Origem: Revista O Cristão – As Glórias do Senhor Jesus
Sua Glória Moral
As glórias do Senhor Jesus podem ser dividias em três aspectos – pessoais, oficiais e morais. Sua glória pessoal Ele velou, salvo onde a fé a descobriu ou uma ocasião a exigiu. Sua glória oficial Ele velou da mesma forma, pois Ele não andou pela Terra como o divino Filho do seio do Pai ou como o Filho de Davi com autoridade. Tais glórias eram normalmente escondidas quando Ele passava pelas circunstâncias da vida, dia após dia. Mas Sua glória moral não podia ser escondida. Ele não podia ser menos perfeito em todas as coisas – isso pertencia a Ele, pois era Ele mesmo. Sua excelência era intensa, muito brilhante para o olho do homem, e o homem estava em constante exposição e reprovação diante dela. Mas ali ela brilhou, podendo o homem suportá-la ou não.
Se as trevas não compreenderam a luz de Sua glória pessoal ou oficial, Sua glória moral só encontrará ocasião para brilhar mais forte, pois não há nada na moral ou, no caráter humano, mais excelente do que Sua disposição de ocupar um lugar humilde no meio dos homens e a consciência da glória intrínseca diante de Deus.
Sua santidade e graça
Quão consistente foi a combinação de santidade e graça n’Ele. Ele está perto do nosso cansaço, da nossa fome ou do nosso perigo. Ele está longe dos nossos temperamentos desajustados e do nosso egoísmo. Sua santidade fez d’Ele um completo estranho em um mundo tão poluído, já Sua graça O manteve ativo em um mundo tão necessitado e aflito. Isso, posso dizer, realça Sua vida com grande glória moral – que, embora forçado, pela qualidade da cena ao Seu redor, a ser um Solitário, ainda assim Ele foi atraído pela necessidade e tristeza dessa cena a ser ativo. “Eu não conheço ninguém”, alguém disse, “tão gentil, tão condescendente, que desceu até os pobres pecadores, como Ele. Eu confio em Seu amor mais do que no de Maria, ou o de qualquer outro santo; não meramente Seu poder como Deus, mas na ternura de Seu coração como Homem. Ninguém nunca mostrou isso ou provou isso tão bem – ninguém inspirou alguém com tanta confiança. Deixe os outros irem aos santos se eles quiserem, mas eu confio mais na bondade de Jesus”.
Embora pobre, nunca se vê nada que possa ser considerado mesquinho, jamais é visto em associação a Sua condição. Ele nunca mendigou, embora não tivesse um centavo, pois quando quis ver um, teve que pedir para ser mostrado a Ele. Ele nunca foge, embora exposto, e Sua vida em perigo, no lugar onde Ele estava. Ele Se retira ou passa por outros como oculto. E assim, mais uma vez, posso dizer, nada mau, nada de impróprio, mas total dignidade Pessoal está ligada a Ele, embora a pobreza e a exposição fossem Sua parte todos os dias. Bendito e belo! Quem poderia manter sob nossos olhos um Objeto tão perfeito, tão imaculado, tão requintado e delicadamente puro, em todos os mínimos e mais simples detalhes da vida humana!
Sua maneira de transmitir e receber
Ele pediu a Seus discípulos na hora do Getsêmani que vigiassem com Ele, mas não lhes pediu que orassem por Ele. Ele queria empatia. Ele a valorizava na hora de fraqueza e pressão, e teria os corações de Seus companheiros já ligados a Ele desde então. Tal desejo era parte da glória moral que formava a perfeição humana que estava n’Ele, mas enquanto Ele sentia isso e agia assim, Ele não podia pedir-lhes que permanecessem como na presença divina rogando em Seu favor, Ele queria que eles se entregassem a Ele, mas Ele não podia pedir para que se entregassem a Deus por Ele.
O Senhor estava continuamente dando. Ele repartiu grandemente, porém encontrou pouca comunhão. Isso engrandece Sua bondade. Não havia, por assim dizer, nada para atraí-Lo, e ainda assim Ele estava sempre dando. Ele era como o Pai no céu, de Quem Ele mesmo falou, fazendo Seu Sol nascer sobre os maus e os bons, e enviando Sua chuva sobre os justos e os injustos. Isso nos diz o que Ele é, para o Seu louvor, e o que somos, para nossa vergonha.
A luz de Deus brilha, por vezes, diante de nós, fazendo-nos, à medida que temos poder, discerni-la, apreciá-la, usá-la e segui-la. Ela não nos desafia ou exige muito de nós, mas, como eu disse, ela brilha diante de nós, para que possamos refleti-la se tivermos graça. E tal, em um sentido amplo, é a glória moral do Senhor Jesus. Nosso primeiro dever para com essa luz é aprender sobre ela, o que Ele é. Não devemos começar nos medir por ela de maneira ansiosa e dolorosa, mas de maneira calma, feliz e grata aprendermos sobre Ele em toda a Sua perfeita humanidade moral.
