Origem: Revista O Cristão – Fruto do Espírito

O Fruto do Espírito

A expressão “fruto do Espírito” é encontrada duas vezes em nossas Bíblias das versões ARC e ACF, mas em uma tradução mais precisa é encontrada apenas uma vez, em Gálatas 5:22. Quando entendemos o erro que estava sendo ensinado entre as assembleias da Galácia, podemos ver por que Paulo enfatiza o Espírito de Deus. Parece que alguns entre os gálatas estavam ensinando que, enquanto as almas perdidas precisavam ser salvas somente por meio da fé em Cristo, ainda assim posteriormente elas tinham que viver a vida Cristã por uma regra de lei. Ao escrever a epístola, Paulo não tinha nenhuma palavra de louvor para eles, mas sim apontou que a eles estavam sendo ensinados num “outro evangelho” que realmente os tirou do fundamento da graça. Ele aponta as várias ramificações do que talvez parecesse ser “um pouco de fermento” (Gl 5:9), mostrando que muitas coisas ruins resultaram disso.

A seriedade de estar sob uma regra de lei é que ela exalta o homem, pois toda falsa doutrina tira a glória de Deus e exalta o homem. Uma regra de lei torna o próprio homem responsável pelo seu próprio desenvolvimento como Cristão e dá ao homem natural alguns resquícios de dignidade e respeito. Também promove uma atmosfera de legalismo entre os crentes, resultando em falta de amor e fazendo com que os Cristãos se mordam e se devorem uns aos outros (Gl 5:15).

O escândalo da cruz 

Uma regra de lei também tira “o escândalo da cruz” (Gl 5:11), pois uma lei na vida do crente supõe que a justiça prática em sua caminhada pode vir de um padrão legalista. Isso ignora a afirmação clara de que “se a justiça é mediante a lei, segue-se que morreu Cristo em vão” (Gl 2:21 – ARA). O que é então o escândalo da cruz? É a reprovação do mundo que vem para aqueles que, admitindo que seu velho “eu” pecaminoso é totalmente mau, confiam para sua salvação em um Salvador que morreu em uma cruz romana, assim como um criminoso comum. Ordenanças e legalismo não trazem perseguição e sofrimento. O homem natural pode apreciá-los, e quando aqueles que levam o nome do Senhor afundam a este nível, o mundo e eles mesmos estão de acordo e podem caminhar juntos. É significativo que foram os líderes religiosos dos judeus – aqueles que se gloriaram na lei – que condenaram o Senhor Jesus e insistiram para que Ele fosse crucificado. E qual era o cerne de seu ódio? O Senhor Jesus disse: “O mundoMe odeia, porquanto dele testifico que as suas obras são más” (Jo 7:7). Mas o verdadeiro Cristianismo significa seguir um Cristo rejeitado e suportar o desprezo e a reprovação do mundo.

As obras da carne 

Dessa forma, vemos uma estranha contradição: Não só uma regra de lei atrai a carne, mas também traz à tona o que Paulo chama de “as obras da carne”. O homem gosta de viver de acordo com uma regra, mas essa mesma regra faz com que seu “eu” natural se rebele contra ela. Então essas obras da carne (e elas são “obras”!) surgem, e a lista dada em Gálatas 5:19-21 é realmente triste. A energia humana pode mantê-las sob controle até certo ponto, mas sob a lei elas surgirão, assim como a água sob pressão encontrará seu caminho para fora da menor abertura. Qual é a solução?

