Origem: Revista O Cristão – Governo e Cristianismo
Governo na Terra
O governo foi instituído após o dilúvio quando Deus disse a Noé: “Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado” (Gn 9:6). Esta não foi uma ideia que se originou com Noé, mas uma ordem divina, e por ela Deus colocou a espada do governo na Terra nas mãos do homem. Antes do dilúvio, não havia governo na Terra e o homem se tornou completamente rebelde; a corrupção e a violência encheram a cena (Gn 6:11).
A raça humana seguiu um curso descendente desde o dia em que Adão e Eva foram expulsos do Éden; isso culminou em um mundo de horrível corrupção moral e derramamento de sangue humano. Daí Deus interveio e limpou a Terra com o dilúvio, enquanto Ele preservou Noé e sua família vivos na arca. Por eles Deus deu ao homem um novo começo, e o governo moral da Terra passou a ser exercido sob decreto divino. Isso nunca foi revogado e “as autoridades que há foram ordenadas por Deus” (Rm 13:1).
O lugar do Cristão
Enquanto a colocação do governo terrenal nas mãos do homem nunca foi revogada, é bastante notável que em nenhum lugar do Novo Testamento haja qualquer instrução de como o Cristão deve se comportar numa posição de autoridade. Nem uma única vez sequer o Cristão é exortado a como deve governar como Cristão. Certamente isso não é uma omissão. Por outro lado, o Cristão é exortado a como se comportar em relação àqueles que estão no lugar de autoridade. Ele deve se submeter a toda lei por amor do Senhor, para obedecer aos magistrados e estar sujeito aos poderes constituídos. Ele deve pagar seus impostos, não porque ele não possa evitar fazê-lo, mas pela consciência para com Deus. Ele deve reconhecer no administrador da lei o ministro de Deus para ele para o bem (1 Pe 2:13-14; Rm 13:16). Ele também deve orar por todos aqueles em autoridade (1 Tm 2:2). Devemos sempre, no entanto, ter em mente que nossa primeira fidelidade é a Deus e que, se o governo exigir que façamos aquilo que Sua Palavra nos proíbe – por exemplo, negar a Cristo – devemos obedecer a Deus e sofrer as consequências.
A hora de reinar
Embora não exista nenhuma instrução no Novo Testamento como um Cristão deve governar agora, supõe um dia em que o Cristão reinará: “Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deve ser julgado por vós… Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos?” (1 Co 6:23). É evidente nas Escrituras que Deus não pretendia que os Cristãos procurassem julgar o mundo, mas que fossem súditos obedientes às leis governamentais, apenas esperando o Senhor Jesus vir e levá-los para casa. Quando o apóstolo Paulo procurou corrigir a vida de lazer e condescendência com a qual os santos coríntios viviam, ele disse: “Já estais fartos! Já estais ricos! Sem nós reinais! E prouvera Deus reinásseis para que também nós reinemos convosco!” (1 Co 4:8). O dia para os Cristãos reinarem ainda não veio, porque se tivesse vindo, Paulo estaria reinando com eles. O Cristão que procura endireitar este mundo e se engajar na política não entendeu esta importante lição. Ele está tão fora de lugar quanto Ló quando se assentou como juiz no portão da cidade de Sodoma. Ló teve sua alma justa afligida “todos os dias”.
Judaísmo e Cristianismo
É verdade que há Cristãos no lugar de autoridade que procuram agir retamente diante de Deus, mas sua conduta no exercício do poder, se governada por princípios da Escritura, deve ser feita com base no Velho Testamento e não no Novo Testamento. No último, o santo na Terra é visto como um estrangeiro e um peregrino, apenas passando pelo mundo. Quanto mais os Cristãos buscam um lugar no mundo onde possam exercer o poder, mais eles misturam o governo terrenal e o Judaísmo com o chamado celestial do Cristão, e então o caráter distintivo de cada um é perdido.
Não devemos deixar de discernir os sinais desses tempos, quando tudo indica a proximidade da vinda do Senhor. O mundo está sendo preparado para aquelas terríveis horas finais do dia do homem, mas nossa libertação aqui e nosso estar com Cristo estão cada vez mais próximos.
Adaptado de Christian Truth, 9:164-168
