Origem: Revista O Cristão – As Glórias do Senhor Jesus
O Filho do Homem Glorificado
Como Filho do Homem, Ele deve possuir todos os reinos da Terra. Os gregos vem (pois Sua fama se espalhou) e desejam vê-Lo. Jesus diz: “É chegada a hora em que o Filho do Homem há de ser glorificado”. Ao tomar Seu lugar como o Filho do Homem, uma coisa muito diferente necessariamente se abre diante d’Ele. Como Ele poderia ser visto como Filho do Homem, vindo nas nuvens do céu para tomar posse de todas as coisas de acordo com os conselhos de Deus, sem morrer? Se o Seu serviço humano na Terra estivesse terminado e Ele tivesse saído livre, chamando, se fosse necessário, doze legiões de anjos, ninguém poderia ter tido qualquer parte com Ele: Ele teria permanecido sozinho, pois “se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto”. Se Cristo toma Sua glória celestial e não está sozinho nela, Ele morre para alcançá-la e trazer consigo as almas que Deus lhe deu. De fato, a hora tinha chegado Não podia mais demorar. Tudo estava agora pronto para o fim do julgamento deste mundo, do homem, de Israel, e, acima de tudo, do cumprimento dos conselhos de Deus.
A fim de trazer os homens para essa glória, Ele mesmo precisa passar pela morte. Mas Ele estava centrado em uma coisa que desconectou Seus pensamentos da glória e do sofrimento – o desejo que Seu coração tinha de que Seu Pai deveria ser glorificado. Perfeito em Seu desejo de glorificar Seu Pai, e isso até a morte, o Pai não podia deixar de responder, e em Sua resposta, como me parece, o Pai anuncia a ressurreição. Mas que graça, que maravilha, ser admitido em tais comunicações! O coração é surpreendido, enquanto cheio de adoração e com graça, ao contemplar a perfeição de Jesus, o Filho de Deus, até a morte, e em vê-Lo, com o pleno sentido do que a morte era, buscando a glória unicamente do Pai, e o Pai respondendo – uma resposta moralmente necessária para este sacrifício do Filho e para Sua própria glória. Assim, Ele disse: “Já O tenho glorificado e outra vez O glorificarei”. Eu creio que Ele O glorificou na ressurreição de Lázaro e Ele faria isso novamente na ressurreição de Cristo – uma ressurreição gloriosa que, por si mesma, implicava a nossa, como o Senhor disse, sem mencionar a Sua própria.
Tudo chegava agora ao ponto em que isso deveria ser realizado, e chegava o momento em que Judas havia saído para consumar o crime que levaria ao maravilhoso cumprimento dos conselhos de Deus. Jesus conhecia a condição de Judas. Foi apenas a realização daquilo que Ele faria, por meio de alguém para quem não havia mais esperança. “O que fazes”, disse Jesus, “faze-o depressa”. A porta que se fechava atrás de Judas separou Cristo deste mundo. “Agora”, diz Ele, “é glorificado o Filho do Homem”. Ele havia dito isso quando os gregos chegaram, mas naquele momento era a glória que estava por vir – Sua glória como Cabeça de todos os homens e, de fato, de todas as coisas. Mas isso ainda não poderia acontecer, e Ele disse: “Pai, glorifica o Teu nome”. Jesus deve morrer. Foi o que glorificou o nome de Deus em um mundo onde o pecado reina. Era a glória do Filho do Homem para realizar isso ali, onde todo o poder do inimigo, o efeito do pecado e o julgamento de Deus sobre o pecado, foram exibidos. De fato, por meio daquilo que aconteceu, todas as perfeições de Deus foram glorificadas, sendo manifestadas por meio de Jesus, ou por meio daquilo que Jesus fez e sofreu.
Estas perfeições tinham sido diretamente reveladas n’Ele, até onde a graça foi, mas agora que a oportunidade do exercício de todas elas foi concedida, por Ele tomar um lugar que O colocou à prova de acordo com os atributos de Deus, sua perfeição divina poderia ser demonstrada por meio do homem em Jesus onde Ele estava no lugar do homem, e (feito pecado e, graças a Deus, pelo pecador) Deus foi glorificado n’Ele, por ver o que, de fato, encontrou na cruz:
- O completo poder de Satanás sobre os homens, exceto Jesus;
- O homem em aberta e perfeita inimizade contra Deus na rejeição de Seu Filho;
- Deus manifesta em graça: então em Cristo, como homem, perfeito amor a Seu Pai, e perfeita obediência, e isso no lugar do pecado, isto é, como Ele foi feito (pois a perfeição do amor e obediência ao Pai foram exibidos quando Ele estava como pecado diante de Deus sobre a cruz);
- Então a majestade de Deus fez bem, O glorificou (Hb 2:10);
- Seu julgamento perfeito e justo contra o pecado como o Santo;
- Mas aí está Seu perfeito amor aos pecadores ao dar Seu Filho unigênito.