O Senhor Jesus restaurou a Deus Sua complacência no homem, que o pecado ou Adão havia tirado d’Ele. O arrependimento de Deus por ter feito o homem (Gn 6:6) foi trocado por deleite e glória no homem novamente. E como Ele estava representando o homem para Deus, Ele também representava Deus para o homem.
O direito de ser glorificado
Quando o Senhor Jesus esteve aqui, e assim Se manifestou como Homem para Deus, o deleite de Deus n’Ele estava sempre se expressando. Em pessoa e caminhos, o homem foi moralmente glorificado, então quando a perfeição do Seu caminho chegou ao fim, Ele pôde ir direto a Deus, como o molho das primícias que era imediatamente colhido do campo e levado, não precisando passar por nenhum processo para ser adequado e aceito na presença de Deus (Lv 23:10). O título de Jesus para a glória era moral. Ele tinha o direito moral de ser glorificado, pois Seu título estava em Si mesmo. E sendo a cruz a perfeição e completude da plena forma de glória moral n’Ele, neste momento Ele profere estas palavras: “Agora, é glorificado o Filho do Homem”. Então Ele acrescenta: “e Deus é glorificado n’Ele”.
Na cruz Deus foi perfeitamente glorificado assim como foi o Filho do Homem, embora a glória fosse outra glória. O Filho do Homem foi glorificado então, ao completar aquela forma plena de beleza moral que esteve brilhando n’Ele durante toda a Sua vida. Nada disso faltou então, como nada, desde o princípio até àquela hora tardia, se misturou com ela que fosse indigno dela. Estava próxima a hora quando deveria brilhar o último raio que daria a essa glória o seu brilho total. Mas Deus também foi glorificado naquele momento, porque tudo o que era d’Ele foi mantido ou exibido. Seus direitos foram mantidos, Sua bondade manifestada. Misericórdia e verdade, justiça e paz foram satisfeitas ou atendidas. A verdade, santidade, amor e majestade de Deus foi magnificada de tal forma e ilustrada numa luz maior do que tudo que poderia ter sido conhecida por eles em qualquer outro lugar. A cruz é a maravilha moral do universo.
As cabeças de duas criações
O primeiro homem, por seu pecado, foi colocado fora da criação, assim como, posso dizer, o Segundo Homem (sendo, como Ele também era “O Senhor do céu”), por ter glorificado a Deus, foi assentado como Cabeça da criação, bem como à destra da Majestade nas alturas. Jesus está no céu como um Homem glorificado, porque aqui na Terra Deus foi glorificado n’Ele como Aquele que obedeceu na vida e na morte.
Em certo sentido, essa perfeição do Filho do Homem, essa perfeição moral, é tudo para nós. Ela dá a sua qualidade ao sangue que expia nossos pecados. Foi como a nuvem de incenso que entrava na presença de Deus, juntamente com o sangue, no dia da expiação (Levítico 16). Mas, em outro sentido, essa perfeição é grande demais para nós. É alta demais e não podemos alcançá-la. Ela sobrecarrega o sentido moral, tanto quanto nós a observamos na lembrança do que nós mesmos somos, enquanto nos enche de admiração, tanto quanto nós olhamos para Ele como nos dizendo o que Ele é. A glória judicial pessoal, quando foi manifestada no passado, era esmagadora. O mais favorecido dos filhos dos homens não poderia estar em pé diante dela, como Isaías, Ezequiel, Daniel, Pedro e João experimentaram o mesmo. E essa glória moral, da mesma forma nos expondo, é aterrorizante. No entanto, a fé está confortável em Jesus. Podemos, eu pergunto, tratá-Lo com temor ou suspeita? Podemos duvidar d’Ele? Poderíamos ficar distantes d’Aquele que Se sentou junto ao poço com a mulher de Sicar? Será que ela tomou por si mesma um lugar como esse? É bem certo, amados, que deveríamos buscar intimidade com Ele.
O Humano e o Divino
Quão perfeito foi isso! Quão perfeito, certamente, era tudo, e cada um em sua geração – as virtudes humanas, os frutos da unção que estava n’Ele e Suas glórias divinas. As naturezas na mesma Pessoa são distintas, mas a refulgência do divino é subjugada, e a simplicidade do Homem é elevada. Não há nada como isso – não poderia haver nada assim em toda a criação. E, no entanto, o humano era humano e o divino era divino. Jesus dormiu no barco: Ele era um Homem! Jesus repreendeu os ventos e as ondas: Ele era Deus!
Cada passo de Sua vida e morte é importante para nós. Tudo o que Ele fez e disse foi uma expressão real e verdadeira de Si mesmo, como Ele mesmo era uma expressão real e verdadeira de Deus. E assim, chegamos a Deus, no conhecimento certo e desimpedido d’Ele mesmo, por meio dos caminhos e atividades comuns da vida deste divino Filho do Homem.
Adaptado de The Moral Glory of the Lord Jesus Christ
