Origem: Revista O Cristão – Sal

Jericó — Graça que Cura

“Os habitantes da cidade disseram a Eliseu: Eis que a situação desta cidade é agradável, como vê o meu senhor; mas as águas são péssimas, e a terra é estéril. Ele disse: Trazei-me um vaso novo, e ponde nele sal. Eles lho trouxeram. Então, saiu à fonte das águas, e deitou nela sal e disse: Assim diz Jeová: Curei estas águas; elas não serão mais a causa de morte nem de esterilidade. Ficaram as águas sadias até o dia de hoje conforme a palavra que Eliseu proferiu” (2 Rs 2:19-22 – TB).

Dificilmente há um pecado que o homem seja capaz de cometer que Deus não o tenha mencionado em Sua Palavra; isso mostra o quão profundamente Ele sabia o que estava no homem. Muitos não têm dúvida de que o homem é um pecador, mas a completa inaptidão do homem para com Deus é uma verdade que poucos admitirão. É essa a verdade que este breve registro de um dos milagres de Eliseu, em nome de Jeová, ilustra de forma impressionante.

Sem dúvida, o grande ponto aqui é a prontidão e o poder de Deus, em graça, para trazer cura em Israel, onde tudo é morte e esterilidade. Elias tinha sido a testemunha fiel de Deus contra o terrível afastamento que a nação teve de Deus, mas agora ele tinha subido ao céu, depois de atravessar o Jordão, o rio da morte e julgamento. Eliseu viu isso e sabia qual era o segredo do seu poder. Na primeira atitude de Eliseu depois disso, o encontramos consciente de que Jericó era um lugar de esterilidade e morte. Mas ele sabia também que havia poder em Deus para curar e que quando o povo tomasse sua verdadeira posição de reconhecer tal condição, Ele iria curar. Aqui vemos o homem na sua inaptidão, na sua incapacidade de dar fruto e sem vida espiritual, porque ele está morto em ofensas e pecados.

Esterilidade 

O relato dado ao homem de Deus foi: “A situação é agradável mas as águas são péssimas, e a terra é estéril” (v. 19 – TB). O Sol brilhou sobre Jericó, as chuvas desceram do céu, as estações passaram na sucessão apropriada, mas não havia qualquer fruto. Todos os que passavam, embora percebendo sua localização aprazível, não deixavam de ser atingidos por sua perpétua esterilidade.

Assim é o homem. Suas circunstâncias são muitas vezes agradáveis; ele está cercado de influências gentis, misericórdias providenciais, e incontáveis confortos e vantagens, mas não há vida para com Deus e, consequentemente, nenhum fruto. Os homens têm que aprender que “a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rm 8:7-8). Ele pode ser alguém que apenas professa o Cristianismo, cercado de Cristãos exemplares e exposto à influência de alguns de seus privilégios, mas é infrutífero, como uma figueira estéril. Não há vida; não como alguns a teriam – um pouco de vida e um pouco de fruto. Não, “as águas são péssimas, e a terra é estéril”.

Muitos admitirão que o homem não pode fazer nada a menos que seja auxiliado por Deus, como se tivesse algum poder interior de santidade que só precisa de ajuda. No entanto ele precisa, não da ajuda de Deus, mas da vida pois “aquele que não nascer de novo não pode ver o reino de Deus” (Jo 3:3). E quanto a dar fruto, Jesus ensinou até mesmo Seus discípulos que eles devem permanecer n’Ele, como um ramo permanece na videira, ou eles não poderiam dar fruto. Ele disse: “sem Mim nada podeis fazer” (Jo 15:5).

Em Jericó, então, não era uma questão de cavar, adubar ou irrigar a terra, mas a introdução de algo inteiramente novo. O evangelho da graça de Deus não é uma melhoria da religião dos judeus, mas uma ordem de coisas completamente nova. O evangelho não faz exigências ao homem para ser abençoado, mas traz-lhe livremente tudo o que ele precisa.

Um novo vaso 

O profeta diz: “Trazei-me um vaso novo, e ponde nele sal”. Era algo novo, pois estava atendendo à necessidade em pura graça e, como figura, um novo vaso deve ser trazido. O sal ensina-nos várias coisas. É claro, em primeiro lugar, que “o sal é bom”. Em segundo lugar, tem “sabor” e pode temperar ou conservar. Terceiro, ele devia ser misturado com os sacrifícios: “Em toda a tua oferta oferecerás sal” (veja Lc 14:34; Lv 2:13). Sua virtude, sabor e associação com todas as ofertas nos falam claramente da santa graça de Deus para conosco em Cristo Jesus. “Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5:8).

No entanto, não é o conhecimento da Escritura, mas a sua aplicação à alma que o homem precisa para a cura. Então, lemos que Eliseu saiu “ao manancial das águas e deitou sal nele; e disse: Assim diz o SENHOR: Sararei estas águas; não haverá mais nelas morte nem esterilidade. Ficaram, pois, sãs aquelas águas até ao dia de hoje, conforme a palavra que Eliseu tinha dito” (2 Rs 2:21-22). Observe aqui as duas coisas nesta ilustração que muitas vezes nos são apresentadas na Escritura para a paz e o descanso da alma: a obra de Cristo e a Palavra de Deus. O sal foi aplicado no manancial, e então foi dito: “Assim diz o SENHOR: Sararei estas águas”. O fundamento da paz é a obra de Cristo na cruz, enquanto a única autoridade para a paz é a Palavra de Deus, e, portanto, deve ser apenas sobre o princípio de fé. A Palavra de Deus declara que “todos os que n’Ele (no Senhor Jesus Cristo) creem receberão o perdão dos pecados pelo Seu nome” (At 10:43), e “jamais Me lembrarei de seus pecados e de suas iniquidades” (Hb 10:17). Assim, alguém que toma o seu lugar por fé diante de Deus como um pecador indefeso e culpado, em seguida, olha para Cristo como o objeto da fé, repousa sobre o sangue de Cristo como o fundamento da paz e descansa sobre a inalterável Palavra de Deus como a autoridade para a paz. Os pecadores são purificados de todo pecado, são justificados de todas as coisas, são filhos de Deus e têm “paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo”. Cristo agora está ressuscitado e à direita de Deus na virtude do que Ele fez na cruz por nós, e Ele enviou o Espírito Santo, “para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus” (1 Co 2:12).

C. H. Mackintosh (adaptado)

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