Origem: Revista O Cristão – Batalha Espiritual
As Hostes do Senhor
Pode parecer um pouco estranho que a luta tenha um lugar tão relevante na epístola aos Efésios. Encontramos na epístola a mais completa revelação de nossa posição e da caminhada do Cristão, mas também somos especialmente achados em luta, e somos chamados a vestir “toda a armadura de Deus”. Na verdade, nunca entramos num combate como esse até conhecermos os nossos privilégios. Em Gálatas temos luta, mas não os privilégios da Igreja, pois a carne não é a mesma coisa que os espíritos maus. Mas separem os santos do mundo, e que sejam vasos preparados a serviço do Mestre, e essa é a própria razão pela qual eles entram na luta. Se ocupamos o lugar de privilégio em que estamos, temos de entrar na luta. Se atravessamos o Jordão, devemos encontrar os cananeus e os ferezeus. Todos nós sabemos algo sobre os exercícios no deserto – descobrir o que está em nosso coração –, mas é quando entramos na terra que entramos na luta.
Nós “morremos com Ele”, que é exatamente a figura do Jordão, e estamos “assentados nos lugares celestiais, em Cristo”. É o lugar de todo Cristão, mas muitos não percebem isso. Muitos estão perguntando se não estão ainda no Egito e estão olhando para o sangue. Mas no Mar Vermelho, eu recebo a morte e a ressurreição de Jesus Cristo; o julgamento que caiu sobre os egípcios me salvou. Assim como eu (e todo pobre pecador em Adão) fui expulso de um paraíso terrestre por causa do pecado, então eu sou levantado e colocado em um paraíso celestial por causa da justiça. Passando pelo deserto, temos exercícios de coração, mas então chegamos ao Jordão onde passamos pela morte, por assim dizer, e a terra é nossa; comemos o grão da terra do ano antecedente (Js 5:12).
O deserto e a terra
Ao longo desta epístola, você encontra os dois lugares – o deserto e a terra. Somos colocados lá no lugar que é nosso, e claro, estamos aqui em nosso corpo, mas chega-se a esta conclusão: O inimigo está aqui. Temos o nosso lugar em Cristo, mas os Seus inimigos ainda não estão debaixo dos Seus pés. A consequência é colocar-nos em batalhas. Ouviremos as pessoas falarem do Jordão sendo a morte e Canaã sendo o céu, mas, na realidade, a luta é o que caracteriza a terra.
Aqueles que entram na terra são tão completamente do Senhor que Ele os usa para o combate contra Seus inimigos. Como podem travar as batalhas do Senhor se estão na carne? Portanto, se quisermos ter sucesso nessas batalhas, devemos estar mortos na prática. Paulo combateu nessas batalhas, mantendo tudo o que pertencia a ele completamente destruído, de modo que nada de Paulo apareceu. Ele sempre levava em seu corpo a morte do Senhor Jesus, para que também a vida de Jesus se manifestasse em seu corpo mortal. Um homem que está morto e ressuscitado não tem nada a ver com este mundo. Associados ao Senhor naqueles lugares celestiais, somos o testemunho daquilo que Ele é lá.
Nosso estado e nossa atividade
Ao olhar para as partes da armadura, percebemos primeiro as partes subjetivas, ou seja, que nosso estado vem primeiro e depois vem a atividade. Não há atividade divina até que Deus tenha agido divinamente conosco. Cristo vem e coloca tudo o que é divino e celestial em um homem exatamente em contato com tudo o que está errado no homem. A verdade de Deus, que foi revelada no Novo Testamento, é trazida diretamente ao coração dos homens, e quando ela é efetivamente aplicada em mim, recebo o cinto da verdade sobre meus lombos; meu coração está inteiramente sujeito a uma palavra celestial. Sempre que entro nesse estado, há conflito, mas agora a minha condição é o efeito da verdade; as afeições estão corretas, pois o meu coração está na verdade.
As peças da armadura
“Vestir a couraça (peitoral) da justiça” é algo prático, mas isso não é justiça para com Deus. Porém, se eu vou pregar a Cristo e alguém possa dizer de mim: “Ora, aqui está um homem pregando que é pior do que seus vizinhos”, Satanás vai tomar posse da situação imediatamente. Devemos vestir o peitoral da justiça, isto é, a alma e o andar devem ser retos.
