Origem: Revista O Cristão – Gideão
Gideão: Dificuldades e Armadilhas no Serviço
No momento em que nos propomos a andar com Deus e prestar testemunho para Ele, podemos ter certeza que encontraremos todo tipo de dificuldades em nosso caminho. Ao obter sua vitória sobre os midianitas, Gideão e seus 300 companheiros encontraram algumas. Após a vitória, eles encontraram outras maneiras pelas quais tiveram que sofrer.
Contenção
Os homens de Efraim lutaram com Gideão. No tempo de Débora eles estavam no posto de honra (Jz 5:14), mas desde então houve declínio, e Gideão, ensinado por Deus, não os havia convocado. Essa distinção fez com que eles tivessem inveja da energia da fé e de seus resultados para com os outros. “Que é isto que nos fizeste?” (Jz 8:1). Efraim, preocupado com sua própria importância, pensa em si mesmo em vez de pensar em Deus. Esta é uma fonte frequente de conflitos entre irmãos, e tais contendas são muito mais dolorosas e difíceis do que o conflito com o mundo. É precioso ver o homem de Deus passar por essa dificuldade no poder do Espírito.
Quando surgem polêmicas entre os Cristãos, a profunda humildade é seu único recurso. Gideão tinha aprendido isso na escola de Deus, de modo que não foi difícil para ele perceber como agir nesta ocasião. Deus o fizera entender que a coragem e a força que ele tinha não emanavam dele mesmo e que, em si mesmo, Gideão valia apenas um pão de cevada torrado. E assim, na presença de Efraim, ele tomou cuidado para não falar de si mesmo. Ele dedicou sua atenção ao que Deus havia feito pelas mãos de seus irmãos. “Que mais fiz eu”, disse ele, “agora, do que vós? Não são, porventura, os rabiscos de Efraim melhores do que a vindima de Abiezer?” Ele tomou o lugar mais baixo e reconheceu zelo deles por Deus, assim, a humildade desse servo de Deus é o meio de remover uma grande dificuldade. Agiremos de maneira semelhante e, quando falamos de nossos irmãos, enumeremos não seus fracassos, mas o que Deus operou neles. Nada apazígua mais a contenda como o ver a Cristo nos outros, é o resultado de uma condição Cristã normal nos filhos de Deus.
Cansados, mas ainda perseguindo
Gideão e seus companheiros encontraram uma segunda dificuldade muito mais difícil do que a anterior. Eles estavam “cansados, mas ainda perseguindo” e chegaram a Sucote, uma cidade de Israel que pertencia à tribo de Gade. Sucote os rejeitou, recusando-se até mesmo em dar-lhes pão. Havia no meio do povo de Deus uma cidade inteira, levando o nome de Israel, que havia renunciado a toda responsabilidade corporativa com aqueles que prestavam testemunho de Jeová. Eles tinham confiança no inimigo e não se comprometiam tomando parte com Israel. Há muitos nos dias de hoje que levam o nome de Cristo, e ainda buscam a amizade e aliança com o mundo. Por causa do medo de se comprometerem, eles levantam uma causa comum com os nossos inimigos, aumentando as dificuldades do caminho para os crentes e impedindo-os de serem vencedores. Não nos surpreende que Gideão não pare no caminho para castigar este espírito. Nosso coração, como o de Gideão, deveria estar totalmente no conflito. O homem de Deus seguiu seu caminho, a infame conduta de Penuel não o prende mais do que a de Sucote. Tudo está em seu tempo para o testemunho de Deus. Satanás procura trazer confusão sobre isso, de modo a criar obstáculos para nós. Não deve ser permitido que Zeba e Salmuna escapem; o julgamento das cidades rebeldes será executado mais tarde. Em seu retorno, o homem de Deus exerceu disciplina na assembleia de Israel e “matou os iníquos”, pois Deus seria desonrado se o mal fosse tolerado na assembleia.
Humildade e fé
Em toda essa história, duas características – humildade e a energia da fé – estavam unidas em Gideão: energia, para reunir e purificar o povo para a batalha e para perseguir o inimigo; humildade, que resultou do abandono de toda confiança própria e levou à absoluta dependência em Jeová. E, no entanto, foi exatamente nisso que o inimigo estava prestes a lançar uma armadilha para ele.
Os reis derrotados não pouparam elogios a Gideão (Jz 8:18-21). Ele perguntou-lhes: “Que homens eram os que matastes em Tabor? E disseram: Qual tu, tais eram eles; cada um, na aparência, como filhos de um rei” (v. 18). Devemos desconfiar das bajulações do mundo, pois as bajulações do mundo nos enfraquece e nos priva das armas com as quais lutamos contra ele.
Temor
Não parece que Gideão tenha se desviado do caminho de Deus por esse discurso, mas parece ter perdido um verdadeiro senso do poder do inimigo e ter menosprezado ao invés de ter temido a isso. Este não foi o caso de Josué quando ele aprisionou os cinco reis (Js 10:22-27). Longe de subestimar a força do inimigo, ele lhes disse: “Chegai e ponde os vossos pés sobre os pescoços destes reis”. Depois acrescentou: “Não temais, nem vos espanteis; esforçai-vos e animai-vos” – ele percebeu ao mesmo tempo o poder do mundo e a força de Jeová. Duas coisas nos convêm quando estamos lutando contra o inimigo – medo e tremor quanto a nós mesmos e plena segurança quanto a Deus. Gideão percebeu essas coisas de maneira imperfeita. Ele confiou a seu filho Jéter a tarefa de matar esses dois reis. “Porém o jovem não arrancou da sua espada, porque temia” (v. 20). Anteriormente, Jeová havia separado os que estavam com medo e os retirou do conflito. Aqui Gideão, ao atribuir a uma criança a destruição de um inimigo, não agiu de acordo com os caminhos de Deus. Deus não chama crianças na fé para realizar ações publicamente brilhantes, uma criança vai para a escola e não para a guerra.
Bajulação
Então aqueles reis disseram: “Levanta-te tu e acomete-nos; porque, qual o homem, tal a sua valentia” (v. 21). Esta é uma bajulação nova, contra a qual Gideão deveria ter protestado, pois ele havia aprendido uma lição totalmente diferente na escola de Deus. Na realidade, sua força era exatamente o oposto do que era a do homem. Não tinha ele percebido isso naquela solene noite em que Deus lhe revelou que um pão de cevada tostado estava prestes a derrubar todas as tendas de Midiã? Em seus melhores dias, Gideão não teria aceitado essa bajulação, nem teria permitido ao adversário plantar um germe de confiança própria em seu coração.
Mas então o vemos exposto a uma armadilha nova (v. 22-23). Não é mais a bajulação do mundo, mas a do povo de Deus. Os homens de Israel disseram a Gideão: “Domina sobre nós, tanto tu como teu filho e o filho de teu filho; porquanto (tu) nos livraste da mão dos midianitas”. Colocam seu líder no lugar de Jeová e oferecem-lhe o cetro. Ninguém é mais propenso ao clericalismo do que o povo de Deus. É a ruína da Cristandade, a tendência inerente do coração natural. O fato de o ministério ser abençoado está apto a nos levar a fazer do servo um “ministro” no sentido humano, perdendo assim a visão de Deus. Pela graça de Deus, a fé de Gideão escapou desse perigo. Ele disse resolutamente: “Sobre vós eu não dominarei, nem tampouco meu filho sobre vós dominará; o SENHOR sobre vós dominará”. O objetivo de seu serviço era que Deus tivesse a preeminência e não perdesse nada da Sua autoridade sobre o Seu povo.
