Origem: Revista O Cristão – Graça
A Graça Restauradora
Talvez em nenhum outro momento a graça de Deus seja mais evidente do que quando nos purifica das contaminações durante o caminho de fé ou nos restaura quando falhamos. É realmente uma coisa triste quando falhamos na fidelidade ao nosso bendito Mestre, pois não temos desculpas depois de recebermos a graça que nos foi mostrada em nos salvar de nossos pecados. Mas se somos suscetíveis a contaminação e ao pecado, Sua graça é capaz de nos encontrar e nos restaurar a comunhão com Ele.
Temos uma bela ilustração de graça restauradora na novilha vermelha de Números 19 – uma provisão distinta para as contaminações que são encontradas à medida que caminhamos por este mundo. Por um lado, é impossível que entendamos plenamente o valor do derramamento do sangue de Cristo pelos nossos pecados. Por meio dele não temos mais “consciência dos pecados” (Hb 10:2). Por outro lado, tal graça é o mais forte motivo pelo qual não podemos tocar naquilo que é contaminado. Se já estamos purificados perfeitamente diante de Deus, não devemos permitir uma mancha em nossa vida diante dos homens.
A bezerra vermelha deveria ser “sem defeito, que não tenha mancha, e sobre que não subiu jugo” (Nm 19:2). Certamente esta é uma imagem impressionante de Cristo, pois a exigência não era apenas a perfeição na ausência de qualquer defeito, mas também nunca deve ter conhecido o jugo, isto é, a pressão do pecado. Como isso fala de Cristo sendo sempre perfeitamente aceitável para Deus!
Restaurando a comunhão
O sangue deveria ser levado e aspergido sete vezes diante do tabernáculo, pois a grande verdade da expiação pelo sangue deve ser mantida. Sempre que o pensamento do pecado ocorre, o sangue vindica a Deus. É importante notar que essa aspersão de sangue nunca foi repetida. Então a bezerra deveria ser levada e totalmente queimada, junto com pau de cedro, escarlate e hissopo. O pau de cedro e o hissopo talvez se referissem a toda a extensão do homem em sua natureza, seja em grandeza ou fraqueza, enquanto o escarlate traz diante de nós o orgulho do mundo. Estes, sem dúvida, falam dos meios ou da fonte da contaminação. As cinzas de tudo isso, junto com as da novilha, deveriam ser colocadas em um lugar limpo, fora o arraial. Elas deveriam ser mantidas como uma “água da separação; expiação é [é purificação pelo pecado – JND”] (Nm 19:9). Aqui não é uma questão de estabelecer relacionamento (o que já tinha sido estabelecido), mas é no terreno do relacionamento que já existia que o israelita não deveria permitir que nada estragasse a santidade que convinha ao santuário do Senhor. Assim é para o crente hoje. Tal purificação do pecado é claramente com um sentido de restaurar a comunhão quando quebrada.
A magnitude do pecado e da graça
Tocar um cadáver é trazido aqui como uma figura da contaminação em suas várias formas e graus. Se alguém tocasse o cadáver de um homem, ele seria imundo sete dias. Deus providenciou a purificação, mas vários pontos devem ser notados.
Primeiro de tudo, Deus não faz pouco caso do pecado. Ele dá à alma o proveito de ser exercitada sobre isso. Deve haver purificação tanto no terceiro dia quanto no sétimo dia. O que se contaminou não pôde dizer: “Eu já estou aspergido com o sangue – estou limpo: Por que eu deveria me preocupar mais com o pecado?” Da mesma forma, ele não podia começar a se purificar no primeiro dia – ele deveria esperar até o terceiro dia. Quando há contaminação em nossas vidas e a comunhão com Deus é interrompida, é importante que percebamos completamente nossa ofensa. Para o israelita não havia restauração repentina, mas sim a dor de permanecer por dois dias sob o peso de seu pecado. Deve haver a constatação e percepção do pecado na presença da graça que provê contra ele. Portanto, o terceiro dia é a percepção da magnitude de pecado na presença de graça. No Cristianismo não é uma questão de dias, mas sim do tempo necessário para obter uma noção real do pecado aos olhos de Deus. Uma expressão apressada de tristeza não prova um genuíno arrependimento do pecado. Em vez disso, o fato de já estarmos aspergidos com o sangue de Cristo é o motivo mais forte para a vergonha e a humilhação.
No terceiro dia há a aspersão da água de purificação – água que foi misturada com as cinzas da novilha. O que elas representam? O poder do Espírito de Deus (a água) trazendo diante de mim a lembrança dos sofrimentos de Cristo (as cinzas). As cinzas são a prova completa do julgamento e da memória do custo envolvido. O efeito de tudo isso é que adquirimos um conhecimento mais profundo da graça de Deus do que tínhamos antes e um conhecimento prático do engano do pecado e de nosso próprio coração. A percepção do pecado está ligada não apenas à amargura da comunhão perdida, mas à graça que o tirou. Isso dá uma sensação mais profunda de pecado em conexão com a graça.
A magnitude da graça e do pecado
Mas tudo isso, por mais necessário que seja, não é uma restauração completa. A consciência deve ser trazida a exercício e o mal ser julgado, mas isso não é a plena comunhão com Deus. Deve haver mais um período de tempo até o sétimo dia, quando mais uma vez o homem deve ser aspergido com a água da purificação. Quando a obra completa é feita e a purificação está completa, a graça em relação ao pecado é totalmente entendida, e pensamentos de pecado são deixados para trás. O sétimo dia traz diante de nós a magnitude da graça na presença do pecado. Assim, as duas aspersões são o inverso uma da outra. Se o pecado permitido em nossa vida trouxe vergonha à graça, agora vemos que a graça triunfou sobre o pecado. Deus nunca me ocupa com o pecado, exceto para me levar ao ponto de julgá-lo. Então Ele me ocupa Consigo mesmo e com a Sua graça. A graça que nos purificou, ao nos fazer julgar o pecado de acordo com a graça, nos faz agora desfrutar da graça sem pensar mais no pecado – em uma palavra, desfrutamos de Deus. A comunhão é totalmente restaurada e na plena aceitação da oferta de Cristo, compreendida e desfrutada. O pecado como objeto dos meus pensamentos é deixado para trás. Este é o sétimo dia. Quão perfeitamente a graça restaura a alma!
The Red Heifer (adaptado)
