Origem: Revista O Cristão – A Igreja e a Profecia

O Judaísmo Messiânico

O movimento intitulado “Judaísmo Messiânico” existe desde meados do século XIX, embora alguns de seus adeptos afirmem que começou com Judeus crentes no primeiro século d.C. Entre alguns, tem havido crescente interesse no movimento durante os últimos quarenta anos, enquanto outros se perguntam por que existe e o que ele representa.

Quando Deus começou a trabalhar entre os crentes no século XIX para restaurar a verdade da Igreja, aumentou o interesse pela profecia. Um exame da profecia deu origem a um interesse em Israel e como seu futuro se encaixaria no quadro. Ficou claro que Deus iria trazer o seu antigo povo de volta à sua Terra novamente em algum momento e abençoá-lo durante o reino glorioso de Cristo, chamado Milênio. Como resultado da pregação do evangelho nessa época, vários Judeus creram no Senhor Jesus. No entanto, embora reconhecessem claramente que Jesus era o verdadeiro Messias, alguns não queriam abandonar sua herança, crenças, costumes e rituais religiosos Judaicos. Assim, formaram-se vários grupos que procuravam aliar a crença em Jesus ao Judaísmo e, finalmente, unir o Judaísmo e o Cristianismo.

Suas práticas e crenças 

Hoje há um grande número desses grupos, com uma ampla gama de práticas e crenças. Alguns abraçam praticamente todas as mesmas verdades que os Cristãos evangélicos, enquanto acreditam que Deus quer que o povo Judeu permaneça distinto. Outros enfatizam mais os costumes Judaicos e seguem pelo menos algumas partes da lei Judaica. No entanto, todos esses grupos têm algumas crenças em comum.

Todos eles acreditam que Jesus era o verdadeiro Messias e Salvador. No entanto, eles não acreditam que Jesus veio para iniciar “outra religião”, mas simplesmente para cumprir as promessas do Velho Testamento a Israel. Eles acreditam na nova aliança que levará Israel às bênçãos na Terra. Eles creem que Deus agora permite que os gentios confiem n’Ele e que tais gentios possam ser “enxertados a Israel” (veja Rm 11:17) pela mesma nova aliança. Eles até se referem a esses Judeus e gentios salvos como “a Igreja” ou “aqueles chamados para fora”, mas todos dentro da estrutura de um Israel melhor.

A maioria dos Judeus messiânicos não usa o rótulo de “Cristão”, mas rotulam-se de uma maneira que reflete sua identidade Judaica. Eles chamam seus lugares de congregações de adoração ou sinagogas, e chamam seus líderes de rabinos. Os serviços de adoração geralmente são realizados no sábado, de acordo com a crença Judaica no sábado. Eles normalmente exibem Menorás e Estrelas de Davi como símbolos, e frequentemente usam os pergaminhos da Torá hebraica em seus cultos. Usam roupas tradicionais Judaicas, recitam orações Judaicas tradicionais e celebram feriados e festas Judaicas como a Páscoa (Alguns celebram a chamada versão “Cristã” da Páscoa, onde Jesus é o foco principal). Muitos continuam a observar as leis da dieta Judaica e praticam a circuncisão de crianças do sexo masculino.

Os Judeus ortodoxos 

Como seria de esperar, o movimento Judaico messiânico não é aceito pela comunidade Judaica ortodoxa, que se refere a eles como “ex-Judeus”. Os Judeus ortodoxos não reconhecem Jesus como o verdadeiro Messias e continuam a esperar que Ele venha. Além disso, o movimento Judaico messiânico não é geralmente aceito pelos Judeus que se converteram ao Cristianismo. Judeus que se tornaram Cristãos geralmente se referem a si mesmos como Cristãos. Eles estão conectados com lugares Cristãos de culto e são assimilados ao círculo Cristão.

