Origem: Revista O Cristão – Jonas
Jonas – Uma Figura de Israel
O Livro de Jonas é profético em seu caráter, mesmo que não contenha discursos proféticos como encontramos em Isaías e Ezequiel. O Cristo que estava por vir é claramente prenunciado nos três dias que Jonas esteve na barriga do peixe, e a história de Israel pode ser claramente percebida na desobediência do profeta e seus resultados para si mesmo e para os outros.
Era uma grande honra para Jonas ser selecionado para levar a mensagem de Deus para Nínive, a imponente capital da maior potência da Terra em seus dias. Jonas deveria ter se esforçado para entrar nos pensamentos de Jeová a respeito deste assunto, para que ele fielmente O representasse em meio às trevas pagãs. Nisto o profeta falhou da maneira mais miserável. Da mesma forma, a nação de Israel foi divinamente escolhida para ser o canal de Deus para a benção de todos os povos da Terra. “Vós sois as Minhas testemunhas, diz o SENHOR, e o Meu servo, a quem escolhi” (Is 43:10). Aquele que lê o Velho Testamento, mesmo da maneira mais superficial, não pode deixar de perceber que Israel ocupava o lugar central naquele momento. Aproximadamente quatro séculos depois do dilúvio, quando todas as recém-formadas nações se renderam à idolatria, Deus chamou a Abrão e o abençoou, mas isto tinha em vista uma benção universal. “E em ti serão benditas todas as famílias da Terra” (Gn 12:3). Esta palavra foi confirmada e expandida depois da oferta de Isaque: “e a tua semente possuirá a porta dos seus inimigos; E em tua semente serão benditas todas as nações da Terra” (Gn 22:17-18).
Um modelo a seguir
Nunca foi pretendido que este suprimento grandemente favorecido fosse exclusivo. Até mesmo seu santuário deveria ser chamado de “casa de oração para todos os povos” (Is 56:7). Não parece que Israel deveria ser um povo missionário, propagando de maneira sincera o que eles sabiam sobre o único e verdadeiro Deus, mas eles certamente deveriam ser um povo modelo. Possuindo leis que eram perfeitas, sendo recebidas diretamente do céu, todos os seus caminhos deveriam ser de grande gozo para Deus e uma repreensão para as nações ao seu redor. Porém, tristemente, eles não foram verdadeiros quanto a sua posição privilegiada de separação para Deus; copiaram os maus caminhos de seus vizinhos, e assim trouxeram para si mesmos uma severa repreensão– “o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós” (Rm 2:24). Será um grande dia para todo o mundo quando Zacarias 8:23 se tornar verdade: “Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Naquele dia, sucederá que pegarão dez homens, de todas as línguas das nações, pegarão, sim, na orla da veste de um judeu, dizendo: Iremos convosco, porque temos ouvido que Deus está convosco”.
Tão certo como a infidelidade de Jonas trouxe a tempestade sobre os marinheiros pagãos, também a infidelidade de Israel trouxe grande aflição sobre as nações em geral, assim como para suas próprias cabeças culpadas. Quando Jeová não mais suportou a iniquidade do povo escolhido, Ele enviou Nabucodonosor para castigar ambos, Seu povo e as nações ao seu redor. Todo o sistema das nações, na qual Israel era o centro estabelecido divinamente, foi quebrado. Assim a semente de Abraão se tornou uma maldição para a Terra e não uma benção.
A paciência de Jeová
A paciência de Jeová tanto para com Jonas quanto para com sua nação é notável. Quão graciosamente Ele argumentou com Seu profeta obstinado! E quão graciosamente Ele suportou a hipocrisia do remanescente judeu desde os dias de Esdras até a vinda do Senhor Jesus! Ainda assim, em plena vista do ódio deles, Ele pediu para que a figueira infrutífera tivesse mais um ano (Lc 13:6-9). Mas o testemunho adicional do Espírito Santo, depois que nosso Senhor retornou ao céu, foi todo em vão, e mais uma vez o povo foi retirado de sua terra e espalhado entre as nações. O lançamento de Jonas ao mar nos tipifica isto. O povo escolhido é agora um povo indesejável e um problema entre as nações. Toda a Terra foi afundada em confusão e desastres por sua terrível transgressão contra o Senhor na qual Israel assumiu a posição de liderança.
