Origem: Revista O Cristão – Os Pés

As Glórias de Cristo: Todas as Coisas Colocadas Sob Seus Pés

Salmo 8; Hebreus 2:5-9 

A supremacia de Cristo na era vindoura abre diante de nós as benditas consequências de Sua humilhação e morte na cruz. Por exemplo, lemos em Filipenses 2: “[Ele] humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus O exaltou soberanamente e Lhe deu um [ou ‘o’] nome que é sobre todo o nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na Terra, e debaixo da Terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2:8-11).

Céu, Terra e debaixo da Terra 

No Salmo 8, Seu domínio não parece ir mais longe do que toda a Terra, mas quando chegamos à epístola aos Efésios, é evidente que o círculo é ampliado para incluir coisas no céu, bem como coisas na Terra. De acordo com isso, “para a administração da plenitude dos tempos; encabeçar todas as coisas em o Cristo, as coisas nos céus e as coisas na Terra” (Ef 1:10 – JND). Então, também, se nos referirmos novamente a Filipenses 2, descobrimos que as coisas debaixo da Terra devem ser submetidas a Cristo. Não haverá fim dos limites de Seu domínio, pois nada é excluído, como Paulo ensina, exceto Ele, Deus Pai, que sujeitou todas as coisas a Ele (1 Co 15:27).

Isso nos ajudará a entender o significado das palavras: “Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas” (Ef 4:10), pois quando todas as coisas do universo forem colocadas sob Seus pés, Ele certamente inundará a todos com a luz e a bem-aventurança de Sua própria glória.

Do vasto universo de bem-aventurança,
Tu és o Centro e o Sol;
O eterno tema de louvor é este,
Para o Amado do céu:
Digno, ó Cordeiro de Deus, és Tu
Que todo joelho a Ti se dobre.

A fonte 

Existem várias Escrituras que revelam a fonte dessa entrega de todas as coisas a Cristo. O apóstolo João, guiado pelo Espírito de Deus, diz: “O Pai ama o Filho e todas as coisas entregou nas Suas mãos” (Jo 3:35). João revela diretamente o deleite do Pai no Filho como a origem e manancial dessa entrega. Essa satisfação divina no Filho é notavelmente ilustrada em outra Escritura, como também o deleite do Filho no Pai. Respondendo aos judeus que procuravam matá-lo, “porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era Seu próprio Pai, fazendo-Se igual a Deus”; o Senhor disse: “o Filho nada pode fazer de Si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que Este fizer, o Filho também semelhantemente o faz. Porque o Pai ama o Filho, e Lhe mostra tudo o que faz” (Jo 5:18-20 – ARA). É verdade que é de Cristo como o Filho que estas coisas são ditas, mas certamente é do Filho como Se tornado Homem. Foi por causa do agrado do Pai em Seu amado Filho que Ele decretou que todas as coisas fossem colocadas debaixo de Seus pés.

Há dois fundamentos para a atribuição a Cristo dessa supremacia universal. Em primeiro lugar, foi a resposta de Deus à rejeição do homem. Sim, foi por meio dos sofrimentos da cruz que Cristo alcançou o Seu trono. É por isso que em Apocalipse 5, onde o Senhor toma o livro da mão direita d’Aquele que estava sentado no trono, Ele é visto como “um Cordeiro, como havendo sido morto”. O aspecto apresentado, no entanto, no Evangelho de João é que o dom procede do coração do Pai de acordo com Seus conselhos eternos para a glória de Seu Filho amado. Portanto, o Filho do Homem deve ser levantado antes que Ele possa tomar Sua herança. Que tema para meditação! E quão claro é que todos os pensamentos de Deus giram em torno de Seu Filho amado!

Os vários passos 

Os vários passos que o Senhor dá antes de assumir Sua herança são apontados muito claramente em Hebreus 2, onde o Salmo 8 é citado, interpretado e aplicado. Aqui está toda a passagem: “Porque não foi aos anjos que Deus sujeitou o mundo vindouro, de que falamos. Mas em certo lugar testificou alguém dizendo: Que é o homem, para que Te lembres dele? ou o filho do homem, para que O visites? Fizeste-O um pouco menor que os anjos, de glória e de honra O coroaste, todas as coisas Lhe sujeitaste debaixo dos pés. Ora, visto que Lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou que não Lhe fosse sujeito. Mas agora ainda não vemos todas as coisas sujeitas a Ele; vemos, porém, Aquele que foi feito um pouco menor que os anjos, Jesus, coroado de glória e honra, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos” (Hb 2:5-9 – AAIB).