Distinguindo o Judaísmo do Cristianismo 

O que a Palavra de Deus diz sobre tal movimento? Antes de comentar sobre isso a partir da Escritura, devemos salientar com tristeza que o fracasso entre os Cristãos gentios tendeu a fomentar o desejo de retornar ao Judaísmo e seus princípios. Em vez de mostrar o caráter apropriado e o chamado celestial da Igreja, muitos crentes hoje se estabeleceram neste mundo. Um grande número de grupos Cristãos adotou práticas de culto e serviço que têm um sabor Judaico, como uma forma ritualística de serviço, belos edifícios, música instrumental e um sacerdócio distinto daquele que engloba todos os crentes. Assim, não é de surpreender que os crentes Judeus percebam isso e levem isso adiante. Ainda mais grave é uma atitude de antissemitismo que continua a existir mesmo entre alguns Cristãos, tornando difícil para os crentes Judeus serem assimilados na comunidade Cristã. Muitos crentes Judeus acham que os crentes gentios entenderam mal e até ignoraram a posição de Israel diante de Deus e que não passaram muito tempo lendo o Velho Testamento. De fato, um Judeu messiânico comentou: “A maioria do nosso povo Judeu apenas lê e aprende com os escritos da Torá. A Igreja passa mais tempo no Brit Hadasha (Nova Aliança). Por meio da correlação desses livros, o Judaísmo messiânico apresenta mais profundidade no entendimento e no conhecimento”.

Assim, aqueles que participam do Judaísmo messiânico sentem que Deus está trabalhando por meio deles para trazer Judeus e gentios crentes juntos para terem uma esperança em comum. Essa esperança se baseia, no entanto, na identificação com o povo Judeu e a Terra de Israel.

Se olharmos para a Palavra de Deus, vemos que alguns dos pensamentos relacionados com o Judaísmo messiânico são verdadeiros. É verdade que Deus está trabalhando hoje entre Judeus e gentios, pois Ele “de ambos os povos fez um; e, derribando a parede de separação que estava no meio” (Ef 2:14). É verdade que grande parte da Igreja tem ignorado as promessas de Deus a Israel e que a Igreja muitas vezes não entende as profecias do Velho Testamento relativas a Israel. Como resultado, as profecias de bênção do Velho Testamento são aplicadas à Igreja quando, de fato, se aplicam a Israel. Portanto, há muito mal-entendido sobre esse assunto, mesmo entre os verdadeiros crentes.

No entanto, temos que salientar que não há espaço nos propósitos de Deus, como revelado no Novo Testamento, para um movimento como o Judaísmo messiânico. Esse movimento separa o que foi ensinado por aqueles que, como Pedro e Tiago, nos primeiros dias da Igreja, do que mais tarde foi ensinado por Paulo. Mas sabemos que Paulo recebeu uma revelação especial da verdade da Igreja, e os outros apóstolos reconheceram isso. Paulo poderia dizer de si mesmo: “Eu estou feito ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir [completar – JND] a Palavra de Deus” (Cl 1:25). Pedro podia falar de “nosso amado irmão Paulo”, mas também menciona que “em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender” (2 Pe 3:15-16). Embora seja verdade que a Igreja começou com os Cristãos Judeus, a nação Judaica em geral rejeitou a pregação do evangelho. Concernente ao Senhor Jesus, eles “mandaram após Ele embaixadores, dizendo: Não queremos que Este reine sobre nós” (Lc 19:14). Esta profecia foi cumprida no apedrejamento de Estevão. Como resultado, Deus voltou Sua atenção principalmente para os gentios. Paulo e Barnabé poderiam dizer aos Judeus: “Era mister que a vós se vos pregasse primeiro a Palavra de Deus; mas, visto que a rejeitais, e vos não julgais dignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os gentios” (At 13:46). Paulo continuou pregando aos Judeus assim como aos gentios, mas a principal bênção nesta dispensação tem sido entre os gentios, pois Deus disse: “O endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado” (Rm 11:25).

