Origem: Revista O Cristão – As Glórias do Senhor Jesus
Sofrimento e Glória
Lucas 9:22-36 apresenta de uma forma comovente os sofrimentos do Filho do Homem e a glória que se segue. Nas mãos dos homens Ele deveria “padecer muitas coisas”, ser “rejeitado” e “morto”. Então, no monte da transfiguração, temos uma visão da glória e honra com a qual o propósito de Deus é coroar o Filho do Homem (Salmo 8). A passagem também desafia nosso coração, pois mostra claramente que, se Seus discípulos têm o privilégio de compartilhar da Sua glória, eles também são chamados primeiramente a participar de Seus sofrimentos. Assim, passa diante de nós o caminho daqueles que seguem um Cristo rejeitado neste mundo e a glória à qual o caminho conduzirá no mundo vindouro.
O caminho do sofrimento
O Senhor começa com as palavras: “Se alguém quer vir após Mim” (v. 23). Estas são palavras tocantes que presumem que Ele passou por ali antes e traçou um caminho para os Seus, e que, atraídos pelo amor, desejariam trilhar o caminho por onde Ele pisou. Na entrada deste caminho encontramos estas palavras: “Negue-se a si mesmo”. Estas são palavras que nos sondam, pois a negação do ‘eu’ não é simplesmente negar a nós mesmos certas coisas, mas a negação do homem que deseja estas coisas. A negação de si mesmo é ignorar completamente o ‘eu’ para servir aos outros em amor. Mas como é possível negar a si mesmo e aceitar a reprovação? Só quando temos diante de nós um objeto que é maior que o “ego”. Assim, o Senhor acrescenta as palavras “siga-Me”. Seguir a Cristo deve significar o abandono da vida presente. Aquele que vive apenas para a vida presente está vivendo uma vida que ele inevitavelmente perderá, pois na melhor das hipóteses é apenas uma vida passageira. Ter Cristo diante de nós é viver uma vida que nunca passará. É uma vida que pode ser desfrutada agora, mas será conhecida em toda a sua plenitude somente quando estivermos em nosso lar eterno.
As glórias do mundo vindouro
O caminho de reprovação e perda das coisas presentes envolve sofrimento para a carne. Mas o sofrimento é apenas por um período, e diante de nós está o peso eterno de glória. O Senhor gravaria em nossa alma a percepção dessa glória, revelando diante de nós tanto a bem-aventurança quanto os traços morais da casa de glória que se encontra no fim do caminho do sofrimento. Para entrarmos nessas coisas celestiais, devemos ter nosso espírito elevado acima deste mundo atual, e portanto lemos: “[Ele] subiu ao monte”.
Tendo subido no monte, a primeira grande visão que passa diante dos discípulos é um homem que ora, pois lemos: “estando Ele orando”. A oração é a expressão da dependência em Deus e da comunhão com Deus. As tristezas da Terra podem ser traçadas até a desobediência e independência de um homem – Adão. As glórias do mundo vindouro são introduzidas pela perfeita obediência e dependência de um homem – Cristo. O mundo vindouro será um mundo de bem-aventurança, pois todos serão dependentes de Deus.
Nesta grande cena, aprendemos a mudança que virá sobre os santos quando Jesus vier. Vemos em Cristo a imagem que teremos revestidos na glória vindoura, pois “assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial” (1 Co 15:49). Assim, tendo Ele orado, os discípulos viram na Pessoa de Cristo que o terreno mudou-se em celestial. Em um instante Suas vestes de humilhação foram trocadas por vestes de glória, e Seu rosto tornou-se resplandecente como o Sol. N’Ele foi exibido o grande poder que em “um piscar de olhos” vai mudar nosso corpo de humilhação em um corpo de glória como é o Seu próprio corpo.
