Origem: Revista O Cristão – O Homem Perfeito e Dependente

O Homem Perfeito e Dependente no Getsêmani

A perfeita dependência do Senhor como Homem é manifestada no Getsêmani da maneira mais impressionante. Em Lucas, toda a cena do Getsêmani e da cruz, é do Homem perfeito e dependente. Ele ora: Ele Se submete à vontade de Seu Pai. Um anjo O fortalece: esse era o serviço deles ao Filho do Homem. Depois, em profundo conflito, Ele ora mais intensamente: como o Homem dependente, Ele é perfeito em Sua dependência. A profundidade do conflito aprofunda Sua comunhão com o Pai. Os discípulos foram dominados apenas pela sombra daquilo que levou Jesus a orar. Refugiam-se no esquecimento do sono. O Senhor, com a paciência da graça, repete Sua advertência, e a multidão chega. Pedro, confiante quando advertido, dormindo na aproximação da tentação quando o Senhor estava orando, ataca com sua espada quando Jesus Se permite ser levado como uma ovelha ao matadouro, e então, ah! Nega a verdade enquanto Jesus a confessa. Mas, por mais submisso que o Senhor fosse à vontade de Seu Pai, Ele mostra claramente que Seu poder não se afastou d’Ele. Ele cura a ferida que Pedro infligiu ao servo do sumo sacerdote e, em seguida, permite ser levado preso, com a observação de que era a hora dos que O levam e o poder das trevas. Triste e terrível associação!

Conflito 

Há elementos do mais profundo interesse que aparecem na comparação deste evangelho com outros nesta passagem, e elementos que trazem à tona o caráter deste evangelho da maneira mais impressionante. No Getsêmani, temos o conflito do Senhor revelado de forma mais completa em Lucas do que em qualquer outro lugar, porém, na cruz temos Sua superioridade aos sofrimentos em que Ele estava. Não há manifestação dos sofrimentos: Ele está acima deles. Não é, como em João, o lado divino da figura. Lá no Getsêmani não temos agonia, mas quando Ele revela Quem é, eles recuam e caem no chão. Na cruz, em João, não há “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?”, mas Ele entrega o Seu próprio Espírito a Deus. Isso não é assim em Lucas. No Getsêmani, temos o Homem de dores, um Homem que sente em toda a sua profundeza o que estava diante d’Ele e olha para Seu Pai. “E, posto em agonia, orava mais intensamente”. Na cruz temos Aquele que, como Homem, Se curvou à vontade de Seu Pai e está na quietude d’Aquele que, em qualquer tristeza e sofrimento, está acima de tudo. Ele diz às mulheres que choram que chorem por elas mesmas, não por Ele – o madeiro verde –, pois o julgamento está por vir. Ele ora por aqueles que O estavam crucificando; Ele fala de paz e gozo celestial ao pobre ladrão que foi convertido. Ele estava indo para o paraíso antes que o reino viesse. O mesmo é visto especialmente no fato da Sua morte. Não é, como em João, entregar Seu Espírito; mas em Lucas diz: “Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu Espírito”. Ele confia Seu Espírito na morte, como um Homem que conhece e crê em Deus, Seu Pai, Aquele que Ele assim conheceu. Em Mateus, temos o abandono de Deus e Sua percepção disso. E, nesse caráter do Evangelho, revelando Cristo, de maneira inconfundível e perfeita, como Homem, e o Homem perfeito, está cheio do mais profundo interesse. Ele passou por Suas tristezas com Deus, e então em perfeita paz estava acima de todas elas. Sua confiança em Seu Pai era perfeita, mesmo na morte – um caminho não trilhado pelo homem até então, e que nunca será trilhado pelos santos. Se o Jordão transbordava sobre todas as suas ribanceiras no momento da sega, a arca nas profundezas do Jordão fez uma passagem seca em direção à herança do povo de Deus.

J. N. Darby – Synopsis, Lucas 22

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