A nova aliança 

Não é correto dizer, como alguns Judeus messiânicos afirmam, que a Nova Aliança não substitui a Velha Aliança. Antes, lemos em Hebreus que “Tira o primeiro [pacto ou aliança], para estabelecer o segundo” (Hb 10:9). Além disso, lemos em Hebreus 8:13: “Dizendo novo concerto, envelheceu o primeiro. Ora, o que foi tornado velho e se envelhece perto está de acabar”. A Velha aliança se baseava no que o homem poderia fazer para obter o favor de Deus, e não poderia haver nenhuma bênção sob ela, pois todos haviam falhado, quer sejam Judeus ou gentios. Toda bênção, seja no céu ou na Terra, deve estar no terreno da nova aliança – aquilo que Cristo fez.

Ao falar do novo pacto [aliança], devemos lembrar que um pacto na Escritura é sempre para a Terra e para um povo terrenal. Assim, a nova aliança é apropriada a Israel, pois eles falharam sob a antiga aliança. Deus vai cumprir Suas promessas a Abraão, mas isso será feito em graça com base no que Cristo fez. No entanto, devemos ter claro que a Igreja não está em relação de aliança com Deus, pois ela é uma companhia celestial. A Igreja entra no bem da nova aliança, pois todas as bênçãos, seja no céu ou na Terra, fluem da obra de Cristo. É por isso que Paulo podia falar de si mesmo “como a um abortivo” (1 Co 15:8). Como judeu, ele naturalmente procuraria futuras bênçãos na Terra, mas como pertencente à Igreja, ele veio para a bênção da nova aliança antes que a nação de Israel a experimentasse. A Igreja é o corpo e a noiva de Cristo e não está em relação de aliança com Deus.

O chamado celestial 

O Judaísmo messiânico ignora o chamado celestial da Igreja e coloca pouca ou nenhuma ênfase nas bênçãos celestiais. Suas esperanças são terrenais, pois eles buscam um Israel reformado e regenerado na Terra. A esperança da Igreja, por outro lado, é celestial, pois “a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3:20). O Judaísmo messiânico dá pouca ou nenhuma importância ao retorno do Senhor para nos levar para casa, mas coloca uma grande ênfase em Seu retorno posterior para estabelecer Seu reino.

Está claro na Escritura que Deus não está trabalhando hoje entre qualquer nação, tribo, idioma ou grupo étnico em particular, mas Ele está reunindo pessoas de cada nação para formar Sua Igreja. “Mas que Lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, O teme e faz o que é justo” (At 10:35). Tampouco Deus está reunindo Sua Igreja com base nas esperanças Judaicas e sua restauração futura, mas sim Ele está reunindo-a para bênçãos celestiais. Não há dúvida de que uma vez que a Igreja tenha sido levada para casa para estar com Cristo, Deus novamente começará a tomar a causa de Seu povo terrenal, Israel, e os trará de volta à bênção em sua terra. Por fim, Ele congregará “em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na Terra” (Ef 1:10). Por enquanto, Deus reconhece gentios incrédulos e Judeus incrédulos. Contudo, entre os crentes, Ele reconhece apenas a Igreja de Deus. Paulo poderia dizer: “Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos Judeus, nem aos gregos, nem à Igreja de Deus” (1 Co 10:32). Se um Judeu crê em Cristo hoje, ele faz parte da Igreja. Como tal, Deus quer que ele desfrute de todas as bênçãos do “chamado celestial” mencionado em Hebreus 3:1 – JND. Deus quer que ele olhe para frente, não para as bênçãos terrenais, mas para a “Jerusalém celestial” (Hb 12:22). Que não permitamos que nada obscureça o bendito relacionamento entre Cristo e a Igreja, e que não voltemos novamente àquelas coisas que eram apenas a “sombra dos bens futuros” (Hb 10:1).

W. J. Prost

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