Origem: Revista O Cristão – Restituição
A Importância da Restituição
Todos nós entendemos a importância da restituição em um sentido natural, embora, se formos honestos conosco mesmos, entendamos o assunto muito melhor quando somos os que têm o direito à restituição, do que quando somos nós que devemos fazer a restituição. Nosso coração natural não gosta de assumir a responsabilidade pelos danos que causamos.
Há uma história real sobre uma mulher que saiu de um shopping center e descobriu que alguém havia calculado mal e batido no carro dela, causando danos óbvios. Mas quando ela leu o bilhete que estava colocado sob o limpador de para-brisa, tudo o que dizia era: “Desculpe!” Ela esperava encontrar um nome e número de telefone, para que pudesse receber o dinheiro para pagar os reparos.
Um homem sentado em um banco próximo viu todo o incidente acontecer, mas seu único comentário, quando a mulher lhe mostrou o bilhete, foi: “Ele disse que estava arrependido; isso não é o suficiente?”. Mas certamente não foi suficiente para a mulher cujo carro fora danificado.
Em momentos diferentes, em lugares diferentes, tive a oportunidade de ficar em hotéis onde a água quente não estava disponível à noite. Descobri o problema apenas quando tentei usá-la tarde da noite. Em ambos os casos, relatei o assunto à recepção pela manhã, mas as reações dos dois hotéis foram muito diferentes. Um gerente de hotel simplesmente descartou o assunto dizendo: “Desculpe por isso, eu desconhecia esse problema”. Ele não assumiu nenhuma responsabilidade e não ofereceu reembolso ou restituição. O outro gerente do hotel (era uma rede de hotéis diferente) disse imediatamente: “Então seu quarto está isento; sem custo!”. Você pode facilmente adivinhar qual rede de hotéis continuo a usar hoje!
Restituição em relação ao homem e em relação a Deus
A restituição também é marcante na Palavra de Deus, e de duas maneiras diferentes – em relação ao homem e a Deus. Neste artigo, discutiremos a restituição em relação ao homem, conforme nos foi dada pela Palavra de Deus, e consideraremos a restituição em relação a Deus em um outro artigo. Pode haver alguma sobreposição quando consideramos os dois tipos de restituição.
Um dos primeiros exemplos registrados de restituição na Escritura ocorre em Gênesis 20:14, quando Abimeleque não apenas restituiu a esposa de Abraão, Sara, mas também lhe deu “ovelhas, bois, servos e servas”. Embora Abraão também fosse culpado por aconselhar Sara a dizer a outros que ela era sua irmã, Abimeleque reconheceu a seriedade de tomar a esposa de outro homem. Mais tarde, depois de Jacó ter enganado Isaque e obtido sua bênção de modo desonesto, depois de muitos anos, ele deu a Esaú um presente de gado, cabras, ovelhas, camelos e jumentos, como meio de apaziguar a ira que ele pensava que certamente estaria no coração de Esaú.
Muito mais tarde, na lei mosaica, a restituição foi definitivamente ensinada, e o valor da restituição estava de acordo com o grau de iniquidade relacionado com o pecado que deu causa à restituição. Por exemplo, lemos que, “Se alguém furtar boi ou ovelha e o degolar ou vender, por um boi pagará cinco bois; e pela ovelha, quatro ovelhas” (Êx 22:1). No entanto, “Se o furto for achado vivo na sua mão, seja boi, ou jumento, ou ovelha, pagará o dobro” (v. 4). Também está registrado: “e se não tiver com que pagar, será vendido por seu furto” (v. 3). Roubar era um pecado grave, mas dar o próximo passo de se livrar do animal que havia sido roubado era ainda mais sério e exigia maior restituição. Outras leis governavam coisas como a destruição das plantações de outra pessoa acendendo uma fogueira, permitindo que um animal se alimentasse no campo de outra pessoa, ou até mesmo cometendo fornicação com uma mulher solteira: A restituição teria que ser feita. Evidentemente, esses princípios estavam diante de Zaqueu (Lc 19:8) quando ele disse ao Senhor Jesus: “se em alguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado”. Ele reconheceu seu dever de restituição de acordo com a lei.
Restituição quíntupla
Podemos perguntar, no entanto, por que a restituição era tão grande em alguns casos: cinco vezes mais para um boi e quatro vezes mais para uma ovelha. Normalmente não exigimos isso na maior parte do mundo hoje e, em muitos casos em que o dinheiro é roubado, ele nunca é recuperado. Os indivíduos de quem o dinheiro foi roubado são simplesmente deixados para arcar com a perda. No entanto, Deus não tratou Israel dessa maneira, nem trata conosco dessa maneira quanto aos nossos pecados.
Quando um homem roubava, não só havia o mal feito ao seu próximo, mas também o erro moral envolvido no roubo. Deus exigiu restituições quádruplas e quíntuplas por várias razões. Em primeiro lugar, o valor da restituição era um forte impedimento para a repetição da ofensa. Uma restituição quádrupla ou quíntupla, sem dúvida, esgotaria muito o próprio gado ou ovelhas do ofensor e o lembraria de que “o crime não compensa”. Segundo, serviria de lembrete para outros de que a terra pertencia a Jeová e que o roubo na terra de Jeová era um assunto sério. Terceiro, ela reembolsava o dono do animal roubado pelo tempo e problemas que todo o incidente lhe causou. Além disso, o fato de que o homem podia não ter os meios para restituir quatro ou cinco vezes não o liberava de sua obrigação. Há um ditado em inglês: “Você não pode tirar sangue de uma pedra”, mas a incapacidade do ofensor de restituir não servia para livrá-lo. Nesse caso, ele deveria ser vendido por seu roubo, a punição mais assustadora, pois sua servidão duraria seis anos. Só então ele se tornaria um homem livre novamente.
Em todas essas leis e ordenanças, vemos Deus instruindo Seu povo escolhido, Israel, em um caminho correto, tanto para Sua glória quanto para sua bênção no final. Lemos em outro lugar que: “Visto como se não executa logo o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para praticar o mal” (Ec 8:11). Não podemos deixar de sentir que, se os princípios da restituição de acordo com a lei mosaica fossem incorporados à lei hoje, a taxa de criminalidade seria consideravelmente reduzida. As fortes e pecaminosas tendências do homem natural só podem ser refreadas pelo temor da punição apropriada.
No entanto, todos devemos perceber que, sem a graça de Deus, o coração de todos nós é igual. Alguns de nós que crescemos em lares Cristãos tivemos essas tendências perversas reprimidas por uma educação piedosa, mas a natureza pecaminosa não era melhor do que a de qualquer outra pessoa. Por causa de nossos pecados, todos nós contraímos uma dívida que não podemos pagar, e nossa penalidade seria o inferno eternamente. Mas nosso Senhor Jesus Cristo fez a restituição que nunca poderíamos fazer.