Origem: Revista O Cristão – A Igreja e a Profecia
As Sete Igrejas
As cartas endereçadas às sete igrejas têm um caráter incomum e que está de acordo com o testemunho da Igreja aqui na Terra. Elas se relacionam com a história da Igreja na Terra, não no céu, e têm a ver com sua responsabilidade diante do Senhor como Sua testemunha na Terra. Porque subsiste na Terra como propriedade de Deus, certas coisas relacionadas com ela são preditas. Em Sua sabedoria, Deus seleciona sete igrejas na Ásia que proporcionam o caráter moral dos estados nos quais a Igreja cairia sucessivamente e dá Seu julgamento moral sobre esses estados. Não há menção de seu relacionamento com Deus como Pai e nenhuma menção da graça de Deus em encontrar os santos em sua necessidades e fracassos – tudo isso é deixado para outras Escrituras. Em vez disso, vemos o Senhor como Juiz em relação àqueles que professam levar o Seu nome.
Um chamado celestial
A Igreja tem um chamado celestial e todas as suas esperanças estão centralizadas no céu. Seu lar está lá, e seu caráter neste mundo é o de um peregrino e um estrangeiro. Mais do que isso, suas afeições estão concentradas em Cristo que está no céu e, como Sua noiva, ela aguarda ardentemente por Ele vir para levá-la para Si mesmo. A profecia, por outro lado, lida com os propósitos de Deus para a Terra e sempre diz respeito à Terra. Por estas razões, a Igreja não é o assunto da profecia, e seu tempo neste mundo não é contado no tempo profético. A Igreja não é vista em conexão com a Terra até que ela seja manifestada com Cristo e participe no governo da Terra. Isto não acontecerá até que as bodas do Cordeiro tenha acontecido, o reino milenar seja estabelecido, e a Igreja seja vista como “a santa Jerusalém, que de Deus descia do céu” (Ap 21:10).
No entanto, devemos lembrar que, embora a Igreja não seja o assunto da profecia, é vital ver a profecia a partir de um entendimento da verdade da Igreja. Paulo disse a Timóteo: “Considera o que digo, porque o Senhor te dará entendimento em tudo” (2 Tm 2:7). Um entendimento da Igreja e sua posição peculiar nos propósitos de Deus é crucial para um entendimento da profecia e, na verdade, de todos os caminhos de Deus. Assim, o livro do Apocalipse foi escrito para a Igreja, mesmo que não seja, na essência, sobre a Igreja. Embora o livro se refira principalmente “as coisas que brevemente devem acontecer” (Ap 1:1), João foi instruído a escrever “as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer” (Ap 1:19). Estas são as três partes do livro. As coisas que João viu são encontradas no primeiro capítulo, pois Jesus Cristo já era “a fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos” (Ap 1:5). Ele já “em Seu sangue nos lavou dos nossos pecados” e “nos fez reis e sacerdotes para Deus e Seu Pai” (Ap 1:5-6). Nos capítulos 2 e 3, temos as “coisas que são” – o juízo do Senhor sobre a Igreja em sua responsabilidade como um testemunho. Então, começando com o capítulo 4, temos “as coisas que depois destas hão de acontecer”.
É apropriado que Deus fale à Igreja tanto no começo como no final do livro, pois é para ela que o livro é principalmente direcionado. No início, ela é tratada em responsabilidade, enquanto no final ela é lembrada de seu bendito relacionamento com seu Noivo. No início, o Senhor assume o Seu lugar como Juiz, pois “o julgamento” começa “pela casa de Deus” (1 Pe 4:17), enquanto no final Ele toma o Seu lugar como “Jesus… a resplandecente Estrela da manhã” (Ap 22:16). Quanto às cartas das sete igrejas nos capítulos 2-3, há uma mensagem dupla nelas.
Uma mensagem dupla
Em primeiro lugar, essas eram sete assembleias reais que existiam na Ásia na época em que João escreveu. Certas condições existiam em cada uma das assembleias que o Senhor viu e fez com que João lhes escrevesse para o benefício delas. Condições similares podem existir em qualquer assembleia de crentes, em qualquer tempo. Deus queria que tivéssemos isso em nosso coração, pois o declínio pode facilmente vir ao nosso encontro. A Igreja é deixada na Terra para ser um testemunho para Deus. Aqui nestas observações feitas às sete igrejas, o Senhor está agindo como Juiz e dando Sua estimativa sobre o estado de cada assembleia que professava ser Seu testemunho. Em Laodiceia temos o que é falso, mas ainda assim tem um lugar no testemunho de Deus na Terra, ela é repugnante para o Senhor e é vomitada de Sua boca. Isto não ocorrerá, é claro, até que todos os verdadeiros crentes tenham sido levados na vinda do Senhor. Quando a falsa Igreja for julgada, Deus fará com que Israel volte a ser abençoado novamente e mais uma vez os estabelecerá como Seu testemunho na Terra.
