Origem: Revista O Cristão – Sofrimentos
A Glória Futura Supera o Sofrimento Presente
Romanos 8:18-27
É confortante e instrutivo notar a maneira que a glória esperada superava em muito os sofrimentos na mente do apóstolo. Não é que ele não tenha sofrido – devemos sofrer, e sofrimentos não são agradáveis, mas o sofrimento logo acaba! “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Rm 8:18). Não é apenas que ele sabe que então terá descanso e glória, mas que percepção da glória ele tem agora – a glória que será exibida na manifestação dos filhos de Deus! É “a glória que em nós há de ser revelada” – a nossa glória e, ainda assim, a glória de Deus. “Se é certo que com Ele padecemos, para que também com Ele sejamos glorificados” (Rm 8:17). Se a nossa parte é sofrer, também é assim em relação à glória a ser revelada. Enquanto Cristo (o Filho) reflete a glória do Pai, a mulher (a Igreja) reflete a glória do homem. Então também há a percepção, pelo poder do Espírito Santo, de que ela nos pertence – de que ela é realmente nossa. Se um homem tem a percepção de que algo é dele, não haverá como dar as costas ao que ele sabe que é seu, mas sim chegar o mais rápido possível. Se seu coração está nesse estado, cheio do Espírito Santo, ele passará pelo mundo como um anjo passaria por ele. Você acha que, se Gabriel fosse enviado para trazer uma mensagem para este mundo, ele desejaria permanecer aqui? Não, ele não poderia ficar onde tudo está corrompido.
Mas é um princípio muito mais elevado que desfrutamos do que um anjo pode usufruir e, portanto, nunca pode sair do coração de um anjo a mesma canção de louvor que vem do coração do crente. Embora tenha sido observado que nunca se diz na Escritura que os anjos cantam, é dito que eles “falam”, “dizem” e “conversam”. Não poderia haver harmonia no cântico de um anjo em comparação com o nosso, pois seu coração não foi exercitado com provações como o nosso. Nunca tendo pecado, eles não podem saber o que é a alegria da salvação ou o que é ser fortalecido quando fraco, ou levantado ao fracassar ou consolado no sofrimento. Eles louvam, e bendizem a Deus, mas não podem conhecer o novo cântico que cantam os que passaram por tudo isso. Os quatro seres vivos não descansam dia e noite, dizendo: “Santo, santo, santo, Senhor Deus Todo-Poderoso” (JND), mas o assunto deles é a criação – “porque Tu criaste todas as coisas, e por Tua vontade são e foram criadas” (Ap 4:11). Mas em Apocalipse 5 é a redenção: “E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és… com o Teu sangue compraste [redimiste – JND] para Deus”.
A glória da cruz
Paulo sofreu muito, mas isso apenas mostrou a glória de forma mais brilhante diante dele e mostra como a glória da cruz preenchia sua alma. As palavras “deste tempo presente” são impressionantes. A glória é tão presente, que ele chama o sofrimento de apenas momentâneo – “Porque a nossa leve e momentânea tribulação”. Se você conversar com alguém sobre esse presente século (mundo) mal e sua mente perceber a eternidade, você descobrirá que a eternidade é grande demais para permitir espaço para qualquer outra coisa. Nós nunca percebemos a eternidade, até que a preenchamos com o amor do Pai e a glória de Cristo. Se pensarmos na eternidade de outra forma, apenas olhamos para um mero vácuo. Ficaremos confundidos por um lado e cheios de glória por outro. Ao nos encontrarmos na glória de Deus, dificilmente sabemos como apreendê-la – “um peso eterno de glória mui excelente”. Isso não é algo para nos tornar orgulhosos com a “glória que em nós há de ser revelada”; não é uma mudança de tempo, mas a glória está presente em sua mente e ele percebe a glória. Então ele a expõe doutrinariamente: “Porque para mim tenho por certo” – Não meramente ‘ensinamos’ – “que as aflições deste tempo presente” – os sofrimentos atuais haviam perdido seu poder impeditivo, porque ele viu o poder de Deus neles e suportou as aflições de acordo com o poder de Deus. O melhor é fazer com que o coração associe-se conscientemente a toda essa bela cena. Se mantivermos nosso coração sempre ocupado com Cristo e a glória, haverá uma percepção de que estaremos sempre lá.
É surpreendente como a alma se torna suave quando está feliz no Senhor! Como remove toda a aspereza! Os santos não podem contender estando felizes no Senhor, embora possam contender sobre doutrina ou disciplina. Todos devemos olhar adiante e ter o coração cheio da glória. O efeito disso é nos colocar em sofrimento, embora possamos dizer que isso não é digno de ser comparado com a glória que será revelada em nós. Não é a glória divina e essencial, é claro, mas a glória manifestada, e nos alegramos na esperança da glória de Deus. Deus tem filhos e deve manifestar Seus filhos em Sua glória. Então, e não até então, que a criatura é introduzida na liberdade da glória dos filhos de Deus.
Os gemidos da criação
“Toda a criação geme”. Que admirável diferença! Ele está falando do “peso eterno de glória” que será revelado em nós, e imediatamente se vira e diz: Em que criação que geme estou! É a percepção desta glória que nos torna aptos para entrar na tristeza da criação ao redor que geme. A esperança de Cristo, vindo em glória, o eleva acima de tudo. O gemido vai além dos santos – toda a criação geme. Quando tenho o Espírito Santo, posso estar cheio de alegria e cheio de esperança, mas isso não impede meu gemido como uma criatura. Quanto mais eu me alegro, mais sinto que este corpo miserável é um vaso de barro que não pode conter o tesouro.
Não há gemidos na minha conexão com Deus; é tudo regozijo e nada mais a esse respeito. “Regozijai-vos, sempre, no Senhor”. No momento em que minha mente se enche com o pensamento: ‘serei conformado a Cristo como Ele é em glória’, isso me associa a Ele agora. O pensamento de Sua vinda me faz feliz. Não há outra esperança a não ser a de ser conformado a Cristo. A morte não é uma esperança. “Mas a nossa cidade está nos céus”, e é lá que esperamos estar. Minha esperança é estar com Ele no céu, corporalmente. Eu tenho tudo para minha alma agora em Cristo.
Suas esperanças
É maravilhoso como Deus habilidosamente Se introduz a Si mesmo em tudo, enchendo-nos com Suas esperanças, Seus sofrimentos e Suas afeições. Quão completamente Ele veio para possuir a alma do homem! É o amor de Deus fora de nós, e Seu amor é derramado em nosso coração. Nós habitamos em Deus, e Deus em nós. Ele nos deu Seus pensamentos e sentimentos, para que estejamos envolvidos em Deus, “porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações”. O amor de Deus! Se não for o Seu amor, não serve para nada; Se não estiver em mim, não há realidade. A Escritura às vezes fala como se fosse de nós, e outras como sendo de Deus. Assim meu coração geme, enquanto é dito: “o mesmo Espírito intercede por nós”. É um grande conforto saber que eles não são gemidos egoístas em mim. Gemidos egoístas encontramos em Romanos 7, mas Romanos 8 está cheio de Cristo e do Espírito.