Aglória compartilhada
Também nos é revelado que, na glória vindoura, não seremos apenas como Ele, mas estaremos com Ele, pois lemos: “E eis que estavam falando com Ele dois varões”. Ele terá companheiros, embora Ele seja verdadeiramente o Ungido com o óleo de alegria acima de Seus companheiros. Ele não será cercado por uma multidão de anjos – Seus companheiros serão homens. Eles são homens por quem Ele morreu, e homens que irão compartilhar com Ele em Sua glória como o Filho do Homem. Nosso maior gozo será que estaremos “como Ele”!
Mais do que isso, estaremos confortáveis na glória, pois lemos sobre esses dois homens que eles estavam “falando com Ele”. Se tivesse sido escrito apenas que Ele falou com eles, poderíamos julgar que na glória ficaremos encantados, mas como ouvintes silenciosos. Se, no entanto, eles puderam falar com Ele, significa que toda a distância e as reservas desaparecerão. Os discípulos, de fato, tiveram uma doce conversa com Cristo quando esteve na Terra, porém, às vezes, com certa medida de limitação. Na glória haverá uma conversa santa e feliz, sem vestígios de limitação. É de fato algo bendito o fato de Ele vir a dois discípulos no dia da ressurreição e, em suas tristes circunstâncias do deserto, eles pudessem dizer que Ele fez arder “em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava e quando nos abria as Escrituras”. Mas quão mais maravilhosa é esta cena em que Ele traz dois santos para falar com Ele em glória.
Também compartilharemos de Sua glória, pois lemos sobre esses dois homens que eles “apareceram com glória”. Eles compartilham da glória de Cristo como Homem glorificado. Então lemos a respeito dos que creem: “Quando Cristo, que é a nossa vida, Se manifestar, então, vós também sereis manifestados com Ele, em glória” (Cl 3:4). Não é uma grande dificuldade abandonar as glórias passageiras deste mundo e aceitar o caminho do sofrimento quando sabemos que vamos compartilhar das glórias de Cristo no mundo vindouro.
Nesta grande cena, somos levados em espírito além da glória do reino para o que fala da casa do Pai. Nós lemos que “veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra”. A morte que Cristo consumou não apenas abre o caminho para os crentes compartilharem das glórias do reino de Cristo, mas os capacita a entrar em companhia com Cristo na presença imediata de Deus Pai, do qual a nuvem fala. Pedro em sua epístola fala da glória que se destaca, pois ele diz: “da magnífica glória Lhe foi dirigida a seguinte voz”. Existe a glória do reino terrenal, mas existe a mais excelente glória – a glória da presença do Pai na casa do Pai. Os discípulos tinham visto a glória do Seu reino, mas há uma glória maior – uma glória da qual o Senhor fala em Sua oração quando pede “para que vejam a Minha glória que Me deste” (Jo 17.24). Nós compartilharemos da glória do Seu reino, mas nós contemplaremos Sua maior glória – uma glória acima de todas as outras. É uma glória dada, adquirida pelos Seus sofrimentos por nós – a justa recompensa por ter glorificado perfeitamente o Pai. O mundo verá a glória que temos em comum com Cristo, mas há uma glória que é um segredo para aqueles que O amam. Ela pertence à Sua Pessoa e à nossa associação com Ele. Somos levados para a casa do Pai, para ter comunhão com o Pai em Seu deleite no Filho.
Enquanto viajamos para estar com Cristo em glória, que sempre nos lembremos de que temos o Senhor conosco em nosso caminho pelo deserto. Assim lemos: “E, tendo soado aquela voz, Jesus foi achado só”. A visão passa, Moisés e Elias partem, a nuvem se desvanece, a voz fica silenciosa, mas Jesus permanece. Ao tomarmos nossa jornada por este mundo com todas as suas provações e tristezas, Ele está conosco de acordo com Sua própria promessa: “Não te deixarei, nem te desampararei”. Amando-nos até o fim, Ele estará conosco para sempre, quando estivermos com Ele para não sairmos mais dali, e as bênçãos do monte serão nossa porção eterna.