Uma visão panorâmica
No entanto, há outra mensagem para nós no que é dito a essas assembleias. É evidente que as sete igrejas, tomadas na ordem em que são dadas, são uma visão panorâmica das várias épocas da história da Igreja. Não havia intenção de dar a Igreja uma “previsão” de sua história, mas sim de falar ao seu coração e consciência sobre seu estado por toda sua história. A Igreja deve sempre ter uma esperança presente da vinda do Senhor para Seus santos a qualquer momento. Nós, que estamos vivos, podemos e devemos sempre falar de nós mesmos como “os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor”. É somente no final desta dispensação que Deus nos permitiu ver todo o significado profético desses discursos. Agora, quando o período da Igreja está quase terminado, Deus nos permitiu ver, como Ele previu, tudo o que aconteceria no testemunho da Igreja durante sua história e deu Sua avaliação sobre isso.
A história profética da Igreja
Éfeso nos dá o estado da Igreja logo após os apóstolos terem sido levados para casa – um cuidado para fazer tudo certo, mas deixando o primeiro amor. O amor é a base do nosso relacionamento com o Senhor no Cristianismo e deve ser mantido. Esse abandono logo no início preparou o caminho para todos os outros males que surgiram mais tarde. Esmirna retrata o período de perseguição selvagem que ocorreu sob o império romano durante os séculos II e III d.C. Houve dez períodos distintos de perseguição, e muitos foram “fiéis até a morte” durante esse período. Mas então Constantino se tornou imperador em 325 d.C. e professou ser Cristão. Ele fez do Cristianismo a religião oficial do império e constrangeu muitos a serem batizados como Cristãos. Este estado de coisas é tipificado em Pérgamo. Embora a perseguição tenha cessado, foi o início de um curso de declínio para a Igreja, pois ela se aliou ao mundo. Essa condição das coisas acabou se degenerando ainda mais no catolicismo romano, com suas hierarquias de autoridades, má doutrina e terrível perseguição de todos os que não se submetiam aos seus ditames. A Igreja não estava apenas sendo parte do mundo, mas na verdade governava o mundo. Esta condição das coisas é descrita na carta endereçada a Tiatira – uma condição que continuou quase incontestada até aproximadamente 1500 d.C. Certamente o Senhor tinha Seus próprios fiéis durante este tempo, muitas vezes referido como a Idade das Trevas, mas pela maior parte Roma dominava a Europa. Quando a condição do testemunho se degenerou a este ponto, não houve esperança de plena recuperação, e assim as várias condições descritas em Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia coexistem até a volta do Senhor.
Sardes traz para nós, não a Reforma, mas aquilo que surgiu da Reforma. Sem dúvida, a Reforma foi de Deus, mas o Protestantismo, ou o seu estabelecimento tranquilo no mundo, tem um nome de que vive, mas está morto. A restauração da preciosa verdade do evangelho da Reforma foi sucedida pela frieza e formalismo. Mas no começo do século XIX Deus graciosamente introduziu Filadélfia, um povo consciente do que a Igreja é e o que ela significa para Cristo. Diante do Senhor, eles estão dispostos a guardar a Sua Palavra e a não negar o Seu nome. O Senhor tem uma mensagem especial para eles, e talvez não haja maior palavra de encorajamento em toda a Palavra de Deus do que a encontrada em Apocalipse 3:12.
Finalmente, vemos Laodiceia, onde a mornidão é combinada com o mundanismo, orgulho e satisfação própria. A avaliação de Deus é diferente, pois Ele vê apenas pobreza, cegueira, miséria e nudez. O resultado final é que ela é vomitada da boca de Cristo, sem dúvida uma referência ao terrível fim da falsa igreja que busca tomar o lugar daquilo que é verdadeiro.
A bendita esperança
O conhecimento do curso dos eventos pelos quais a Igreja passou e os sucessivos julgamentos do Senhor é útil para entender o fim das coisas na Terra. Mas eles não têm relação com a bendita esperança de sermos chamados para estarmos com Cristo em glória. Cristo amou a Igreja e deu a Si mesmo por ela. Nosso lugar é o de responder em amor. A afeição por Ele é tudo.
Em Apocalipse 1:9, João descreve a si mesmo como sendo “vosso irmão e companheiro na aflição, e no Reino, e na paciência de Jesus Cristo”. É esse caráter de caminhada que foi esquecido pela Igreja, como evidenciado em pelo menos seis, se não todas, das sete igrejas. A Igreja foi chamada para compartilhar da glória de Cristo, mas esse chamado nunca está separado do sofrimento aqui embaixo. Devemos estar dispostos a ser participantes do reino e da paciência de Jesus, enquanto esperamos que Ele Se manifeste em glória e nós com Ele. Que possamos levar a sério o que Deus disse e aplicá-lo fielmente em nossa própria vida.