Como aprendemos tão bem com Romanos 6-8, lutar contra a carne não funciona. Se fizermos isso, nos encontramos agindo “na carne”, e então descobrimos que “a inclinação da carne é inimizade contra Deus” (Rm 8:7). Assim como a atividade da carne é chamada de “as obras da carne”, assim também é “obra da carne” lutar contra a carne, e é uma batalha que não podemos vencer. Pelo contrário, precisamos viver “no Espírito” (Rm 8:9), pois é aí que Deus nos colocou posicionalmente. Quando cremos no Senhor Jesus Cristo e reconhecemos o valor de Sua obra na cruz, o Espírito Santo desceu e habitou em cada um de nós. Ora, Deus nos vê como estando “em Espírito” diante d’Ele; não somos mais vistos como estando “na carne”. Quando somos habitados pelo Espírito de Deus, descobrimos que o Espírito usa essa nova vida que temos em Cristo para produzir o fruto do Espírito. Assim como não é “obra” para uma árvore frutífera dar seu fruto característico, também não é “obra” para o Espírito de Deus dar o fruto que é característico do Espírito. Esse fruto é natural para o Espírito de Deus, assim como o fruto é natural para uma árvore frutífera. Nove características desse fruto estão listadas para nós na Palavra de Deus – “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gl 5:22-23 – ARA). Notamos que essa lista não é mencionada como os “frutos” do Espírito; em vez disso, o substantivo singular é usado, pois todas essas várias características são um fruto. Todas elas são produzidas pelo mesmo Espírito. Todos nós gostamos de ver essas coisas nos outros, e as desejamos para nós mesmos também. Por que então elas não aparecem mais facilmente em nós?

Obtemos algumas das razões no mesmo capítulo (Gl 5), e no início deste artigo já falamos de uma delas. Como dissemos, o homem natural gosta de uma regra de lei, porque dá algum crédito à velha natureza e tira esse “escândalo da cruz” neste mundo. Mas há outras razões.

A carne entristece o Espírito 

Lemos em Gálatas 5:24 que aqueles que pertencem a Cristo “crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências”. Essa palavra “crucificaram” é uma boa palavra que o Espírito de Deus usa aqui, pois descreve bem como é doloroso manter a velha natureza no lugar da morte. Gostamos demais de nós mesmos e não queremos crucificar a carne. Assim, como lemos: “a carne cobiça [luta – TB] contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne”. A atividade da carne entristece o Espírito, e o fruto deixa de ser produzido. Precisamos de constante diligência para crucificar a carne, mesmo que posicionalmente já o tenhamos feito.

Então, no versículo 26, nos é dito para não sermos “cobiçosos de vanglórias, irritando-nos uns aos outros, invejando-nos uns aos outros”. Podemos nos perguntar por que esses maus traços viriam à tona, mas eles também são o produto da carne, incitados por um padrão legalista. Apesar de estarem constantemente na companhia do Senhor, sabemos que várias vezes os discípulos disputaram entre si quem seria o maior. Temos que admitir que muitas vezes não somos melhores do que eles. Mais uma vez, a permissão disso em nossa vida reduz o fruto do Espírito.

Fruto 

Em resumo, o fruto do Espírito pode ser produzido por Deus em todos nós, mas descobriremos que o julgamento próprio é inseparável de uma caminhada em comunhão com Deus. Se quisermos ver o fruto do Espírito em nossa vida, devemos estar constantemente em guarda para julgar a atividade da carne. Mas se estivermos dispostos a fazê-lo, obteremos uma rica colheita!

Antes de deixar o assunto do fruto do Espírito, podemos dizer uma palavra sobre a mesma expressão em Efésios 5:9: “(porque o fruto do Espírito está em toda bondade, e justiça, e verdade)” (Ef 5:9). No entanto, essa expressão é mais bem traduzida na versão de ARA como “o fruto da luz”. O Espírito de Deus é certamente uma luz, pois o castiçal de ouro no tabernáculo era o símbolo do Espírito de Deus. No entanto, a palavra “luz”, como é usada aqui em Efésios 5, é uma palavra geral, referindo-se à luz da presença de Deus para a qual somos trazidos quando somos salvos. Somos levados ao relacionamento com o Senhor e, por meio de Sua Palavra, somos iluminados quanto ao que é adequado a Deus. O fruto dessa luz está de fato na bondade, na justiça e na verdade, em contraste com “as obras infrutíferas das trevas”, mencionadas no versículo 11 (ARA).

W. J. Prost

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