O bem e o mal totalmente resolvidos
Por isso sabemos que amamos. Para resumir: Na cruz encontramos o homem no mal absoluto – o ódio ao que era bom; O poder total de Satanás sobre o mundo – o príncipe deste mundo. O Homem em perfeita bondade, obediência e amor ao Pai custando tudo para Si mesmo; Deus em absoluta e infinita justiça contra o pecado e infinito amor divino ao pecador. O bem e o mal foram totalmente resolvidos para sempre, e a salvação feita, o fundamento dos novos céus e da nova Terra foi estabelecido. Bem, podemos dizer: “Agora, é glorificado o Filho do Homem, e Deus é glorificado n’Ele”. Totalmente desonrado no primeiro, Ele é infinitamente mais glorificado no Segundo e, portanto, coloca o Homem (Cristo) em glória, e imediatamente, não tendo que esperar pelo reino. A cruz é a mais brilhante manifestação da glória de Deus, o centro da história da eternidade.
Na cruz
Agora, em Jesus na cruz, o Filho do Homem foi glorificado de uma forma muito mais admirável do que a glória positiva que pertence a Ele sob esse título. Ele seria, sabemos, revestido dessa glória, mas, na cruz, o Filho do Homem suportou tudo o que era necessário para a perfeita exibição de toda a glória de Deus. Todo o peso daquela glória foi trazido sobre Ele, para colocá-Lo à prova, para que pudesse ser visto se Ele poderia sustentá-la, verificá-la e exaltá-la e isso ao colocá-la no lugar onde o pecado ocultou essa glória e, em certo sentido, tentou provar (erroneamente) que essa glória não tinha lugar ali. Seria o Filho do Homem capaz de entrar em tal lugar, empreender tal tarefa, cumprir a tarefa, e manter Seu lugar sem falhar até o fim? Jesus assim o fez. A majestade de Deus deveria ser vindicada contra a insolente rebelião de Sua criatura, Sua verdade, que O ameaçou com a morte, mantida, Sua justiça estabelecida contra o pecado (quem poderia resistir a ela?) e, ao mesmo tempo, Seu amor plenamente demonstrado. Satanás tendo aqui todos os pesarosos direitos que adquiriu por causa do nosso pecado; Cristo – perfeito como Homem, sozinho, separado de todos os homens, em obediência, e tendo como Homem apenas um objeto, isto é, a glória de Deus, assim divinamente perfeito, sacrificando-Se para este propósito – Deus totalmente glorificado. Deus foi glorificado n’Ele. Sua justiça, Sua majestade, Sua verdade, Seu amor – tudo foi verificado na cruz como eles estavam em Si mesmo, e revelados somente ali, e isso com respeito ao pecado.
E quem teria feito isso? Quem assim estabeleceu (quanto à sua manifestação, e tornando-a boa onde esteve, quanto ao estado das coisas, comprometida pelo pecado) toda a glória de Deus? Foi o Filho do Homem. Portanto, Deus O glorifica com Sua própria glória. Deus, sendo glorificado no Filho do Homem, O glorifica em Si mesmo. Mas, consequentemente, Ele não espera pelo dia de Sua glória com o homem, de acordo com o pensamento de João 12. Deus O chama para estar a Sua direita e O coloca lá imediatamente e sozinho. Quem poderia estar ali (salvo em espírito), exceto Ele? Aqui Sua glória está conectada com aquilo que somente Ele poderia fazer – com aquilo que Ele precisava fazer sozinho, e do qual Ele deve ter o fruto sozinho com Deus, pois Ele era Deus.
Asoutras glórias
Outras glórias virão em seu tempo. Ele as compartilhará conosco, embora em todas as coisas tenha a preeminência. Aqui Ele está, e deve sempre estar, sozinho (isto é, naquilo que é Pessoal para Si mesmo). Quem compartilhou da cruz com Ele, sofrendo pelo pecado e cumprindo a justiça? Nós, na verdade, compartilhamos com Ele até o ponto de sofrer por causa da justiça, e pelo amor a Ele e a Seu povo, até a morte – e assim também compartilharemos de Sua glória. Mas é evidente que não podemos glorificar a Deus pelo pecado. Somente Aquele que não conheceu pecado poderia ser feito pecado. Só o Filho de Deus poderia suportar esse fardo.
Trechos de Sinopse, vol. 3