A graça de Deus
Mas a transbordante graça de Deus não é restringida pelo pecado do homem; Assim, enquanto Israel continua sem se arrepender, o Espírito Santo está trabalhando entre os gentios, reunindo de entre eles milhares para receberem as bênçãos celestiais. Todos estes estarão em um relacionamento com Cristo como Seu corpo e Sua noiva para sempre. A queda de Israel se transformou em riqueza para o mundo, e sua diminuição, a riqueza para os gentios (Rm 11:12). Enquanto centenas de milhares de pessoas em Nínive estavam regozijando na misericórdia de Deus, Jonas estava descontente e irado. De maneira similar, quando um número de gentios crentes em Antioquia estavam cheios de gozo e do Espírito Santo, os judeus “encheram-se de inveja e, blasfemando, contradiziam o que Paulo dizia” (At 13:44-52).
Uma mudança maravilhosa
Uma grande e maravilhosa mudança está vindo. A cegueira de Israel não é total; quando a plenitude dos gentios for reunida, “todo o Israel será salvo” (Rm 11:25-26), isto significa o remanescente fiel, “Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos” (Rm 9:7). Os rebeldes obstinados serão lançados fora (Ez 20:38). A nação restaurada se levantará diante do mundo como se fosse ressuscitada dos mortos. A visão de Ezequiel do vale de ossos secos nos mostra isso (Ez 37). Daniel 12:2 nos ensina a mesma coisa. Os mortos fisicamente não estão em questão; e sim a nação como tal que é mencionada. Depois de séculos de degradação no pó, eles virão à tona no cenário político mais uma vez (como agora, desde quando Fereday escreveu este artigo). O remanescente fiel irá desfrutar da vida eterna (em condições terrenais), e os rebeldes serão entregues a vergonha e ao desprezo eterno. O reaparecimento de Jonas, depois de ter ficado “três dias no coração dos mares”, é figura disso. Romanos 11:15 e Oséias 6:2 também devem ser lidas neste contexto. Estando, então, no gozo da misericórdia, o povo, diferentemente de Jonas, irá com alegria distribuir benção a outros. O Salmo 67 nos dá sua linguagem de regozijo naquele grande dia. Note as palavras “todos os povos”; “todas as extremidades da Terra”; “Louvem-Te os povos todos”; “cantai ao SENHOR um cântico novo, cantai ao SENHOR toda a Terra” (Sl 96:1). Ai! Jonas não estava disposto a cantar enquanto contemplava a bondade de Deus para com os Ninivitas!
Toda a Terra será completamente abençoada na Aparição do Senhor Jesus, e Israel, completamente limpo do espírito de Jonas, irá se regozijar nisto. Deus será conhecido, não meramente como Criador, mas em Sua fidelidade – Jeová que cumpre Suas alianças. “Assim, Eu Me engrandecerei, e Me santificarei, e Me farei conhecer aos olhos de muitas nações; e saberão que Eu Sou o SENHOR” (Ez 38:23). Este bendito resultado foi alcançado nos marinheiros do navio de Jonas. Eles se converteram de seus deuses vãos, e eles “ofereceram sacrifício ao SENHOR, e fizeram votos” (Jn 1:16).
Quando Israel, depois de anos de oposição contra Deus e Seus benditos caminhos, perceber quão maravilhosamente Ele tem trabalhado, eles irão dizer como o apóstolo, “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis os Seus caminhos!” (Rm 11:33). Em deplorável imitação dos irmãos de José, os judeus intentaram o mau em tudo o que eles fizeram para com Cristo e Seus santos. Mas Deus, em Sua perfeita sabedoria, transformou isso em bem (Gn 50:20). Ele será vitorioso no final, acima de todas as obras do inimigo, e cada propósito de Sua graça alcançará um glorioso cumprimento.
O profeta murmurador
É triste que o livro de Jonas termine com o profeta murmurando fora da cidade, enquanto dentro da cidade havia regozijo e paz. Nisto ele não foi uma figura de sua nação. Na futura era de bênçãos universais, Israel será o centro e coração de tudo isso. Com o Cristo, que outrora foi rejeitado e agora honrado em seu meio, o povo estará feliz e se deleitará em ver todos felizes ao seu redor até mesmo nas partes mais distantes da Terra.
Que o Deus de toda a graça nos conceda toda verdadeira grandeza de coração. Assim poderemos entender e comprovar Seus caminhos e encontrar gozo e proveito n’Ele para nosso coração.
