué. Tendo em mente que “tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito” (Rm 15:4), vamos olhar para essas duas ocasiões de fracasso na vida de Josué.

Derrota em Ai 

No primeiro caso, encontramos Josué prostrado no chão diante do Senhor após uma derrota desastrosa em Ai. Josué tinha conduzido Israel a uma grande vitória ao tomar a cidade de Jericó, porque eles agiram em estrita obediência aos mandamentos de Jeová. Mas quando se tratou de tomar a cidade de Ai, que era muito menor, parece que Josué e Israel tentaram resolver o assunto por suas próprias mãos. Eles fizeram planos sem pedir orientação ao Senhor, e o resultado foi a derrota, com a perda de 36 homens. Compreensivelmente, Josué ficou muito perturbado, assim como os anciãos de Israel. Todos eles se prostraram em terra sobre o próprio rosto “perante a arca do Senhor” (Js 7:6) e deitaram pó sobre a própria cabeça.

A reação de Josué, no entanto, mostra fraqueza e fracasso, pois sua preocupação foi antes de tudo com Israel, e depois com a reação esperada dos cananeus. Pior ainda, ele quase repreende o Senhor por até mesmo fazê-los atravessar o Jordão, dizendo que teria sido melhor para eles ter morado do outro lado do Jordão – e tudo isso de um homem que, mais de 40 anos antes, havia defendido fortemente, junto com Calebe, que Israel passasse imediatamente pelo Jordão e conquistasse a terra de Canaã! É somente no final de seu discurso ao Senhor que ele diz: “Que farás ao Teu grande nome?” (Js 7:9). Isso contrasta muito com o discernimento de Moisés quando Israel fez o bezerro de ouro. No monte, ele teve entendimento quanto ao que estava acontecendo no arraial de Israel; o Senhor revelou isso a ele. E mais ainda, sua preocupação era, antes de tudo, com a santidade e glória do Senhor, e não com o povo.

Josué deveria ter conhecido a causa da derrota de Israel, e se ele e os anciãos de Israel tivessem consultado o Senhor antes de fazerem seus próprios planos de ataque a Ai, certamente Deus lhes teria revelado o pecado de Acã. Foi um pecado grave – um arrogante pecado, pelo qual não houve sacrifício expiatório. Em vez de se prostrar em terra sobre seu rosto, o Senhor diz a Josué: “Levanta-te” (Js 7:10). Foi bom humilhar-se diante do Senhor, mas era necessário mais; Josué precisava agir para a glória do Senhor.

Restauração: A porta da esperança 

Felizmente, Josué foi restaurado à comunhão com o Senhor e imediatamente seguiu Suas instruções para lidar com o pecado. Pode ter parecido um julgamento severo por um ato de furto resultante da cobiça, mas a santidade de Deus deve ser mantida. É sempre o caminho da bênção, pois somente quando a santidade de Deus é vindicada, Ele pode vir e abençoar. Acã e sua família foram apedrejados e depois queimados no vale de Acor, e muito mais tarde na história de Israel, encontramos o profeta Oséias referindo-se a este mesmo ato. Ao falar de bênção milenar, ele diz: “Eu lhe darei […] o vale de Acor por uma porta de esperança” (Os 2:15). O Milênio será introduzido por juízo, pois “havendo os Teus juízos na Terra, os moradores do mundo aprendem justiça” (Is 26:9). Josué teve que aprender isso, pois o pecado de um homem contaminou toda a congregação e ocasionou sua derrota pelas mãos dos homens de Ai. Somente depois que o pecado foi tratado Israel pôde seguir em frente em sua conquista de Canaã. Na segunda vez que atacaram Ai, eles o fizeram de acordo com as instruções do Senhor, e não com suas próprias ideias.

O engano dos Gibeonitas 

O segundo fracasso na carreira de Josué diz respeito aos gibeonitas, e em certo sentido é o mesmo fracasso, pois, mais uma vez, resultou da falta de buscar a mente do Senhor e Sua orientação. Tendo visto o poder de Deus em Israel e a derrota de Jericó e Ai, os gibeonitas recorreram ao engano para salvar a própria vida. Fingindo ter vindo de um país distante, eles trouxeram pão mofado, roupas e sapatos gastos, sacos velhos em seus jumentos e odres de vinho velhos. Eles fingiram ter ouvido falar da fama do Deus de Israel e pediram que Israel fizesse uma aliança com eles. Josué e os homens de Israel foram levados por esse ardil, mas é especificamente registrado que eles “não pediram conselho à boca do SENHOR” (Js 9:14). Assim, “Josué fez paz com eles e fez um concerto com eles, que lhes daria a vida” (Js 9:15). Três dias depois, Josué e os homens de Israel descobriram que os gibeonitas eram seus vizinhos e eram realmente algumas das nações cananeias que o Senhor havia comissionado Israel a destruir. Mas depois de jurar pelo nome do Senhor que os deixaria viver, Israel reconheceu que “não podemos tocar-lhes” (Js 9:19).

Mais uma vez a reação de Josué a esta descoberta da verdadeira identidade dos gibeonitas é bastante lamentável. Em vez de se reprovar a si mesmo e a Israel por não ter consultado o Senhor, Josué volta sua ira contra os gibeonitas, perguntando-lhes: “Por que nos enganastes […] morando vós no meio de nós?” (Js 9:22). A resposta deles foi simples: “tememos muito por nossa vida por causa de vós. Por isso, fizemos assim” (Js 9:24). Não podemos esperar que o mundo ao nosso redor aja com retidão diante do Senhor, e especialmente quando eles agem simplesmente para preservar a vida deles. Teria sido melhor para Josué confessar seu próprio fracasso primeiro e perceber que esta era a verdadeira causa do problema.

Os gibeonitas foram feitos “rachadores de lenha e tiradores de água” a partir daquele momento, e eles eram, sem dúvida, gratos por terem a vida poupada. Mas o problema veio muitos anos mais tarde por causa deles, pois em equivocado zelo, o rei Saul tentou destruí-los e trouxe fome sobre a terra durante o reinado de Davi. Às vezes, o fracasso em nossa vida pode ter consequências de longo alcance.

Em resumo, então, a partir desses dois incidentes na vida de Josué, aprendemos que não há substituto para agir em dependência do Senhor e buscar Sua orientação em todas as circunstâncias de nossa vida. Também aprendemos, no caso de Ai, a suprema importância de manter a santidade de Deus e Sua glória.

W. J. Prost

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