Origem: Revista O Cristão – Alimento Espiritual e Exercício

Graça com Exercício Espiritual

Com relação ao nosso estado espiritual diante de Deus, se acharmos que estamos fracos e sem comunhão, devemos considerar isso seriamente e não prosseguir em uma condição sem gozo. Se fôssemos ameaçados com uma doença grave, adiaríamos o uso dos remédios necessários? Então, por que não parar quando nossa alma está em desordem e resolver as coisas antes que qualquer doença espiritual severa nos atinja? A libertação de um estado não espiritual de alma só pode ser remediada pelo Espírito Santo, dando um novo exercício para a alma e novas revelações de Jesus em Sua atração para o coração. Além disso, quando a comunhão é interrompida, deve haver confissão e, sob a ação graciosa da advocacia celestial de Cristo, ela será restaurada. O principal é abandonar a tentativa de conseguir isso por nós mesmos. Confessemos tal estado mau e a falta de gozo no Senhor, e nos ponhamos diante d’Ele em toda nossa infelicidade, mas no reconhecimento e confissão de nossa real condição, e deixemos que Ele lide conosco como Ele achar melhor. Se tudo for lançado a Deus na confiança de fé e verdadeira dependência, Ele nos concederá graça e nos encherá com a luz e gozo de Sua própria presença.

As respostas 

Se somos levados a agir assim da parte de Deus, a mudança pode ser instantânea. O Senhor pode estar trabalhando para nos deixar de joelhos, porque Ele quer nos dar novas bênçãos no Espírito. Mas isso pode durar algum tempo antes que a bênção do Senhor seja concedida. E mesmo que haja demora, vamos esperar inteiramente em Deus; a bênção virá no devido tempo. Temos um notável exemplo de demora no caso de Daniel, pois lemos que “eu, Daniel, estive triste por três semanas completas” (Dn 10:2). Mas quando a resposta chegou, lemos: “Não temas, Daniel, porque, desde o primeiro dia, em que aplicaste o teu coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras; e eu vim por causa das tuas palavras” (Dn 10:12). O exercício continuou por “três semanas completas”, mas agora ele é informado de que suas palavras foram ouvidas desde o primeiro dia. Eu me referi a essa notável experiência de Daniel para mostrar que nossas “palavras” podem ser ouvidas “desde o primeiro dia”, e ainda assim o exercício da alma que nos esmaga até o chão e tira toda a nossa força pode continuar e a resposta pode vir somente depois de algum tempo.

A experiência de Paulo 

Não podemos dizer que essa é uma experiência judaica somente, pois lemos sobre o apóstolo Paulo passando por um exercício semelhante e experimentando uma demora similar. “Foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, de que ao homem não é lícito falar” (2 Co 12:4). E ele nos diz: “E, para que me não exaltasse pelas excelências das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de não me exaltar. Acerca do qual três vezes orei ao Senhor, para que se desviasse de mim” (2 Co 12:7-8). A expressão “três vezes “, fala da súplica contínua e da demora da resposta. E quando veio, não foi a remoção do espinho, mas a graça suficiente para suportá-lo. “E disse-me: A Minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12:9).

Paulo recebeu uma coisa muito melhor do que aquilo que havia pedido. O aumento do poder de Cristo para suportar o espinho e para ser forte no poder de Cristo eram certamente bênçãos bem maiores do que a remoção da fonte de sua fraqueza. O espinho o levou a orar ao Senhor; a demora trouxe exercício espiritual à alma e exigiu repetidas orações. Mas quando a voz do Senhor é ouvida, transmite tanta segurança a ponto de Paulo se gloriar em suas fraquezas, para que o poder de Cristo possa repousar sobre ele. Mas seja “Daniel o profeta” ou “Paulo o apóstolo”, a lição é a mesma – que somos lançados inteiramente nos braços do Senhor quanto ao trato divino, ao exercício espiritual e à libertação espiritual. Nós mesmos devemos ser reduzidos a nada; “nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos” (2 Co 1:9). Isso é descrito de maneira mais detalhada mais adiante na mesma epístola: “Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós. Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; trazendo sempre por toda parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos. E assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossa carne mortal. De maneira que em nós opera a morte” (2 Co 4:7-12). Esta foi a experiência do apóstolo em conexão com o evangelho da glória de Cristo e o seu ministério. O “vaso” contendo o tesouro de um Cristo glorificado foi quebrado em pedaços para que a luz pudesse brilhar.

A vida de Jesus 

Quanto mais peso e pressão sobre o homem exterior, mais a vida de Jesus era manifestada. Quanto mais o vaso era quebrado, mais o testemunho de Cristo brilhava, e quanto mais a fraqueza do homem era sentida, mais o poder de Deus era experimentado. Toda o livre viver espiritual é consequência da sentença de morte em nós e da confiança em Deus, pois é na medida em que trazemos em nosso corpo a morte de Jesus que a vida de Jesus se manifesta em nosso corpo. A vida Cristã era, para Paulo, uma coisa muito séria: “Porque para mim o viver é Cristo” (Fp 1:21). A vida Cristã para ele era “Cristo” – ele estava vivendo uma vida de fé e comunhão, e expressou os traços de Cristo em sua vida diária. Nossa vida, motivo, poder, objetivo e fim é Cristo. Temos Cristo diante de nós como nosso Objetivo e nosso Prêmio, e nosso gozo está n’Ele. “Regozijai-vos, sempre, no Senhor; outra vez digo: regozijai-vos” (Fp 4:4), e naquele momento o homem que disse isso estava na prisão! Ele mostrou tal superioridade às circunstâncias, na energia divina em que atuava, que a prisão não era nada para ele. Seu desejo era alcançar o objetivo em glória e tê-Lo lá como ganho.

Bible Herald (adaptado)

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