Em seguida, meus pés devem ser calçados “na preparação do evangelho da paz”. O egoísmo é um sentimento que provoca contendas, pois ele diz, eu devo manter meus direitos. Mas o Cristão carrega a paz, porque ele tem paz no íntimo; ele carrega através do mundo o Espírito e o caráter de Cristo. Cristo podia andar por este mundo em perfeita paz, porque Ele tinha Seus lombos perfeitamente cingidos com a verdade e tinha, de modo perfeito, o peitoral da justiça. Nós também podemos caminhar íntegros por meio de tudo o que o homem possa trazer contra nós, se nossos pés estiverem calçados.
Quando o coração está ajustado nas três primeiras peças, podemos abraçar “o escudo da fé”. Há uma confiança abençoada em Deus. Satanás pode fazer o que quiser, pode se esconder em lugares secretos, mas ele não pode romper o meu escudo de fé. Ele tem feito o seu melhor para seduzir e afligir, mas Cristo em Sua posição por nós o venceu completamente. A ordem é: “Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tg 4:7), “resistir”, não vencê-lo. Se uma vez resistimos a ele honestamente, ele encontra Cristo em nós e foge imediatamente. Ele nunca pode passar através da confiança em Deus, pois o escudo da fé está levantado, e ele não pode fazer nada.
Agora vem o “capacete da salvação”. Isso é a armadura defensiva e o estado da alma que vem antes. Muitos entraram em ação sem conhecer a si mesmo, mas vestidos com este “capacete da salvação” podem levantar a cabeça, pois sabem que a salvação é deles, e que a porção que lhes pertence é a glória. Como homens em Cristo (tudo sendo um assunto resolvido), agora eles tomam “a espada do Espírito” e podem começar a luta. A primeira grande coisa, se quisermos ser ativos no serviço do Senhor, é que devemos estar perfeitamente ajustados com Ele. É o homem que tem o segredo do Senhor em poder na sua própria alma que pode sair para o serviço (Sl 25:14). Ele não se distrairá com outros pensamentos, pois tem o segredo do Senhor.
Oração
“Orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito e vigiando nisso com toda perseverança e súplica por todos os santos” (Ef 6:18). Estas duas sempre andam juntas: a Palavra de Deus e a oração. Maria sentou-se aos pés de Jesus e ouviu as Suas palavras. No momento em que eu entendo que o combate é contra Satanás e suas artimanhas, eu percebo que metade da batalha tem que ser continuada com Deus. Encontramos o próprio Senhor no Getsêmani orando fervorosamente, e quando o combate veio, Ele estava perfeitamente calmo. Ao contrário de Pedro, que estava dormindo, amaldiçoou e jurou que não O conhecia. A verdadeira seriedade e súplica vêm de estarmos envolvidos nos interesses de Deus no mundo.
O bendito Senhor desceu até onde estávamos – foi feito pecado por nós nas partes mais baixas da Terra, com todo o poder de Satanás contra Ele. Tendo subido ao alto, Ele nos tira tão inteiramente das mãos do inimigo que nos coloca em um lugar onde temos os mesmos interesses que Cristo – o lugar mais abençoado, se apenas tivermos o poder de mantê-lo. Mas quanto mais estamos na vanguarda da batalha, mais somos expostos aos dardos inflamados, e nenhum lugar exige mais dependência de Cristo do que quando somos expostos dessa maneira. Isso nos leva a uma constante e incessante dependência e oração, não só para nós mesmos, mas para todos os santos. Se eu estiver andando com Deus, não só orarei por mim mesmo, mas estarei em contínua intercessão por todos os santos.
Quando eu tiver passado o Jordão e a afronta deste mundo for removida, posso estar no exército do Senhor. Nesta posição, não é o aprendizado ou a sabedoria humana, mas sim as ciladas de Satanás que temos que temer. No momento em que saímos da presença consciente de Deus, estamos em perigo. Mas com a armadura de Deus, podemos contar com Ele e não apenas andar com segurança, mas sempre ganhar terreno contra Satanás.