O objetivo do Apóstolo é mostrar que, de acordo com o Salmo 8, o mundo vindouro é colocado sob o domínio do homem, não dos anjos. Então é dito, “Mas, agora, ainda não vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas”. Como, então, o salmo deveria ser cumprido? Isso ele continua para demonstrar: “vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos”. Jesus, então, é o Homem, o Filho do Homem (que Adão não era), sob O qual todas as coisas devem ser colocadas.

São dados agora os passos pelos quais Cristo, como Filho do Homem, alcança Sua supremacia. A primeira delas é a Sua encarnação, expressa em linguagem marcante: “Feito um pouco menor que os anjos”. Isso só poderia se aplicar à forma que nosso bendito Senhor, quando veio a este mundo, teve o prazer de assumir quanto ao Seu corpo que Deus Lhe havia preparado. Paulo nos diz que, na bendita humilhação do nosso Senhor, desde a mais alta altura até a mais baixa profundidade, Ele tomou sobre Si a forma de um Servo (Fp 2). Certamente, então, Ele foi feito um pouco menor do que os anjos, e nosso coração pode muito bem deter-se para admirar e adorar, quando pensamos nesta graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, embora Ele fosse rico, ainda por nossa causa Se tornou pobre, para que nós, por meio de Sua pobreza, pudéssemos ser ricos.

O sofrimento da morte 

O próximo passo é manifestamente a Sua morte: “Feito um pouco menor do que os anjos para que provasse a morte”. Havia duas razões para o sofrimento da morte no caminho do Senhor, para Sua exaltação e supremacia no mundo vindouro. Em Hebreus 1, lemos que Ele foi nomeado “herdeiro de tudo” e, portanto, era uma necessidade divina que Ele assumisse todas as responsabilidades que recaíam sobre Sua herança antes que Ele pudesse tê-la. Isso, de fato, está implícito na frase do versículo 9 de Hebreus 2 – “para que [Ele], pela graça de Deus, provasse a morte por todos [todas as coisas – JND] – não apenas por todo homem, mas também por tudo o que compôs Sua herança. Em Colossenses 1:20 também é encontrado a outra razão, a primordial e mais importante, o fundamento para o sofrimento da morte – “havendo por Ele feito a paz pelo sangue da Sua cruz”, por meio da glorificação de Deus a respeito do pecado que estava no mundo. Sobre esse fundamento, Deus pode justamente entrar e trazer tudo de forma adequada a Si mesmo, para que Ele possa descansar em perfeita satisfação e deleitar-se em toda a cena que foi sujeitada a Cristo e sobre a qual Ele irradiará com o esplendor de Sua glória.

“Convinha a Ele” 

Uma ou duas palavras podem ser dadas sobre a notável conexão desta Escritura. Depois de dizer “para que [Ele], pela graça de Deus, provasse a morte por todos”, o apóstolo prossegue: “Porque convinha que Aquele, para quem são todas as coisas e mediante quem tudo existe, trazendo muitos filhos à glória, consagrasse, pelas aflições, o Príncipe da salvação deles” (v. 10). O ponto significativo é a introdução dos “muitos filhos” a quem Deus está trazendo à glória, em conexão com “todas as coisas”, abrindo assim todo o escopo dos propósitos de Deus, seja em relação a “todas as coisas” ou aos “muitos filhos” que estão sob a liderança do Príncipe da salvação deles. Não podemos duvidar que isso seja para ensinar que era necessário, para a glória de Deus na realização de Seus propósitos (“convinha a Ele”), que o Senhor Jesus passasse pelo sofrimento da morte. Foi assim que uma base imutável foi colocada para o estabelecimento do universo de bem-aventurança, onde toda a glória de Deus será manifestada e onde Cristo será o Centro e o Sol de todos. Também observamos a associação e identificação de Cristo com os “muitos filhos” como outra razão de Ele ter sido aperfeiçoado por meio de sofrimentos, pois tanto “O que santifica como os que são santificados, são todos de Um; por cuja causa não Se envergonha de lhes chamar irmãos”.

E. Dennett (adaptado)

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